“Não sei como a gente vive numa cidade tão parada. Não tem na… da… na…da…”. Esta phrase não é minha. Deve ter notado, leitor, pelas elegantes haspas. É de uma senhorita. Perdôe me senhorita se estou plagiando te. Nestes tempos de egoismo e de villesa só se usa isto. Apesar de estarmos no “seculo da Luz”. Plageia-se. E quando é camarada pede perdão. Sou camarada. E por isto peço-te perdão. Ouvi tua phrase. Não tinha procurado ouvil-a. Estava longe, bem longe. Mas falaste alto. Não fui o unico. Todos os transeuntes escutaram, mas somente eu ouvi e guardei-a. Porque? Porque meus ouvidos, naquelle momento, assemelhavam-se aos de um reporter da Scotland Yard.
De novidade, estava eu a “cata”.
Senhorita, se tú “não sabes como a gente vive numa cidade tão parada” a culpa é tua. Somente tua? Não. Tua, de tuas amigas e de teus adversarios. Adversarios? Sim. Os masculos. São teus impereciveis e perennes inimigos. Os homens são inimigos das mulheres. As mulheres são inimigas dos homens. Odeiam-se mutualmente… Mamba? Peior, muito peior. São inimigos e tambem amigos. Fanaticos. Loucos. Tudo, tudo por causa da inconstancia e do orgulho.
Paradoxo? Contracenso? Não. Se tivesse espaço eu te provaria, Senhorita, a veradicidade deste conceito. Infelizmente não ha. Pois bem, senhorita, voltemos ao nosso assumpto.
Disse acima que a culpa é da mocidade. Esta deveria, antes de mais nada, fundar uma associação. Promover festa: seria o principal objectivo. Se tu, senhorita, idealizasses (apesar de esta edealizado) e iniciasses uma campanha para fundar um Club seria melhor do que dizeres estas palavras esmarridas. Melhor não, seria optimo. Por exemplo o “Club das Saracuras”. Bello. Formidavel. Phantastico. Teriamos uma reportagem do outro mundo. Não achas?
Mas “quê dè” animo. E, enquanto não o tiveres, senhorita, continuará nesta inercia. Tú e tambem a mocidade.
Estas palavras acima, senhorita, não são somente para ti. Directamente, sim. Indirectamente, não. Emfim, é para a juventude em geral. Este grito é unicamente para acordal-a. O somno está indo demasiadamente longe. Depois de despertada se calumniar-me enjuriar-me não quinzilio. Disse a verdade. Quem quizer que repito basta ler o artiguete.
Se lel-o e collocal-o, immediatamente, em acção estarei, mocidade patense, grato. Porque, sendo assim, não perdi meu tempo e papel.
Se lel-o e não collocal-o em acção continue, – mocidade parasítica, – a comer, dormir e… falar da vida dos outros. Qual é o predileto? Todos ao mesmo tempo? Lá diz o vulgo: “um é pouco, dois é bom e tres é demais”. Agora colloque a carapuça em quem couber.
E depois, voltando á realidade, solta um “não sei como a gente vive numa cidade tão parada”. A nossa juventude não vive. Ella, desde ha muito está vegetando.
Viste senhorita, claro, insofismavel, irrefutavel e cabal a verdade.
Sabes agora a cauda de não ter na…da… na…da.
* Fonte: Texto assinado por “Maurocordato” e com o título “Replicando” publicado na edição de 10 de fevereiro de 1935 do jornal A Ozaga, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Liderdeverdade.com, meramente ilustrativa.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.