A luz elétrica fornecida por usina hidráulica demorou a chegar a Patos. O jornal patense “O Comércio” noticiou em 17 de maio de 1914 a inauguração de duas lâmpadas “Aladim”: uma no Largo da Matriz, em frente à Travessa do Comércio; outra, na Travessa 14 de Julho. Foi este o primeiro sistema de iluminação pública em Patos, que não chegou, como outros lugares, a experimentar os arcaicos sistemas das lâmpadas belgas, a carbureto e outros.
Mesmo o querosene para as lamparinas era artigo ao alcance de uns poucos em 1913. O combustível mais comum, para a iluminação, era mesmo o óleo de mamona que abastecia as candeias de um ou mais bicos.
Já onerada com um empréstimo de 150 contos de réis, feito com a Comissão de Melhoramentos Municipais para o abastecimento de água, a Câmara não via como fazer novo empréstimo, para a instalação da luz elétrica¹. Enquanto isso, as críticas dispares choviam. Uns opinavam, primeiro a luz. Outros, a água.
Em 22/03/1914, o jornal o Commercio, com o titulo “Luz Electrica”, publicou essa pequena nota: Sabemos que um grupo de tres capitalistas está resolvido a tratar do fornecimento de energia electrica para luz e força desta cidade, para o que já estão sendo dadas providencias que demonstram a realidade de tão grande melhoramento. Consta que um dos organisadores brevemente seguirà para o Rio, afim de providenciar sobre o assumpto, adquirindo materiaes, parecendo que a Casa Vivaldi será procurada para tratar da installação. Si não fracassar essa esplendida idèia é o caso de congratular-nos com essa nossa querida Patos, por mais um agigantado passo seu na senda do progresso, e felicitarmos aos tres illustres capitalistas referidos pela bella iniciativa. Avante sempre! Pena que a nota não citou os nomes dos três capitalistas.
Foi quando Olegário Dias Maciel deu a idéia de constituição de uma Sociedade Anônima. Assim, com a denominação de Cia. Força e Luz da Cidade de Patos, foi constituída uma S/A., cujo fim era a exploração de fornecimento de força e luz, por meio de eletricidade ao município de Patos e a outros municípios do Estado de Minas Gerais, ou onde melhor conviesse, estabelecendo instalações ou adquirindo-se por compra e fazer o comércio de artigos relativos à indústria de eletricidade.
Pelo parágrafo único do Art. 1.º dos estatutos, a companhia tinha poderes para explorar qualquer outra indústria, adquirir privilégios e fazer contratos. O prazo de duração foi fixado em 50 anos, podendo ser prorrogado por deliberação da assembléia geral.
O capital social, fixado em 70 contos de réis, foi distribuído em 700 ações de 100 mil réis cada uma, e realizado com 10% no ato da assinatura dos estatutos e o restante a juízo da diretoria. A assembléia constitutiva da companhia teve lugar a 15 de maio de 1914, na coletoria federal, reunidos todos os membros subscritores de ações. Por proposta, aceita, de Amadeu Dias Maciel, presidiu os trabalhos da assembléia Olegário Dias Maciel.
Passando à eleição da diretoria, Marciano Magalhães propôs, com unânime aprovação, que fossem aclamados diretores Olegário Dias Maciel e Amadeu Dias Maciel; José de Sant’Anna, Agenor Dias Maciel e o tenente José Alves das Silva, como conselho fiscal; Pedro Modesto da Silva, Zama Alves Pereira e Daniel Alves Belluco, como suplentes.
Os seguintes senhores subscreveram ações para a organização da S/A: Amadeu Dias Maciel (210), Olegário Dias Maciel (100), Arthur Thomaz de Magalhães (100), Osório Dias Maciel (100), Marciano Thomaz de Magalhães (50), Daniel Alves Belluco (50), Antônio Dias Maciel 20), José de Sant’Anna (10), Agenor Dias Maciel (10), Pedro Modesto da Silva (10), Zama Alves Pereira (10), José Alves da Silva (10), Paulino Pitanguy (10) e José Maria de Faria (10). A Ata foi registrada no Cartório Bráulio Maciel em 25 de maio de 1914 e publicado no MG em 13 de junho de 1914.
