1.º JORNAL – O TRABALHO

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4Corria o ano de 1903 quando Antônio Nogueira de Almeida Coelho, bacharel em Direito, chegou à cidade de Patos a fim de assumir o cargo de Juiz de Direito Substituto da Comarca, para o qual fora nomeado meses antes. Natural de Conselheiro Lafaiete, então conhecida como Sant’Anna do Morro do Chapéu de Catauá, já tinha em seu currículo a participação em dois periódicos de Ouro Preto, além de constante colaboração em outros órgãos da imprensa paulista.

Apesar de circunstâncias desfavoráveis, o recém-chegado passou a alimentar o desejo de lançar um jornal na cidade. Sendo assim, após alguns meses de permanência em Patos, e já então funcionando como Promotor de Justiça da Comarca, começou a planejar o lançamento de uma publicação onde pudesse satisfazer sua vocação jornalística. Num encontro com Fortunato Pinto da Cunha, residente em Tiros e editor-calígrafo do periódico O Filho do Bosque, daquela cidade, nasceu a idéia que deu origem ao primeiro órgão de imprensa de Patos de Minas.

Nas reuniões entre os dois ficou decidido que o jornal seria impresso em quatro páginas de tamanho tablóide em mimeógrafo manual e papel especial adquirido sob encomenda na cidade do Rio de Janeiro, mesma providência a ser adotada em relação à compra do restante do material necessário.

Com o perfil do periódico definido, a primeira edição chegou às ruas em 15 de agosto de 1905. No editorial, o Dr. Antônio antecipava a orientação que pretendia dar ao jornal recém-nascido, deixando claro, porém, que ele e o sócio anteviam as dificuldades que precisariam superar dali para frente. E certamente, foi nessa premonição que ele encontrou inspiração para escolha do título pelo qual a nova criação literária seria identificada daquela data em diante: O Trabalho.

Pela programação acertada por seus fundadores, o tablóide deveria circular de dez em dez dias, custando a assinatura anual cerca de cinco mil réis e a semestral três mil réis. Não havia venda avulsa. Exemplares foram encaminhados a cidadãos da sociedade patense e região, relacionados em listagem que incluía o nome dos moradores considerados como possivelmente interessados no recebimento da publicação, mediante o pagamento da assinatura. E na primeira página havia uma nota interessante: “As pessoas que não quiserem assinar a nossa folha, farão o favor de devolver o primeiro número que receberem”.

Mesmo com as limitações da época e a dificuldade de “encontrar notícias” que despertassem o interesse dos leitores, o jornal continuou circulando conforme a programação. A partir do 13º número, preocupados com o recebimento das assinaturas, fator vital para a sobrevivência do jornal juntamente com a receita oriunda de publicidade, os sócios passaram a publicar o “Álbum de Ouro”, que nada mais era senão uma relação dos nomes dos leitores que haviam efetuado o pagamento de suas respectivas assinaturas. É graças a essa pequena nota que se fica sabendo que o então vereador Daniel Alves Belluco foi o primeiro cidadão patense e pagar a assinatura de um jornal escrito e impresso em sua própria cidade.

As várias dificuldades fizeram com que o jornal fosse interrompido por alguns meses. Quando voltou, justificando-se com o pouco rendimento das assinaturas, os proprietários avisavam que a publicação passaria a ser feita três vezes por mês. Piorando em muito a situação, em 29 de abril de 1907, acontece uma tragédia: aos 31 anos de idade, Antônio Nogueira de Almeida Coelho foi morto a tiros. Mesmo assim, invariavelmente, o jornal circulou semanalmente até 30 de novembro de 1907, quando foi obrigado a interromper, por falta de papel e outros materiais. Já a 20 de janeiro de 1908, quando voltou a circular, o responsável avisava: “achamo-nos agora munidos de materiais para publicar o nosso jornal, ininterruptamente, por mais de um ano e só por motivos imperiosos deixaremos de o fazer”. Assim foi até 1909, quando fechou as portas novamente. Depois de 12 anos fora de circulação, Fortunato Pinto da Cunha o reanima em 1921, já impresso e com redatores diversos. Viveu mais um ano e fechou definitivamente as portas.

“O Trabalho” marcou época na imprensa interiorana do Alto Paranaíba e movimentou a nossa terra, sendo, para a ocasião e para o progresso de nossa terra, um jornal noticioso e atual, dentro das características da imprensa periódica do país.

* Fontes: O Trabalho, de Fernando Kitzinger Dannemann; Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca; Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello.

* Foto: Capa da edição n.º 1 do jornal, de 15 de agosto de 1905, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

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