CANARINHO PESCADOR E CAÇADOR

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HISTORIAS DE PESCADOR - MURALJOIA.COMQuando o Tarcísio (Grilo) terminou a sua estória, os companheiros apenas se entreolharam não sabendo se riam ou se mandavam às favas um colega com tanta cara de pau, capaz de pretender alguma aceitação ou aplauso. Parece até que o Ivo Lima ia executando uma reação à altura, mas a intervenção do Álvaro Viana (o Canarinho) se fez oportuna e na hora exata. E com aquele tom de convicção e espalhafato que se lhe tornou integrante da personalidade, foi tomando a palavra, exigindo silêncio e atenção, e foi entrando na conversa:

– Esta reunião aqui, foi mesmo uma coincidência, meus amigos. Para mim é imenso prazer em escutar e aprender muito com tão ilustres mestres. Tanto escutei sobre pescarias como caçadas. Eu tenho o orgulho de ter herdado de meu pai uma paixão danada por estes dois saudáveis desportos. Como a nossa fala aqui gira entorno de aventuras nestas duas artes, modéstia a parte, vou relatar a minha.

No ano passado fui com a turma no Rio da Prata dar umas sundeiradas. A água estava limpa e os peixes miúdos não deixavam os peixes grandes aparecer. Mas, fomos pegando o que vinha. Começava a escurecer e a lua estava das melhores, clareando todo o rio. Então eu guardei o sundeiro e pus o Molinete para trabalhar. Coloquei uma minhoca daquelas bem adubadas, lá do meu minhocal, tratadas a tody e vitaminas e fiz o molinete cantar sobre as águas, numa jogada de mestre. Daí a pouco percebi uma puxadinha de chorão, mas fiquei aguardando um peixe maior. Passam mais alguns poucos minutos. A noite já bem se adiantando, mas a lua firme lá no céu, quando a linha dá um arranco forte siô, e eu fisgo o bicho. Houve uma luta desesperada no meio do rio: a linha ia pra lá e pra cá, girava estranhamente. Eu comecei então a recolher rápido para ver que bicho era aquilo. Mais parecia um hidroavião a espalhar água para todos os lados. Bem pertinho, pude identificar o misterioso. Era um baita Jaburu que devia estar na praia espreitando o chorão fisgado e o engoliu de uma só vez.

O Grilo, não aguentando mais a cócega na língua e, sem dúvida uma possível vingança, falou em tom de deboche:

– Afinal de contas, você é pescador ou caçador?

E o Canarinho, sem perder a esportiva, exclamou:

– É como eu falei: qualquer paixão me diverte. Eu tanto pesco como caço e, modéstia a parte, faço as duas coisas muito bem.

* Fonte: Texto publicado sem título na coluna Todo Pescador Mente da edição de 18 de março de 1979 do jornal Boletim Informativo, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Muraljoia.com.

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