Coube à General Eletric Company a instalação da usina, cuja supervisão foi entregue ao engenheiro Carlos Pescher, por empreitada de Bromberg S/A., do Rio de Janeiro.
Ainda em maio, no dia 18, a Câmara Municipal, por lei n.º 166, concede ao cidadão Amadeu Dias Maciel, ou à empresa por ele organizada, o privilégio por 25 anos, para explorar no município de Patos a eletricidade para produção de força e luz.
Quando os materiais chegaram a Patos, já se encontravam finalizados os serviços de um sólido açude, o rêgo de 1.800 metros de extensão, lavrado em rocha com enormes rampas, no Ribeirão da Mata, onde fora construído um edifício para usina e outros mecanismos distando de 10 km da cidade. Nesta já estavam prontos os edifícios da Estação Distribuidora (onde hoje é a Praça Desembargador Frederico) e os postes de madeira preservados a piche. Estes ganhavam o chapadão da mata e vinham ter à praça da distribuidora, de onde ramificava a instalação pelas ruas da cidade. A Várzea e a Beira da Lagoa, só muito depois receberam a luz, instalada na Rua Paracatu e na Rua Silva Guerra.
O fim das lamparinas, candeias e lâmpadas Aladim, assim esperavam os empreendedores, começou a 14 de agosto de 1915, quando inaugurou-se, com muita festa, a luz elétrica em Patos.
O jornal “Cidade de Patos”, de 29 de agosto, publicou matéria sobre a inauguração da luz. Entre outras coisas disse: Havia na cidade, vindos do Município e dos circunvizinhos, mais de 12.000 pessoas e 400 carros-de-boi. A cidade estava literalmente cheia e não havia mais acomodação para ninguém. Depois da novena foi um delírio, com bandas de música, centenas de girândolas de foguetes. O povo passou pela Distribuidora e, ao som da filarmônica de Lagoa Formosa, se postou à frente da casa de Amadeu Dias Maciel, que se achava ausente. O Dr. Euphrásio José Rodrigues felicitou o povo e ao Sr. Amadeu, representado pela esposa Jorgeta. Estavam presentes ainda Farnese Dias Maciel. Depois, já tarde da noite, a multidão se debandou para o Largo da Matriz.
A Companhia Força e Luz da Cidade de Patos agüentou-se por poucos anos. A maior parte dos habitantes preferia continuar utilizando a luz de candeias à óleo ou lamparinas à querosene. Uma campanha chegou a ser feita pelo jornal “Cidade de Patos”, em várias edições, com o seguinte apelo:
Deixar de fazer uso, por espírito de rotina, das cousas que tornam a vida mais suave e cheia de encantos, não é mais deste século. A Luz Elétrica é econômica, confortável e asseada. Porque não mandais fazer a instalação em vossa casa sem perda de tempo?
Os preços, conforme tabela expedida pelo gerente da Companhia, Flaviano Dias Maciel, eram de 600 réis por KW/mês ou 200 réis por Velas/mês. O medidor, caso o consumidor o preferisse, era instalado por sua conta e o gasto mínimo de 8 mil réis mensais.
Em 02 de outubro de 1917, pela lei municipal n.º 198, o Agente Executivo Adélio Dias Maciel era autorizado a encampar a Companhia Força e Luz de Patos ou a entrar em acordo com os acionistas para aquisição dos títulos da empresa, cujo valor nominal não poderia exceder a 100$000, e o pagamento não poderia ser exigido senão depois de decorridos cinco anos da assinatura do contrato de encampação. Todavia, seriam pagos juros de 6% ao ano sobre o débito. Em 10 de outubro do mesmo ano, a lei n.º 204 mandou fazer por administração o serviço de iluminação pública e particular desta Cidade e contém outras disposições sobre o pagamento dos juros aos acionistas da extinta Companhia Força e Luz da Cidade de Patos.
O tempo foi passando, a cidade crescia e, consequentemente, maior era a demanda da luz elétrica. Em 1929, pelo Minas Gerais de 25 de agosto, ficamos cientes de que Patos tinha 223 casas iluminadas a luz elétrica e 330 focos de iluminação nas vias públicas. Os 100 CV da Usina da Mata demonstravam impotência.
