THEREZINHA COUTO DE OLIVEIRA CORREA

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Nasceu em Bom Despacho/MG no dia 25 de setembro de 1927. Seus pais: Gervásio Cardoso de Oliveira e Olímpia Maria do Couto. Sempre se destacou como uma aluna exemplar com dotes para as artes. Nesta oportunidade entre 1943 a 1945 foi para o Rio de Janeiro fazer um curso de artes. No ano de 1948 e 1949 foi aluna do Professor Guignard, em Belo Horizonte, sendo da primeira turma da Escola que leva o seu nome. Therezinha mudou-se para a cidade de Patos de Minas em 1952, aqui morando até 1979. Ainda solteira organizou na casa de seus pais ao lado da Rádio Clube de Patos uma escola de pintura. Começou com 4 alunas. Casou-se em 1956 com José Correa Loureiro, família muito conhecida em Patos por serem os fundadores da Casa de Saúde de Imaculada Conceição dos doutores Benedito e Paulo Correa Loureiro. Tiveram 4 filhos: Amélia, José, Olímpia e Lúcia.

Como professora de pintura em Patos de Minas, desenvolveu durante 25 anos um extraordinário trabalho, ensinando, aprendendo, descobrindo valores, incentivando os talentos e novos artistas. As artes plásticas encontraram em sua pessoa a mestra sensível, carismática e entusiasta, que consolidou com todos que a procuravam o amor pela arte. Muitos artistas se destacaram através de suas mãos abençoadas, com a palavra amiga e muita vontade de passar seus conhecimentos. O importante é que qualquer um podia estar naquela escola. Velhos, novos, jovens, crianças, vizinhos. Sempre com ar de alegria passava para seus alunos o que aprendeu na escola da vida.

Muito devemos a esta mulher! Mesmo distante não perdemos o relacionamento porque ela nos deixou, mudando-se para a capital mineira na década de 1980. Tivemos o prazer de compartilhar desta alegria como aluna ainda muito jovem, mas com vontade de aprender. Dentre as alunas destaco algumas colegas: Ivalda Alves, Déa Fonseca, Marisa Satiro, Marta Tredezini, Maura Monte, Diná Boaventura, Lia Diógenes, Ivone Magalhães, Madalena Bicalho, Margarida Malheiro e muitas outras, num total de 120 alunas conforme pesquisei. No decorrer do tempo, muitas alunas chegaram ainda jovens: Arminda Carvalho, Walda Queiroz, Nice Garcia, Lúcia Di Donato e eu, Marialda Coury. Ela foi uma pessoa maravilhosa! Tudo que tenho e conquistei devo a ela por ter me incentivado a dedicar uma parte da minha vida a arte da pintura!

A MESTRA CHEGA A PATOS DE MINAS

Na década de 1950 chega a Patos de Minas, vinda de Belo Horizonte, a mais nova aluna de Alberto da Veiga Guignard: Therezinha Couto de Oliveira Correa. Terezinha organizou na residência de seus pais Gervásio e Olímpia, na Avenida Getúlio Vargas ao lado da Rádio Clube de Patos a sua primeira turma de pintura: “Em nossa casa havia nas paredes da sala alguns quadros pintados por mim. Eu ficava admirada com o interesse que eles despertavam nas pessoas que nos visitavam! Um dia Ivalda Alves me pediu que lhe desse aulas de pintura, pois desejava muito aprender. Sou apenas uma principiante, não saberia como ensinar. E assim nasceu a Escolinha de Artes, na nossa casa, a lado do Cine Olinta, hoje a Rádio Clube. Novos alunos vieram, e fomos crescendo aos poucos, tomando gosto pelo trabalho, descobrindo novas formas, novas técnicas, novos estilos, viajando pelo mundo inesperado de emoções gratificantes, superando dificuldades. Pelo apoio e pela força que todos deram não nos faltou coragem e entusiasmo para continuarmos por todos estes anos, desde o longínquo 1953, com algumas pequenas interrupções de minha parte, por motivos particulares. Quanto aos frutos deste trabalho não há dúvida, pois Patos de Minas é hoje um rico celeiro de artistas em todos os setores. As artes são um poderoso meio de elevar o espírito aprimorar a sensibilidade refinar o gosto estético, abrir os olhos e enxergar para mais além do nosso redor, despertar desejos de sondar o desconhecido, descortinar com alegria e coragem, novas fronteiras, quebrar a ferrugem da rotina. A nossa escolinha de artes tão humilde, foi uma janelinha”.

OBRAS MAIS IMPORTANTES NA CIDADE

– Cristo Crucificado da Catedral de Santo Antônio, hoje deslocado para a Igreja São Benedito, Bairro Jardim Califórnia. Feito na década de 1970 juntamente com a aluna Déa Neto da Fonseca.

– Confecção de carros alegóricos – 3ª Festa do Milho – 1961 e outras participações.

