ANUNCIADO O FIM DO CINE RIVIERA – 2

Postado por e arquivado em HISTÓRIA.

Os patenses que gostam de cinema já podem prevenir o espírito para uma triste realidade. Dentro em breve, Patos de Minas deverá perder a única sala de exibição existente na cidade. O tradicional Cine Riviera¹ se prepara para fechar suas portas, colocando um ponto final nos seus 31 anos de atividades dedicadas à sétima arte. O proprietário do Cine Riviera, Mário Garcia Roza, já colocou o prédio à venda. Proposta neste sentido foi encaminhada à diretoria do Patos Social Clube, na qual o imóvel foi avaliado em R$ 1,5 milhão. Além do imóvel, com área de 1.315 metros quadrados, a proposta inclui também 960 poltronas estofadas, cabine cinematográfica com dois projetores e duas linhas telefônicas. A forma de pagamento prevê parcelas de 33% em 10 de agosto, 33% em 10 de fevereiro de 1996 e mais 34% em 10 de agosto do mesmo ano. Ainda não há informação oficial quanto a manifestação do Patos Social Clube em relação à compra do imóvel. De qualquer maneira, o proprietário do Cine Riviera já admitiu que não pretende mais manter o funcionamento do cinema, devendo recorrer a outros compradores não caso de não fechar negócio com o clube.

Motivos não faltam para que Mário Garcia Roza mantenha sua decisão de desativar o Cine Riviera, a exemplo do ocorrido com o antigo Cine Garza², também de sua propriedade, fechado no início dos anos 80. Nos últimos anos a empresa vem registrando uma queda brutal no volume de público que freqüenta o cinema. O mesmo fenômeno é observado em outras cidades do estado e até mesmo na capital. Várias salas já foram fechadas em Belo Horizonte e, atualmente, apenas 23 cidades do interior de Minas ainda dispõem de cinema. A causa principal deste fenômeno é atribuída ao advento do videocassete. As pessoas já perderam o costume de irem ao cinema porque bastam passar numa locadora e alugar os filmes de suas preferências. Na maioria das vezes, os últimos lançamentos em filmes são encontrados em fita, proporcionando os espectadores assisti-los sem sair de casa. Por este fato, a tendência de esvaziamento do público nas salas de exibições cinematográficas é cada vez maior, o que justifica plenamente a desativação de cinemas que vem acontecendo em todo o país.

PASSADO – Longe se vai os tempos em que Patos de Minas contava com um grande público fiel as exibições de filmes na cidade. A história do cinema no município começou em 1913. Os mais antigos ainda lembram das fitas projetadas pelo Coronel Artur Tomaz de Magalhães, no Cinema Magalhães³, que funcionava na Av. Getúlio Vargas, onde posteriormente foi construído o prédio da Rádio Clube4. Na época do cinema mudo ele proporcionava aos patenses a única opção do ramo, atraindo, inclusive, um grande número de pessoas das cidades vizinhas e zona rural. Em 1930 existia o Cine Teatro5 (posteriormente Cine Glória), na Rua General Osório, onde atualmente encontra-se a loja Móveis Carvalho. Depois veio o Cine Tupan6, na década de 40. A saída do antigo Cine Tupan ficava exatamente onde está o Café Cremoso. Também havia o Cine Olinta, inaugurado em 1948, no auditório da Rádio Clube7, sendo muito bem freqüentado durante o período de sua existência. Há quem se lembre ainda do Cine Brasil, instalado na Praça dos Bandeirantes, com sessões periódicas para uma platéia bastante representativa. Na década de 40 a população de Patos de Minas contava também com o chamado “Cinema Grátis”. Por iniciativa de Miguel Braga, os filmes eram apresentados em sessões públicas que aconteciam alternadamente em pontos diversos da cidade. O lucro era obtido através de propagandas veiculadas antes do início dos filmes projetados por Miguel Braga.

A eminente desativação do Cine Riviera vem colocar uma pá de cal no passado cultural de Patos de Minas, fechando as cortinas de um tempo em que o cinema era o ponto de encontro da sociedade. São os tempos modernos, tão bem retratados por Charles Chaplin (mestre da sétima arte) que, cada vez mais, distanciam as pessoas e as enclausuram dentro de si mesmas.  Pode não ser o fim do cinema, mas certamente este enredo tem o sabor de “The End” de um filme infeliz.

* 1: Leia “Anunciado o Fim do Cine Riviera – 1”, “Cine Riviera”, “Cine Riviera é Consumido Pelas Chamas – 15/12/1998”.

* 2: Leia “Garza e Riviera”.

* 3: Leia “Cine Magalhães”, “Primeira Notícia Sobre o Cine Magalhães”, “Testadas as Máquinas do Cine Magalhães Antes da Inauguração”, “Endereço Misterioso do Cine Magalhães 1 e 2”.

* 4: Na verdade, o prédio foi construído por Abner Afonso de Castro em 1948 para abrigar o Cine Olinta. Somente em 1959 é que a Rádio Clube de Patos ocupou o prédio.

* 5: Leia “Cine Glória”.

* 6: Leia “Cine Tupã”.

* 7: Reforçando, o prédio onde funcionou o Cine Olinta foi construído por Abner Afonso de Castro em 1948. A Rádio Clube de Patos ocupou o prédio em 1959. Então, não foi o Cine Olinta que ocupou o auditório da Rádio Clube de Patos, e sim o contrário.

* Fonte e foto: Texto publicado com o título “The End” e subtítulo “Cine Riviera será desativado” na edição de abril/1995 da revista Diga, do arquivo de Luis Carlos Cardoso.

Compartilhe