PALESTRA TÉTRICA

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Um proprietário de comércio de porte na Rua Major Gote percebeu que seus funcionários estavam desanimados no trabalho, sem o patrão perceber que o desânimo provinha de seu pão-durismo, pois a turma vendia horrores e a comissão era do tamanho de uma ervilha. Vai daí que toda semana tinha um ou dois funcionários pedindo conta. E o sovina nem aí, ou melhor dizendo, ele não ligava as coisas. E pensando noutras coisas, resolveu acatar a sugestão de um colega do ramo: promover uma palestra motivacional aos empregados. Que fique muito bem claro que o muquirana resolveu tirar dinheiro do bolso só porque o palestrante é primo do colega de comércio e foi bonzinho cobrando um preço de xepa de feira. Para economizar, o mão de vaca conseguiu emprestado com um parente dono de distribuidora de bebidas as cadeiras necessárias para a reunião, que seria realizada na espaçosa loja após o expediente. Ora, ora, gastar dinheiro alugando locais próprios para palestras? Nunca!

Na fatídica noite, compareceram mais ou menos 50 pessoas, entre empregados e familiares. O palestrante ia garboso conseguindo manter a plateia atenta em suas palavras. Para demonstrar ao contratante que estava ao lado o seu poder de convencimento, o profissional, que domina a arte do hipnotismo, pediu silêncio total, apontou o dedo indicador em riste paras os presentes, encarou-os com cara de mau e falou em alto e bom som:

– Dormir!

Imediatamente todos caíram no mais profundo sono. O avaro ficou embasbacado. E mais embasbacado ficou quando o palestrante bradou:

– Rir!

Foi tanta risada que até o unha de fome gargalhou como nunca antes havia gargalhado, só parando porque sentiu a vibração do celular. Alguém precisava urgentemente falar com o palestrante. Enquanto a turba molhava o piso com as risadas, o da palavra, com certeza absoluta, recebeu uma notícia nada agradável. Tanto que, pensando alto, soltou um clamoroso merda que deu para ouvir lá no Caiçaras. Foi tétrica a consequência da palavra dita.

Dizem que a loja ficou fechada para “balanço” durante uma semana, até que tiveram a certeza absoluta de que não havia mais nenhum indício de material orgânico indesejável e, primordialmente, nenhum resquício de catinga.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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