FARMACIA REZENDE – 1936

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AQuando eu conheci M…, tão divinamente palida, parecia a estatua da tristeza, suspiros de angustia infinita em forma humana. Os seus traços delicados, finos, as suas mãos transparentes, lembravam-nos branca imagem de stalactites e stalagmites de uma gruta fantastica. E, no entanto, o seu amor trazia-me quietude de espirito e imensa doçura. Amava as linhas esculturais de seu corpinho flexuoso, a luz morrente e vaga de seus olhos tristes. Tão meiga, tão franzina ia-se diluindo no ar como gota de perfume que se volatiliza. Sua vida defluia na mais torturante das agonias.

Ontem, porem, de volta de uma quinzena que passei na roça, vi-a de longe, outra mulher, como que inchada, passeando a passos largos, americanizada. Extranhei. E meu espanto tomou enormes proporções, quando vi suas faces vermelhas, tão pintadas, seus labios rubros, de romã partida, tão carminados. Aquela radical e imprevista transformação desfez meus sonhos de amor e minhas ilusões.

Minha noiva, antes tão timida e empalidecida, aquela doce interrogação, feita da luz do luar, cristalizada, transmudara-se completamente e na sua transformação estava a minha imensa desdita. Resolvi então, contar-lhe o travor amarissimo da decepção tremenda. Corri pressuroso á sua casa. A nova criatura recebeu-me no jardim, toda vermelha, irradiando alegria, extremamente bela, estouvada e brejeira e deu-me tapas, deu-me arrancos e deu-me beijos…

Fiquei estarrecido e já ia desfazer o nosso contrato, quando M… me falou, transbordando de contentamento e tapando minha boca com a concha maravilhosa de sua mão:

Nada, nada, meu amigo! A minha transformação de corpo e de espirito, as rosas de minha face, antes tão descorada, tudo novo em mim, explica-se facilmente; advinha? E antes que eu fallasse: – Encontrei tudo isso, na força vitalizante dos remédios da Farmacia Rezende, a preferida. Renovei meu sangue, meus pulmões, minha vida toda e… veja como o coração está pulsando com mais energia… sentiu?… é por voce ainda e com mais força.

Mas, que é isto? Está tão tremulo, tão esquesito?!

– Nervos, minha filha, nervos, esgotamento…

– Ora, diga F… No momento em que falo tão entusiasmada… e mais linda e donairosa:

Meu amor, o que pretende? Fazer-me novo tambem. Vou á Farmacia Rezende tratar da vida, meu bem. Ali saude se vende – A maior felicidade – Todo mundo já entende a casa da lealdade, de todos a preferida, só por ser leal, querida. Drogas novas, preço justo. Quasi tudo pelo custo. Dê-me o ultimo beijo doente, você bem me compreende. Vá dizer a toda gente, que Farmacia só a Rezende.

* Fonte: Anúncio publicado com o título “Noivado Desfeito” na edição de 25 de julho de 1936 do jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.

* Foto: Afuse.org.br.

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