CENAS DE FAROESTE NO CENTRO EM 1950

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2A cidade foi sacudida quinta-feira passada, dia 19, quase que ao mesmo tempo, por duas cenas de verdadeiro far-west, onde predominou o 38, carga dupla, servindo de palco para uma, a rua Major Gote, antiga Benedito Valadares, e para outra, a rua José de Santana, ambas no coração da nossa urbs.

A primeira cena desenrolou-se apresentando como agressor rapido, intempestivo e sem discussões, o conhecido moço do nosso alto comercio, sr. Negro de Faria, e como vítimas, o chauffeur de praça José Jeremias, que foi colhido de surpresa, e o boníssimo amigo de todos, sr. Vitor Barcelos que, no caso, foi vítima do seu esforçado zelo, recebendo um tiro na perna quando procurava, no momento do gesto criminoso de Negro Faria, resguardar das balas que zig-zagueavam, um grupo de crianças que se achavam nas imediações.

Indefesa e gravemente ferida, a principal vitima da furia vingativa do agressor, apelava para os transeuntes, que se embasbacavam ante o quadro tétrico, para que detivessem o criminoso, que se retirava sem precipitação, ainda com a arma fumegante na mão.

Quando a policia compareceu ao local, sem que nada justificasse a sua demora, pois a cena se desenrolou a um quarteirão da delegacia, já não conseguiu efetuar a prisão do criminoso que, calmamente, se dirigiu para a sua residência, de onde, calmamente, tomou rumo ignorado.

Minutos após, novo tiroteio se verificava, a poucos passos desta redação, preocupando o espirito dos comentaristas que se juntaram nas esquinas.

Desta vez, agredido e agressor, ou vice-versa, trazendo como protagonistas o padre Clovis Santana, vigario de Presidente Olegário, e srs. Alvaro Fonseca e Sebastião Felicíssimo, os dois primeiros como amigos e este último isoladamente, faziam uma verdadeira barganha de tiros, dos quais, felizmente, não resultou nenhuma vítima.

Todos esses fatos se verificaram, como dissemos, na nossa rua principal, às 2 horas da tarde, quando os cafés e sorveterias se encontravam cheios de gente.

Incompreendida, em ambos os casos, foi a ação da policia, porquanto não agiu com energia e nem procurou levar a sério tão lamentáveis acontecimentos, que destoaram profundamente da nota de civilização que, sabe Deus como, vinhamos conquistando palmo a palmo nos últimos tempos. Basta relembrar que, no curto lapso de 15 dias, a cidade foi abalada com quatro tragédias, todas dentro da sua principal artéria e que vêm toldar uma etapa tão brilhantemente conquistada no periodo de uma campanha politica, onde as paixões tumultuavam sem que houvesse para denegri-la ou macula-la uma rusga sequer.

Fazemos um apelo às altas autoridades do Estado no sentido de fazer valer uma ação de rapida segurança à população que se sente falha de garantias e presa de natural pressentimento de que piores dias a aguarda, pois cenas tristes como essas se repetirão, se não forem tomadas providencias energicas quanto ao policiamento da cidade, que se mostra deficiente e por demais tolerante.

* Fonte: Texto publicado com o título “Alvejado a tiros na rua principal da cidade” na edição de 22 de outubro de 1950 do jornal O Patense, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Joaoesocorro.wordpress.com, meramente ilustrativa.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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