O Advogado Antônio Nogueira de Almeida Coelho, originário de Conselheiro Lafaiete, chegou a Patos – sem ainda o “de Minas” – em 1903 para assumir o cargo de Juiz de Direito da Comarca. Com experiência na fundação de pelo menos dois periódicos em Ouro Preto, além da constante colaboração em outros órgãos de imprensa editados na cidade de São Paulo, onde se formou, o recém-chegado ouviu de muita gente importante que alguns municípios mineiros menos progressistas que Patos já tinham jornal próprio. Antônio não se conformou com tal situação. Passou, então, a alimentar o desejo de editar um jornal na cidade. Foi quando o destino providenciou para que Fortunato Pinto da Cunha, residente em Tiros e editor do jornal local O Filho do Bosque, entrasse em contato com ele. Nesse encontro a ideia começou a ser transformada em realidade.
O Médico Veterinário patense Eitel Teixeira Dannemann voltou a residir na cidade natal em 2005. Durante pouco mais de cinco anos fazendo atendimentos domiciliares a pequenos animais de companhia, quando teve a oportunidade de transitar por todo o espaço urbano, percebeu que possuía parcos conhecimentos históricos sobre Patos de Minas. Por mera curiosidade, passou a pesquisar. Deparou-se, então, com duas dificuldades: falta de tempo durante o horário útil, quando o museu e entidades culturais funcionam, e sites respectivos com pouquíssima informação e totalmente desatualizados. Em rodas de bate-papo, ouviu de vários cidadãos que Patos de Minas precisava de algo mais substancial, mais sério e que estivesse virtualmente ao alcance de todos. Eitel não se conformou com esta lacuna numa cidade da grandeza de Patos de Minas: em plena era da tecnologia não ter disponibilizado num site o maior número possível de informações sobre o nosso Passado. Continuou, dentro do possível, buscando informações, e a cada dia lhe crescia a intenção de criar um site onde pudesse disponibilizar aos interessados os conhecimentos adquiridos. Foi quando o destino providenciou para que o pai de Eitel, Fernando Kitzinzer Dannemann, o convidasse a publicar o que já tinha pesquisado em seu site, o EFECADE, um espaço de conhecimentos gerais. Nesse convite a ideia começou a ser transformada em realidade.
OS PLANOS
Sendo excelente calígrafo, capaz de traçar de forma artística e bem cuidada diversos padrões de letras, Fortunato assumiu a responsabilidade de dar corpo e forma ao que pretendiam. Os dois jornalistas procuraram definir o perfil do jornal em gestação, e combinaram que ele teria circulação de dez em dez dias, redigido à mão e impresso em mimeógrafo manual, em papel especial adquirido no Rio de Janeiro. A maior preocupação dos editores estava relacionada com o conteúdo informativo da publicação, ou seja, com o material de leitura que deveria preencher suas quatro páginas em tamanho tabloide. O que escrever para despertar a atenção e o interesse do leitor? Decidiram dar tempo ao tempo, na medida em que as edições fossem se sucedendo.
Eitel já possuía muito material a ser publicado, entre fotos e notícias de jornais e revistas, conseguidos em exaustivas pesquisas quando o tempo lhe permitia. Era necessário estabelecer o perfil do site em gestação, que seria encaixado dentro do EFECADE, com atualizações diárias. O acrônimo EFECADE vem de “Efe” de Fernando, Ca de Kitzinger e De de Dannemann. Nele, Eitel pretendia criar a categoria PATOS DE MINAS com a intenção de publicar o que já tinha pesquisado. Mas não foi possível por problemas técnicos. Era necessário criar um site próprio. Enquanto se resolvia a questão, a maior preocupação estava relacionada com o conteúdo informativo da publicação, ou seja, com o material de leitura que deveria preencher o espaço virtual. O que publicar para despertar a atenção e o interesse do leitor? Eitel decidiu dar tempo ao tempo, na medida em que as publicações fossem se sucedendo.
O PIONEIRISMO
Na madrugada de 15 de agosto de 1905 chegou ao público o primeiro jornal editado em Patos de Minas, assim como tanto desejava uma considerável parcela do povo. No editorial, o redator antecipava a orientação que pretendia dar ao jornal recém-nascido e que tanto atendia o desejo dos patenses, deixando claro, porém, que ele e o sócio anteviam as dificuldades que precisariam superar dali para frente. E certamente, foi nessa premonição que ele encontrou inspiração para a escolha do título pelo qual a nova criação literária seria identificada daquela data em diante: O TRABALHO.
Em janeiro de 2013 foram disponibilizadas as primeiras publicações de Eitel Teixeira Dannemann num site diferente de tudo o que já havia sido produzido em Patos de Minas e que tanto atendia o desejo dos patenses ávidos pelo nosso Passado, com fotos antigas e recentes com as devidas explanações sobre as mesmas, e textos de jornais e revistas reveladores de fatos históricos que estavam escondidos nos arquivos. De prontidão, Eitel anteviu as dificuldades que precisaria superar dali para frente. Encorajado pelo pelo pai a vencer os obstáculos vindouros, foi nesse incentivo que ele encontrou inspiração para a escolha do título pelo qual o novo site seria identificado daquela data em diante: EFECADEPATOS.