O João da Luz e seu irmão Dedeco, com escadas ao ombro, montados em suas bicicletas, varavam a noite atendendo chamados, “para ver como a luz está fraca”. O Zé Albino (era infalível a sua crítica) gostava de riscar um fósforo “para ver se a luz estava acesa”.
Para minorar a situação, em 1942 iniciou-se a construção de uma usina no Ribeirão das Lages². Outro reforço foi feito pelo prefeito Clarimundo José da Fonseca Sobrinho, o Prefeito Camundinho, sob orientação de Bernardino Corrêa Junior (Nhonhô Corrêa), que foi a instalação de potente gerador “Otto-Diesel” na distribuidora. Além disso, em 1956 foi ampliada a potência da Usina das Lages³, com a capacidade de 1500 CV. Ocorreu, então, relativa melhora, mas, mesmo assim, eram constantes as interrupções do fornecimento de energia a qualquer hora do dia.
A situação foi ficando tão crítica que a solução era uma, única, a CEMIG.
Em 13 de junho de 1959, o Prefeito Sebastião Alves do Nascimento, representantes da Câmara e autoridades locais, estiveram com o Presidente da Cemig, Mário Penna Bhering, em entendimentos. No dia anterior, estiveram com José Francisco Bias Fortes, Governador de Minas Gerais, de quem receberam irrestrito apoio. Essa comissão era formada pelo Prefeito Binga; o Bispo Diocesano Dom José André Coimbra; o Presidente da Câmara, Randolfo Borges Mundim; o 1.º e o 2.º Juízes de Direito da Comarca, Drs. Altair Lisboa de Andrade e Deiró Eunápio Borges Júnior, respectivamente; o Vice-Prefeito Vicente Pereira Guimarães; os Presidentes dos Diretórios Municipais da UDN, PSD, PR e PTB, Srs. Adélio Gomes Ferreira, Arlindo Porto, Virmondes Afonso de Castro e Celso Clarimundo da Fonseca, respectivamente; Sr. Bernardino Corrêa Júnior, Diretor-Técnico da Rádio Clube; o engenheiro Luiz Alves de Oliveira, chefe do escritório local do DNEF, e o Presidente do Rotary Patense, Sr. Pio Nono de Angelis.
No dia 31 de maio de 1960, os Srs. Mário Penna Bhering, J. Bepecki e F. Rezende, representando a Cemig, aqui realizaram uma reunião com as nossas autoridades, na qual a Cemig apresentou as suas propostas, aceitas prontamente, graças à uma mãozona do Grupo Votorantim4.
O precário acervo foi passado à empresa estatal, leis municipais autorizaram a alienação do material e das instalações, sendo lavrado o contrato definitivo em 1961. Até que se completasse o trabalho de ligação e de transmissão e se fizesse a sua rede de distribuição, concluídos em 1963, foi instalado um potente motor diesel. A eletrificação rural, através da ERMIG, chegou em 1964. Desde então, a Cemig passou a explorar o serviço de distribuição de energia elétrica em Patos de Minas.
* 1: Interessante essa informação de Geraldo Fonseca, pois a lei n.º 157, de 29 de setembro de 1913, autoriza o Agente Executivo a entrar em acordo com o Governo do Estado para contrair um empréstimo de até duzentos contos de réis para abastecimento de água potável, rede de esgotos e “instalação da força elétrica”. Mais interessante ainda é que a lei n.º 247, de 04 de junho de 1920, autoriza o acordo com o Governo do Estado para a amortização da “dívida” contraída para com este em “26 de dezembro de 1913”. Esta dívida seria a da lei 157, de 29 de setembro de 1913 cujo dinheiro foi liberado em 26 de dezembro de 1913?
* 2: Leia “Iniciada a Construção da Usina das Lages”.
* 3: Leia “Questão da Usina das Lages”, “Chegaram as Máquinas Para Ampliação da Usina das Lages” e “Ampliação da Usina das Lages Está Concluída”.
* 4: Leia “Benemérito Patense”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fontes: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca, Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello e jornal O Commercio.
* Foto 1: Panorama da Usina no Ribeirão da Mata, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.
* Foto 2: Do Arquivo Público Mineiro, publicada em 18/11/2013 com o título “Estação Distribuidora em 1915”.
* Foto 3: Usina de Três Marias. Arquivo da CEMIG.