Tráfego de caminhões e carretas com mais de trinta toneladas trafegando por ruas centrais da cidade não é problema exclusivo de Patos de Minas. Além de travar o trânsito provoca, invariavelmente, estragos no asfalto, sem falar do perigo de vida ao transeunte. Na década de 1980 o trânsito de caminhões carregados de carvão pelas portas de colégios gerou muitos protestos, em vão. Tanto é que a edição do jornal Boletim Informativo de 18 de setembro daquele ano publicou o seguinte artigo:
Continua ainda o trânsito de carvão pelas portas dos colégios já do conhecimento dos nossos leitores. Mas, não está mesmo valendo a pena os apelos. Prometemos que hoje iríamos apelar para Deus e é o que vamos fazer.
Senhor, Deus dos exércitos, nem sabemos como ousamos nos dirigir a Vós. Mas, para onde iremos nós? Apelamos para prefeito, para Comandante, para Bispo, para Papa e nada se conseguiu. De nada valeram nossas argumentações. A infração atingiu até orações. A incredulidade desmereceu todos os rogos. Hoje só nos resta Vós. Vós bem sabeis de tudo. É aquele trânsito de caminhões carregados de carvão, a passar o dia inteiro nas portas de nossos colégios. Vós bem sabeis, Senhor, como isto é perigoso – Ai de nós, pois que temos nossos filhos frequentando esses colégios! Infelizmente não podemos tirar nossos filhos do colégio! Eles irão ficar burros e certamente nesta burrice é que iriam votar nessa gente. Não, não é possível uma coisa desta! Pelos nossos filhos, estudantes, para que o caminhão não os pegue, rezemos ao Senhor.
– Senhor, ouvi nossas preces.
– Pelo primeiro aluno que irá ser esmagado pela “carga pesada” – rezemos ao Senhor.
– Senhor, ouvi nossas preces.
– Senhor, Pai Onipotente, abri os olhos de nossos governantes e responsáveis pelo trânsito da cidade e fazei que mudem o itinerário destas máquinas perigosas, cuidadndo do “anel-viário” de Patos de Minas. Isto Vo-lo pedimos por intercessão de Vossa Mãe Santíssima e Vosso Filho Amado, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Assim seja.
O tempo passou, foi-se a era brutal do desmatamento do Cerrado para a produção de carvão e, enfim, os caminhões carregados com aquele produto desapareceram, sendo substituídos por outros tipos de mercadorias. Assim, continuou o transtorno do tráfego de veículos pesados de muitas toneladas pelo centro da cidade. Nem a ligação da BR-365 com a BR 354 pela chamada Rodovia do Contorno e a Avenida Fátima Porto, que foram construídas justamente para direcionar os veículos pesados, tirando-os do centro da cidade, sanaram o problema. Muitos caminhoneiros não querem dar a longa “volta”, e por isso, com suas quarenta toneladas atravessam a Rua Major Gote em direção à Avenida Marabá. E ainda tem os caminhões lotados de porcos ou gado que também atravessam o centro da cidade¹. Onde há Executivo e Legislativo sério é óbvio que as leis são exigidas e os culpados devidamente punidos. Analisando as últimas décadas, percebe-se que não é o caso de Patos de Minas, onde o nosso Código de Posturas praticamente não tem função alguma . Por isso, cenas como a registrada na foto², uma carreta carregada de grãos e pesando, quem sabe, acima de quarenta toneladas, tranquilamente trafegando pela Rua Major Gote como se fosse um veículo de passeio, é tão corriqueiro como andar de bicicleta.
* 1: Leia o texto “Símbolo do Poder Público”.
* 2: Publicada com o título “Carreta: Trânsito Inconsequente no Centro” em 29/01/2015.
* Texto e foto (26/01/2015): Eitel Teixeira Dannemann.
* Artigo: Arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.