Pela programação acertada por seus fundadores, a assinatura anual d’O TRABALHO deveria custar 5$000 (cinco mil réis) e a semestral 3$000 (três mil réis), sem interesse com a venda avulsa. A estratégia usada para o jornal chegar às mãos de assinantes potenciais resumia-se em encaminhar a cidadãos da sociedade de Patos e região exemplares mediante pagamento da assinatura correspondente. Os sócios acreditaram que o desejo de muitos patenses em terem um jornal editado na cidade poderia facilitar a aceitação do mesmo. Sabiam também que somente com a arrecadação de publicidade não conseguiriam sobreviver: era necessário o maior número possível de assinantes. Mesmo com muita boa vontade, o objetivo tornava-se quase impraticável diante das limitações existentes na época, tais como vias de comunicação deficientes, falta de serviço telegráfico em que se pudesse confiar e, sobretudo, a pouca disponibilidade de tempo para cobertura dos fatos de maior importância que aconteciam na localidade.
O EFECADEPATOS entrou em atividade sem nenhum apoio financeiro, usando recursos próprios. A estratégia usada para o site se tornar conhecido foi o tradicional “boca a boca”, visita às escolas, chamadas das publicações no Facebook e primordialmente busca de apoio no empresariado. Eitel acreditou, pelo que muito tinha ouvido, que era vontade dos patenses ter um verdadeiro site que vislumbrasse a nossa História. Sabia também o Eitel que somente com recursos próprios o site não conseguiria sobreviver. Mesmo com muita boa vontade, o objetivo tornava-se quase impraticável diante da dificuldade inicial em encontrar apoio entre os empresários.
A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA
Desde a 1.ª edição, Antônio e Fortunato entenderam que problemas de caixa poderiam prejudicar a saúde financeira da sociedade, e em razão disso trataram de adotar algumas medidas preventivas, na tentativa de evitar que tal situação viesse a se confirmar. Por isso, o jornal passou a publicar em cada número editado, o seu Álbum de Ouro, que nada mais era que uma relação dos nomes de leitores que haviam efetuado o pagamento de suas respectivas assinaturas. Na verdade, essa providencia escondia um artifício do editor, pois o que ele de fato pretendia era lembrar aos interessados na publicação a realidade de que sua sobrevivência dependia exclusivamente do recebimento dos valores correspondentes às assinaturas. Ao mesmo tempo, os donos do jornal tentavam equilibrar suas contas com a receita oriunda da publicidade de casas comerciais. Mesmo com estas duas ações, a circulação do jornal foi interrompida no n.º 13, ficando paralisada durante três meses.
Desde o 1.º texto publicado, Eitel entendeu que problemas de caixa poderiam prejudicar o seu intento de prosseguir com o pioneiro trabalho, e em razão disso tratou de adotar algumas medidas preventivas, na tentativa de evitar que tal situação viesse a se confirmar. Por isso, passou a intensificar no Facebook “chamadas” para os textos publicados com seus respectivos links e dispensou um tempo maior em visitas estratégicas a empresas na tentativa de angariar apoio financeiro. Enquanto as visitas diárias aumentavam, proporcionalmente os custos de manutenção aumentavam. Com a ínfima adesão empresarial, o EFECADEPATOS foi desativado durante três meses e só voltou por causa de um apoio substancial por parte do UNIPAM.
DESTINOS DISTINTOS
O pioneiro jornal O TRABALHO teve como maior empecilho o pouco caso da população que não valorizou a importância da cidade ter um jornal editado em seus domínios. Enquanto o comércio colaborava com seus anúncios, Antônio e Fortunato lutaram desesperadamente para angariar assinaturas suficientes para manter o jornal em atividade. Para piorar, Antônio foi assassinado em 29 de abril de 1907, aos 31 anos de idade. Fortunato prosseguiu sozinho, mas entregou os pontos em 1909. Heroicamente fez outra tentativa, voltando a circular doze anos após. Viveu mais um ano e fechou definitivamente as portas.
O pioneiro EFECADEPATOS tem como maior empecilho o pouco caso do empresariado que não valoriza a importância da cidade ter um site que disponibiliza gratuitamente, 24 horas por dia, importantíssimos fatos de nossa História nunca antes revelados por estarem guardados em arquivos diversos e no qual ele, o EFECADEPATOS, teve o trabalho e a paciência de pesquisar. Enquanto o número de visitas cresce ano a ano, e consequentemente o número de leitores, Eitel luta desesperadamente para angariar empresas suficientes para manter o site ativo. Algumas empresas apoiaram por poucos meses, sem compromisso algum com a nossa Memória, mas com o intuito único de ofertar uma ajudazinha. Fiel na acepção exata da palavra, apenas três empresas apoiam, desde o 1.º texto publicado: UNIPAM, TERRENA E ITSITES. Estas sim, valorizam quem promove e fortalece a nossa Memória. Assim, com o espírito de Antônio e Fortunato, Eitel vai prosseguindo, esperando, como nunca, não ter o mesmo destino tétrico de O TRABALHO.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fotos: Montagens de Eitel Teixeira Dannemann.