Reuniram-se para comemorar o aniversário do Fabiano, garotinho filho do pecuarista e suinocultor Adilson Rezende na residência deste, os amigos Dr. Tarcísio Nunes, Dr. Cristiano Viana e outros parentes. O Adilson falava entusiasmadamente de seu plano de produzir várias toneladas de peixes, abarrotando a cidade de tilápias nilóticas, carpas gigantes, etc. Tendo construído dez tanques enormes, além de outros menores para criação de peixes ornamentais, esperava grande resultado, na mais moderna piscicultura. Assim, entre copos de geladinha, salgados deliciosos e doces finos, o entusiasmo era contagiante.
O Dr. Tarcísio relatou suas aventuras de novel pescador em companhia do Dr. Cristiano, Dr. Paulo César e outros craques.
– Olha, gente, eu bem me recordo do fabuloso moleque que deve ter pesado para mais de 60 quilos!
Foi quando o Adilson, não resistindo a tentação, atalhou:
– Por favor, não entendi bem: quantos quilos?
O conhecido otorrinolaringologista, achando que de fato estava exagerando remendou:
– Isto é, é o que se calcula, pois, já era noite fechada e não tínhamos balança na beira do Rio Preto.
O Dr. Cristiano deu uma risada daquelas altas e estrondosas, e entrou na conversa.
– Vou contar para vocês a mais incrível das façanhas que já presenciei em minha vida de pescador e não é lorota não, viu? – é a pura verdade e está aí meu pai, José Viana, que não me deixa mentir.
Foi lá no Rio das Velhas, na fazenda do meu avô, na cidade de Corinto, quando eu ainda era garoto, meus 15 anos. Saí com papai e um empregado nosso, com muita prática em pescadas e caçadas para apanharmos alguns piaus numa ceva. Depois de algumas horas de tentativa, desistimos da tarefa. Durante a volta papai lamentava constantemente – “Estamos com azar, mesmo! Este rio não é tão ridículo assim, etc., etc.
Já perto na nossa sede, ao passarmos por uma corredeira, um peixe grande risca as águas perto da canoa de um modo estranho e salta dentro da embarcação, dando um banho em nós todos. O capataz berrou entusiasmado: – “É um dourado adubado, minha gente!”. O dito cujo emitia sons parecendo tosse humana e ansiado, batia a cabeça por todos os lados. Alguém lembrou de lançar uma tarrafa sobre o animal, contendo-o, antes que saltasse na água. Ao chegarmos em casa tiramos a tarrafa para que todos vissem o peixão. O danado salta violentamente para o cerrado como um doido. Depois de imobilizado fomos limpá-lo, quando encontramos um tatu bem vivo na sua barriga, rasgando por todos os lados. Isto explicou claramente por que o coitado estava tão tresloucado.
Todos os presentes gargalharam a valer. O Dr. Tarcísio talvez tenha interpretado mal o seu colega, porquanto, levantou-se calmamente, agradeceu à Helga e Adilson tanta coisa boa que comeu, um beijinho no Fabiano e saiu com essa:
– Colega Cristiano, desde que você me ensinou a pescar, tenho sido seu admirador, mas esta não deu pra entender, não!
* Fonte: Texto publicado sem título na coluna Todo Pescador Mente da edição de 10 de outubro de 1980 do jornal Boletim Informativo do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Muraljoia.com.br.