Salvador Beluco estava cansado da preguiça do seu rebento, já não sabia mais o que fazer. Pensou e concluiu que o melhor era trazer seu filho para perto dele que talvez, aí existiria salvação para o menino. Chamou-o a um canto e muito contrariado e já prevendo o futuro pouco promissor falou com ele:
– O cobrador do Patureba saiu e eu tô precisando substituí-lo, portanto o senhor começa amanhã às 7:30 hs e tamos conversados.
Aí o Júnior, religiosa e pontualmente todos os dias chegava ao Patureba por volta das 09:00h. Não adiantava o Vicente lhe cobrar nem a Carminha falar ele simplesmente não dava conta, não estava nele. Salvador tentou o garoto em várias funções e em nenhuma ele se saiu mais ou menos. O Carlinhos, junto com o Orlando e o Alfredo, alguns dos melhores chapas da firma ainda falaram com o Dodô:
– Se ocê quiser nóis ensina ele, Dodô!
Mas o Dodô temendo pelo pior achou melhor pegar leve com seu Orgulho e tentou colocá-lo como auxiliar de escritório. Depois de um tempo insistindo nesta função desistiu, pois seu herdeiro estava igual a gato velho, dormindo em cima do saco. É isso mesmo, ele passava pra dentro da sacaria, escolhia o mais alto e puxava no ronco. Colocou o menino pra ajudar a fazer café e ele quando não esquecia de comprar o café, deixava-o no fogo até derramar. Achou melhor voltar o prodígio à função de cobrador, porém antes deu umas aulas pra ele, contratou o Cobrador antigo pra lhe dar uma semana de aula e então se deu por satisfeito. Achou que o delinquente agora está preparado. No outro dia, cedo o chamou ao Patureba e começou a lhe passar notinhas pra receber na rua. Com o andar da carruagem, Salvador pai percebeu que estava diante de uma missão quase impossível e ficou muito melindrado com aquilo. Foi enchendo as paciências com a falta de vontade de seu filho Júnior e um dia, puto nas calças, chamou o pentelho e lhe ameaçou:
– Aqui tem algumas notas e todas fáceis de receber. Portanto, enquanto não receber tudo não precisa voltar pro escritório e só volte pra casa à noite e com uma boa desculpa.
Assim Júnior fez, cobrou todas as notas menos uma porque não conseguia encontrar a tal rua. Seu pai, já preocupado, pois já havia acabado o Jornal Nacional e nada dele, pensou:
– Acho que peguei pesado com o Júnior hoje, até agora ele não apareceu! E pra casa foi, preocupado.
Eis que nosso reportado entra em casa, Dodô já pura preocupação foi logo indagando:
– Mas o que aconteceu, meu filho?
E Salvador Júnior ciente do seu dever, falou:
– Teve uma rua que eu não consegui achar não, pai, essa não tá no mapa da cidade. O senhor pode tentar encontrar que não vai achar.
E o Dodô, já compreensível:
– E qual rua foi? Às vezes o vendedor anotou o nome errado, meu filho!
E o Júnior solta de primeira:
– Uma tal Xis Vê de Novembro!
* Fonte: Crônicas de Família, Amigos e Agregados (Por Favor: Não me Deixem Rir Sozinho), de M. Debrot.
* Foto: Gartic.uol.com, meramente ilustrativa.
