MAJOR PÔRTO

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MAJORTEXTO: GASPAR OVIDIO DA COSTA (1972)

A noite como sempre te encontrou silenciosa. Teus filhos dormem. Lá não estão nas ruas trocando tiros como tempos atrás.

Agora está cansada.

Até de nome trocaste. Eras Capelinha do Chumbo, creio que é porque aqui se distribuia muito chumbo, homem contra homem. Queres com outro nome esquecer teu passado selvagem. Fazes bem.

Agora és Major Pôrto. A noite está silenciosa, tu dormes. Nenhuma luz vela por teu sono. Eu preocupado com teu futuro, ainda de contemplo. E… choro teu futuro, teu destino, enquanto o vento uivante assovia algo zombeteiro nos teus ouvidos.

Sim, estou bem preocupado com você, Major Pôrto. Grito para acordar-te, Major Pôrto. Major Pôrto. Quem és tu? Que procuras ainda nessa tua existência? Grandezas? Glórias? Desenvolvimento? …Oh! Ah! Ah! Não me faça rir! Tu és mesmo muito otimista, muito confiante e muito infeliz.

Chegam em ti homens que falam bonito, falam bem, prometem progresso, te elogiam. Apenas, Major Pôrto, apenas em troca de algum favor teu. O negócio é vantajoso para você?

Tu sonhas com luz elétrica, com águas instaladas em tuas ruas, sonhas com uma ponte que te ligue à outras terras, sonhas com estradas perfeitas e até com telefone e televisão tu sonhas.

E aqueles homens que falam bonito, te prometem tudo isso?

É um bom negócio, bom, teus sonhos seriam realizados. Aceitas. Aceitas por que confias muito, por que amas muito os teus filhos. Mas, oh! Apenas aqueles homens, prefeitos, vereadores e até mesmo deputados, (com exceção de um que lhe doou Cr$ 2.000,00) conseguem de ti o favor que os põem onde queriam estar. Coitada de ti! Nem se lembra de ti.

Afinal, nem nos mapas te figuras.

Que mais queres?

És uma bananeira que já deu cacho, Major Pôrto. E que de vez em quando tentas renascer.

Numa destas vezes surgiu um ginásio e um grupo bacana (desculpe a giria).

Mas. És mãe. E uma mãe deve desejar tudo para os filhos. E os teus filhos querem progresso e conforto.

Ah! Ah! Como ficastes feliz, quando teus aflitos, mas alegres, cavavam as ruas e nelas instalavam canos para rede de água. Como alegrastes quando vistes postes e fios de interurbano serem lançados nas tuas ruas.

Mas que zombaria! A água correu uns dois dias, não foi? Logo secou. O Interurbano nem sequer chegou a funcionar. Foi um fogo de palha, um castelo de areia que achastes tão belo, mas que caiu tão logo foi erguido.

E tu, Major Pôrto, vais continuar assim? Confiar sempre? Dar sempre e nunca receber nada? Ora bolas, que bobagem! Mande esses caras gostosões se mandarem…

Mas afinal és mesmo muito infeliz! Em que lugar fostes nascer. Entre um rio e um riacho, numa terra árida e infrutífera. Fostes mesmo muito infeliz em ti nascendo aqui.

Oh! Não fique assim tão triste!

Tens razão. Deves sempre confiar, mesmo tendo certeza que nada receberás em troca. Sim deves fazer isso, já te acostumastes, não te será difícil.

Ia me esquecendo. Até que não és de toda infeliz. Tens aí um padre, que é um santo, um missionário e guerreiro. Tens uma igreja lindissima, tens também, já falei esse grupo bacanerrimo, tens Ginásio. Sabes o que prescisas agora? Não?

Prescisas de um local onde teus filhos jovens se encontrem, procurem teu desenvolvimento e se unam para que, um dia talvez… talvez Major Pôrto…

Talvez sejas uma cidade.

Porque não? Porque duvidas?

Uma cidade como tantas cidades maravilhosas que existem por esse nosso Brasil.

Já falei muito Major Pôrto.

Até amanhã.

* Fonte: Texto publicado na edição de 12 de março de 1972 do Jornal dos Municípios, do arquivo do Laboratório Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Cruz no lugar da primitiva capela de Major Porto, próxima à Rua Sebastião Alves do Nascimento, de Patos de Minas, Meu Bem Querer, de Oliveira Melo.

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