– Capas de vários livros dos escritores Antônio de Oliveira Mello (15), Ricardo Rodrigues Marques, Agenor Gonzaga, D. José André Coimbra; Receitas Tradicionais, Volume II – Rotary Clube Patos de Minas/Casa da Amizade

– Em destaque: Capa: Festa do Milho – 25 anos – Jubileu de Prata-1983. Fotos de várias pessoas e personalidades da cidade e região. Era a sua especialidade. Todos apreciavam o trabalho perfeito e queriam uma tela para registro desta arte. Galeria dos Prefeitos de Patos de Minas (Gestão: Dácio Pereira da Fonseca).

– Desde o início da nossa Festa maior a mestra e alunas sempre participaram com as belas Exposições. Os quadros faziam sucesso, além da alegria de cada uma ao ver seu trabalho exposto. Foram muitas exposições, em bancos, lojas ou mesmo locais onde se conseguia um bom espaço. A primeira em registro, aconteceu no ano de 1968 na 10ª Festa Nacional do Milho na antiga sede do Banco da Lavoura.

HOMENAGENS DE RECONHECIMENTO EM VIDA

Homenagem da Prefeitura e Câmara Municipal – inauguração da Galeria dos Prefeitos de Patos de Minas; Título de Cidadã Patense – Câmara Municipal de Patos de Minas – 1987; Nas edições dos livros: Patos de Minas Cidade do Milho – Edição Histórica – Marialda Coury – 2002; Mãos que fazem – 30 anos da Escolinha Marialda Coury – 2003; A Festa Nacional do Milho através dos tempos/Jubileu de Ouro/2008 – Marialda Coury; Comenda Terezinha Couto – 25 anos da UNART, medalha conferida a artistas da cidade na gestão da presidente Janaína Braga.

O TÍTULO HONORÍFICO DE CIDADÃ PATENSE

Através do decreto do Legislativo nº 007/87 de 11/08/87 de autoria do vereador Sílvio Gomes de Deus, lhe foi conferido o título de “Cidadã Patense” com solenidade na Sociedade Recreativa Patense, no dia 26 de setembro de 1987.

DISCURSO PRONUNCIADO EM NOME DA UNART E DAS ALUNAS

Prezada Dona Therezinha,

Coube-me dirigir-lhe a palavra, neste momento solene, em nome de suas alunas, para expressar a nossa alegria em recebê-la de novo entre nós. Nada mais justo que este título, que hoje lhe é outorgado, em reconhecimento por todos os anos de trabalho dedicados à nossa cidade. O gosto pela arte, pela pintura que a senhora tão bem transmitiu a todas nós, permanece e se fortalece a cada dia. O seu trabalho continua se multiplicando através de cada uma que tentamos seguir os seus passos, incentivando e descobrindo novos valores artísticos em salas de aula. A semente que foi plantada, com tanto amor, caiu em terreno fértil, deu bons frutos e se multiplicou através dos anos. Nenhuma de nós se esqueceu de suas aulas, dos primeiros desenhos, das primeiras pinceladas e da alegre convivência com as colegas. Algumas estão distantes, outras já se foram, mas nunca esquecemos de sua bondade, e seu incentivo para galgar estas etapas da arte tão difíceis de serem compreendidas. Mais de 125 alunas passaram em suas mãos e hoje sabem que a senhora é a mais nova filha de Patos de Minas. É por isto que estamos felizes num reencontro de amigos, na homenagem à amiga maior. Na oportunidade, queremos cumprimentar o vereador Sílvio Gomes de Deus, pela feliz ideia deste título. A cultura de Patos de Minas se enriquece com esta homenagem. Agradecemos a presença dos familiares e amigos da homenageada que aqui vieram se unir aos nossos aplausos. A UNART (União dos Artistas Plásticos de Patos de Minas), entidade que congrega a nossa classe, se une neste momento para abraçá-la, pois somos uma família unida, sempre procurando desenvolver um grande trabalho que começou através de seu estímulo. Dona Therezinha mestra querida, leve da nossa cidade que agora também é sua, a homenagem, a gratidão e a amizade sincera de todas nós. Muito obrigada!

Marialda Coury-Presidente da UNART.

