A imprensa vez por outra tem a grave responsabilidade de relatar fatos que polarizam as atenções gerais. Na edição passada relatamos o episódio da moça que de sua perna esquerda e seio, saiam espinhos e algodão. Nossa reportagem despertou o interesse geral e impressionou muita gente.
Agora, para espanto do repórter chega-nos a notícia de que Aparecida Luiza Ferreira estava expelindo não espinhos, mas pregos e algodão da perna esquerda.
Para relatar o fenômeno entramos em ação e fomos atrás de Aparecida Luiza Ferreira. Encontramo-la juntamente com seu pai que nos relatou o ocorrido. Dia 25, domingo, Aparecida começou a ter dores na perna que começara a inflamar-se. Passou a noite com dores e dormiu mal. Na segunda-feira, quando seu pai se encontrava trabalhando no arrozal da fazenda, foi procurado por um menino que disse-lhe para ir imediatamente para casa, pois da perna de Aparecida estava saindo pregos e algodão. Lá chegando encontrou sua filha desmaiada e ao acordar chorou muito e sentia dores terríveis na perna onde saíra as mechas pequenas de algodão e pregos. Tomou as providências e embarcou para Patos de Minas, aqui chegando às 10 horas, indo de início para cada do Sr. Antônio Jacinto e ali mesmo, na presença de diversas pessoas curiosas foi retirado um prego da perna de Aparecida por Da. Elza Queiroz.
O Sr. Francisco Luiz Ferreira, pai de Aparecida Luiza Ferreira, completamente desesperado pelo fenômeno, vai à presença de Dom Jorge Scarso e procura orientação daquele bondoso guia espiritual. Como os dois, pai e filha, nunca tinham confessado, depois de receberem os conselhos e conversarem muito, confessaram com Dom Jorge, recebendo deste a bênção. Em seguida foram à presença de Monsenhor Fleury Curado que, dando à Aparecida sua bênção disse que tivesse fé e que nada seria aquilo, e que voltasse novamente. No desespero, pois o fato, o fenômeno, era de tamanha impressão na alma simples daquelas pessoas, não acostumadas com isso, que foram à presença da médium que, anteriormente, fizera os trabalhos espirituais em Aparecida paralisando a saída de espinhos. Lá chegando, por volta das horas, relataram o fato, contando que agora estava saindo era pregos e algodão da perna.
Ao seguir do relato Aparecida começou a gritar e desmaia, quando expele dois pregos na presença de diversas pessoas e inclusive de Dona Conceição que estava em casa da Médium.
O fato, colocou todo mundo impressionado e, rapidamente foi feito um trabalho espiritual pela médium. Aparecida se acalmou e voltou ao normal. Às 15 horas adormece, acordando às 18 horas, da segunda-feira. Levanta-se e, depois de jantar, adormece novamente, acordando somente no outro dia (terça-feira) às 8 horas da manhã, sem nenhuma crise; sem nenhuma dor e sem sair mais pregos e algodão.
Este jornalista, juntamente com o fotógrafo Chilon Gonçalves, Sr. Luizinho Pereira da Fonseca e Rogério Batista Júnior, chegaram em casa da médium às 9 horas m/m e lá encontrou Aparecida, normal, alegre e como se nada tivesse acontecido com ela.
Depois de relatados os fatos acima, pelo pai de Aparecida, na presença de diversas pessoas, pedindo licença para fotografá-la o que foi feito, à nosso pedido, por Chilon Gonçalves. Aparecida em nada se opôs, mesmo porque, segundo seu pai, “ela era doida por ter uma fotografia mas nunca pode tê-la”. De fato, Aparecida era fotografada pela primeira vez. Ela soltou o cabelo que por sinal é grande e preto. Moça simples, não parece ser personagem de um acontecimento que está polarizando as atenções de todo o município de Patos de Minas e com tendências para tornar-se manchetes em jornais e revistas do Brasil.
Nossa reportagem deseja somente relatar os fatos. Mas, tirando o valor jornalístico do acontecimento, achamos que o assunto merece uma investigação científica ao invés de certas acusações que achamos um pouco descabidas para o presente caso. No mundo inteiro tem acontecido fatos que deixam a gente embasbacados. Uns crendo, outros descrendo e até antegozando os fenômenos, espirituais ou materiais. Não opinamos nem a favor nem contra, antes, achamos que o assunto é sério e deve merecer respeito, estudo. O desfecho virá com o tempo, para conhecimento geral.
Dada a complexidade do assunto, nota-se as mais diversas opiniões. Uns acreditando, outros não. Alguns dizem que Aparecida é masoquista (gozo mórbido com o próprio sofrimento); outros simplesmente não acreditam, mas há aqueles que, acreditando em algo sobrenatural, duvidam, pelas circunstâncias do fato. Os espíritas acreditam e sabem que tais fatos se multiplicam e afirmam que a enfermidade do corpo é o tratamento da beleza espiritual. E, neste caso, de Aparecida Luiza Ferreira, eles têm plena certeza de que se trata de algo sobrenatural, porém diabólico. Já o povo, nas ruas, comentam o fato das mais diferentes versões, chegando a dizer que Aparecida está fazendo milagres. Aliás, este repórter tem sido procurado por muita gente e a todos tem respondido que não opina, mas relata os fatos como tem visto e acompanhado. A nossa missão como jornalista está sendo cumprida. Os debates, as polêmicas que estão surgindo não nos interessa. Os fatos, sim!
NOTA: Este caso teve muita repercussão na cidade quando veiculado pela imprensa. Descobriu-se depois, tratar-se de manipulação da família da vítima, isto é, uma verdadeira fraude. Infelizmente, o EFECADEPATOS não conseguiu outras matérias jornalísticas sobre o desenrolar do caso, principalmente quanto à formatação da “artimanha”. Também, entre aqueles que se lembram do assunto, não se conseguiu informações suficientes para maiores explicações.
* Fonte e foto (Chilon Gonçalves): Texto de José Maria Vaz Borges publicado na edição de 30 de março de 1969 do Jornal dos Municípios, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann,