DOURADO NA LINHA 0,15

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Será que algum pescador já conseguiu fisgar e retirar da água um Dourado (Salminus maxillosus) de 15 kg com uma varinha de bambu fininha, linha 0,15 e anzol mosquitinho? Para desespero da turma da pesca, eu já cometi esta façanha, acontecida na porção do Rio Paranaíba que corta a fazenda do meu amigo Manezinho Mendonça, na localidade de Porto Canoas. Pobre Rio Paranaíba que já foi, como todos os rios próximos ou nem tanto de Patos de Minas, muito piscoso, com mais água e imensa variedade de peixes.

Naqueles tempos em que Mandi de um palmo, Dourado de dois e Surubim de três palmos a gente rejeitava e devolvia ao rio, lá estava eu com a tal varinha de bambu bem fina, linha 0,15 e anzol mosquitinho, minúsculo, no intuito de fisgar alguns Lambaris para usá-los como iscas vivas, quando tive a sensação de que o anzol havia agarrado num garrancho. A cada pequeno tranco a linha cedia um pouquinho e logo voltava a pressão. De repente, a imensa surpresa: surge à tona a cabeça de um Dourado, imensa. De tranco em tranco fui puxando o peixe até o barranco, até ele ficar pranchado na margem. Um tranco final e eis que o Dourado praticamente saltou do rio e caiu a meus pés.

Foi a prova irrefutável de que pescador não mente, e sim tem uma sorte do tamanho do mundo. Estava lá o anzol minúsculo com um minúsculo pedacinho de minhoca nas entranhas do Paranaíba. Pelas redondezas, um Dourado de 15 kg (sim, foi pesado lá na fazenda com aquela balança portátil de gancho) caçava seu jantar. De bocarra aberta ele sondava o ambiente. E nem reparou naquele minúsculo anzol. Ele foi em frente quando o minúsculo anzol agarrou em um de seus dentes. Acontece que este fatídico dente tinha uma baita cárie, já na raiz, caso para qualquer dentista fazer canal. Quando o anzolzinho cravou a sua ponta afiadíssima no cerne da cárie, eis que o Dourado travou. Literalmente ele ficou paralisado. E a cada tranco que eu dava, a dor era tanta que o peixe cedia. Até que ele chegou à margem. E no último tranco, a dor foi tanta que ele pulou para o barranco para afrouxar a linha.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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