AS PALAVRAS DA MESTRA

Autoridades presentes, queridos ex-alunos, meus amigos, minha família. Quando o Presidente do Legislativo patense, Sílvio Gomes de Deus, a quem, particularmente agradeço, ligou-me em Belo Horizonte, comunicando-me que, atendendo a um projeto seu, a Câmara municipal aprovara por unanimidade, outorgar-me o título de Cidadã Patense meu velho coração quase não resistiu à tamanha surpresa e tanta felicidade! E agora que acabo de ser agraciada com a inaudita horaria do título de Cidadã Patense, o que os meus quatro filhos têm a felicidade de ser por nascimento, não posso deixar de recordar os idos de 1952, quando com meus pais e irmãos, aqui chegamos de mudança. Era bem pequena esta cidade mas, já progressista, terminava de colocar o asfalto nas ruas centrais. Era servida por transporte aéreo, e, corajosos pioneiros, faziam regularmente, a duras penas, o transporte rodoviário até Belo Horizonte. Meus olhos se encantaram com a topografia e o traçado da cidade enquanto que meu coração se tomou de afeto pelos seus habitantes que, com uma grande generosidade, carinho e simplicidade, nos receberam em seu meio. Assim desde os primeiros dias, nos sentimos à vontade, como fossemos desde sempre, patenses. E cá, bem no mais íntimo de meu ser, eu tive a certeza de que esta seria para sempre, por eleição minha, a “minha cidade” predileta. Naquela época era diretora do Grupo Escolar Dr. Marcolino de Barros, Dona Cecíldia Tibúrcio, que, mesma demonstração de confiança à minha pessoa, convidar-me a preencher a vaga de uma professora. Mais por gratidão àquela diferença, aceitei o convite e tornei sua amiga e admiradora de sua capacidade e dedicação à frente daquele educandário. Aí travei novos conhecimentos e em pouco tempo tinha uma porção de amigos e colaboradoras. Em nossa casa havia, nas paredes da sala, alguns quadros pintados por mim e eu ficava admirada com o interesse que eles despertavam nas pessoas nos visitavam! Um dia Ivalda Alves me pediu que lhe desse aulas de pintura, pois desejava muito aprender. Sou apenas uma principiante não saberia como ensinar-lhe, respondi-lhe. Mas, tantas e tantas vezes ela insistiu que um dia acabei por lhe dizer: – Se você trouxer mais quatro colegas, vou tentar passar para vocês o pouco que sei. E assim nasceu a nossa escolinha de artes na nossa casa, ao lado do “Cine Olinta” (hoje Rádio Clube) na Av. Getúlio Vargas. Novos alunos vieram e fomos aos poucos, crescendo, tomando gosto pelo trabalho, descobrindo novas formas, novas técnicas, novos estilos, viajando pelo mundo inesperado de emoções gratificantes, superando dificuldades. Contamos sempre com o apoio e o incentivo dos pais dos alunos, das autoridades, do comércio, dos amigos, enfim de toda a comunidade. Podíamos sentir de maneira incontestável e de fato, este apoio, em suas presenças animadoras, nas nossas exposições adquirindo peças, encomendando novos trabalhos. Assim o nosso conhecido e competente escritor Antônio de Oliveira Mello, confiou-nos capas e ilustrações de seus livros, retratos dos familiares e dos amigos e quadros da antiga Paracatu, e, muito nos ajudou a crescer, com sinceridade de suas críticas. Pelo apoio e pela força que todos nos deram, não nos faltou coragem e entusiasmo para continuarmos por todos estes anos, desde o longínquo 1953, com algumas pequenas interrupções de minha parte, por motivos particulares. Quanto aos frutos deste nosso trabalho não há dúvida, pois Patos de Minas é hoje um rico celeiro de artistas em todos os setores, artesões competentes, com trabalhos espalhados e apreciados pelo Brasil afora e alguns até no exterior! As artes são um poderoso meio de elevar o espírito, aprimorar a sensibilidade, refinar o gosto estético, abrir os olhos e enxergar para mais além do nosso redor, despertar desejos de sondar o desconhecido, descortinar com alegria e coragem novas fronteiras, quebrar a ferrugem da rotina. A nossa “escolinha de artes” de origem tão humilde, foi uma “janelinha” que se abriu para além destes horizontes e permitiu à família patense, vislumbrar possibilidades maiores e mais amplas, empreender caminhadas, buscar novos tipos de vida, cursar universidades! Quantos arquitetos, engenheiros, médicos, dentistas, decoradores, artistas em geral etc., etc. temos hoje aqui e fora que são motivos de júbilo e orgulho para todos e para cada um de nós? Acima porém de toda esta glória está a chamada amizade e do amor fraterno que nos une e que, para muito além do que eu poderia sonhar, concede-me agora, a graça de ser, como vocês, e como meus filhos, Cidadã Patense de fato e de direito! Com toda a emoção, ao Dr. Sílvio Gomes de Deus, à Câmara Municipal, aos meus queridos ex-alunos que são a minha glória e a minha alegria, à nossa valorosa revista “Debulha” na pessoa de seu responsável Dr. Dirceu Deocleciano Pacheco à minha família com quem divido esta horaria. A todos que aqui me honram com a sua presença os meus melhores agradecimentos, o meu muito obrigada. Tenho dito.

Therezinha Couto Oliveira Corrêa Patos de Minas, 26 de setembro de 1987.

Esta homenagem compartilho com todos que a amavam! Os artistas patenses choram a sua partida! Dona Therezinha Couto faleceu aos 89 anos, na cidade de Belo Horizonte, no dia 2 de dezembro, onde foi sepultada. Choramos a sua partida! Ela deixa um grande legado: foi a responsável pela formação de muitos artistas desta terra desde que aqui chegou na década de 1950. Dedicou toda uma vida à sua família, além de ensinar arte durante 25 anos na sua escola em Patos de Minas, cidade que ela muito amou. É a maior responsável pela formação de vários artistas da cidade, que um dia tiveram a alegria de receber seus ensinamentos. Os nossos sentimentos de pesar na pessoa de seus filhos e netos. Será sempre lembrada por todas nós como exemplo de MULHER, MÃE e ARTISTA.

* Fonte e foto: Texto de Marialda Coury publicado na edição de 10 de dezembro de 2016 do jornal Folha Patense, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam. .

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