A Casa Gótte pertencia a Sesostres Dias Maciel, o Major Gótte (hoje abreviado para “Gote”), filho de Antônio Dias Maciel, o Barão de Araguari, e Flaviana Rosa Corrêa da Silva. Localizava-se à Rua Major Gote, esquina com Olegário Maciel, onde hoje está o Edifício São Bento. Aquele senhor sem chapéu e de terno claro na frente da porta debaixo das letras OT é o “tal”. Em 1906 o jornal “O Trabalho” publicou vários anúncios do estabelecimento. Um deles dizia o seguinte:
Casa Gótte, de Sesostres Dias Maciel. Acaba de chegar do Rio de Janeiro, onde fez pessoalmente, nas melhores casas daquela praça e em ótimas condições, um variadíssimo sortimento de fazendas, ferragens, drogas, armarinhos, louças, calçados, chapéus, molhados, máquinas de costura, arreios, ferro em barra e muitos outros artigos nacionais e estrangeiros. Depósito de tecidos nacionais, querosene, sal, café, fumo, etc. Compra em qualquer quantidade para exportar: algodão, borracha e toucinho. Recebe gêneros para vender por conta de seus fregueses e encarrega-se de encomendas para o Rio mediante módica porcentagem. Vendas à dinheiro, à vista, por preços baratíssimos. Dá gratuitamente comodidade para seus fregueses, boiadeiros e carreiros arrancharem.
Como se observa, o anúncio contém duas informações no mínimo curiosas: a de que o negociante adquiria qualquer quantidade de “borracha” que lhe fosse oferecida, e a de que os fregueses de fora da cidade dispunham de acomodação gratuita enquanto estivessem providenciando suas compras. Essa questão da compra de “borracha” é muito interessante, pois naquele tempo não existiam “seringueiras” no cerrado do Alto Paranaíba. Newton Ferreira da Silva Maciel informa que a “borracha” comprada pelo comércio era proveniente da “mangabeira” (Hancornia speciosa), muito comum no Cerrado de Patos de Minas e adjacências naqueles idos. O fruto, mangaba, além de gostoso, é muito utilizado na fabricação de sucos, sorvetes, doces e bebida vinosa. A mangabeira é uma árvore que pode atingir os sete metros de altura, pertencendo à família das apocináceas. Newton Maciel conclui: “seu látex é usado para fazer uma borracha de cor rosada”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fonte: Jornal O Trabalho, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.
* Foto: Arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.