O problema de filas para consulta médica pelo INPS, parece que já se tornou de âmbito nacional. Mas em alguns lugares, como Patos de Minas, o caso já vai se tornando mais grave, quando episódios que envolvem a integridade e a segurança a que todos têm direito, começam a tomar aspectos desastrosos, e já redundam em danos físicos para pessoas mais idosas.
Nos dias de hoje, para que uma pessoa assistida por esta Instituição, consiga uma ficha para consulta, aqui em Patos de Minas, ela é massacrada, pisada e até ferida, o que já está se tornando uma questão de vida ou morte.
Falando à reportagem da Folha Diocesana, três senhoras assistidas pelo INPS, residentes na Vila Garcia, narram episódios estarrecedores, que vêm se desenvolvendo há meses seguidos, sem que até esta data, nenhuma providência tenha sido tomada, ao menos para contemporizar o problema, que já se agrava dia a dia.
Disse uma delas, que há cerca de oito meses, vem enfrentando noites de verdadeiras torturas, e até hoje, ainda não conseguiu uma ficha, para que seu filho menor obtenha uma consulta.
Esta senhora esclarece, que as fichas destinadas à pediatria, são distribuídas em número de 14, diariamente, da seguinte forma: duas fichas para o Dr. Ismael Ferreira Barros, quatro para o Dr. Antônio Hipólito, quatro para o Dr. Francisco Barreiros e quatro para o Dr. Carlos Roberto Pereira. Mas, no entanto, este número é insuficiente – disse ela – pois cerca de 300 pessoas se aglomeram durante à noite, em frente àquele estabelecimento, em busca de assistência médica, para si e para seus filhos menores.
Dizendo que durante uma semana, vem enfrentando a malfadada fila, para conseguir uma consulta, uma das informantes declara que o sistema de distribuição de fichas é feito da seguinte maneira: é proibido fazer fila ou aglomerado à porta do prédio do INPS, o que obriga a todos, permanecerem no passeio, do outro lado da Rua Tiradentes.
O guarda do prédio, por sua vez, é quem dá o sinal para a formação da fila, e o faz através de “palmas”, no horário de 6 horas. No entanto, o próprio guarda, por prazer ou não, fica a espera de que todos se distraiam, e dá o sinal com 10 ou até 20 minutos de antecedência, o que provoca o atropelamento de senhoras idosas, e outras com filho no colo, por parte de homens e crianças, onde os primeiros se prevalecem da força bruta, e os segundos, da agilidade. E quando alguém reclama, a resposta do guarda se faz pronta: – “Vocês é que se virem!”
No tumulto da correria para alcançar um bom lugar na fila, onde impera a lei do mais forte e da agilidade, em data recente, uma senhora, com aproximadamente 65 anos, foi jogada violentamente ao solo, sofrendo um ferimento de corte na testa, e por pouco não foi pisoteada pelos os que corriam atrás. Do mesmo modo – continua uma das informantes – uma senhora em avançado estado de gestação, após longo tempo de espera, e vencida pelo cansaço, desmaiou em plena via pública, mesmo assim, não conseguiu o seu intento, na busca de uma consulta.
Nesse verdadeiro martírio para se conseguir uma ficha, o que tumultua ainda mais, é que a mesma fila, tanto é formada para consultas, como para adquirir e revalidar carteiras daquele Instituto – comenta uma das três – mas isso não é tudo; muitas vezes, quando por milagre, se consegue um dos primeiros lugares, o guarda do prédio, por sua livre deliberação, manda inverter a fila, tornando válido o ensinamento – em má hora – de que os últimos serão os primeiros.
Quando isso acontece e as pessoas se revoltam, é hábito comum daquele vigilante, solicitar a Guarnição da Rádio Patrulha, para a reorganização da fila, em face da revolta e protesto dos mais exaltados.
Embora a fila seja autorizada a ser formada às 6:00 horas, – acrescenta uma das informantes – e isso é feito, segundo a vontade do guarda, o atendimento ao público, somente se inicia entre 8:00 e 8:30 horas, o que obriga as pessoas, a uma imobilidade contínua, cerca de três horas consecutivas.
Dizem que há fichas “extras” para distribuição, mas até hoje, eu nunca vi as tais fichas – comenta uma persistente da fila – mas o pior, é quando a gente consegue uma ficha para determinado médico – e cita o caso de ginecologista – após fazer os exames solicitados por este, a revisão do tratamento – que também exige nova investida na fila – sai para outro médico, que por sua vez, pede outros exames, gerando daí, uma nova batalha por parte da paciente, já a estas alturas “impaciente”.
Com a simplicidade das pessoas humildes, disse a mais nova das três informantes – “Mulher que tem marido ciumento, não pode entrar na fila do INPS, pois lá, a gente é espremida, apertada e empurrada de todos os lados, e reclamar não adianta, pois além de não ter com quem, a desordem ali já se tornou um fato costumeiro”.
O prédio do INPS em patos de Minas, é suntuoso e de excelente construção, o que proporciona aos seus funcionários, conforto e espaço amplo, para as suas atividades, o que é justo e merecido. Mas o que é lamentável em toda essa estória é que antes de se construir uma obra de tal envergadura, não se tenha pensado no motivo principal de sua existência, que é a de atender aos seus associados. Aqueles que ali se formam em filas de agonias, não são pedintes e carentes por miserabilidade: SÃO CONTRIBUINTES! Sofrem descontos no envelope de seu minguado e suado salário, e merecem, antes de mais nada, ser tratados com respeito e dignidade. Por que não houve à época da construção, a preocupação de se construir, pelo menos, um galpão adequado, para abrigar e amenizar o sofrimento daqueles que dependem de tal assistência, quando se gastou uma soma respeitável em tal obra, para o conforto de tão poucos? Por que não se faz a distribuição de fichas, por exemplo, no horário das 13 horas em diante, e até com data posterior, reservando as fichas “extas” para casos de extrema gravidade, evitando assim, o martírio das noites frias e sem dormir?
O Agente local do INPS, é o bacharel Gabriel Dias de Carvalho, pessoa educada e sensata, e tudo faz crer, que fatos como esses, ainda não tenham chegado ao seu conhecimento. Então que se dê a ele, um voto de confiança, pois muito se espera, que com sua habilidade de administrador e sua capacidade de solucionar problemas, o mesmo encontrará uma solução adequada, que por certo suavizará o sofrimento dessas pessoas, e a elas, seja dado um tratamento condigno, pelo menos de respeito e de amor cristão.
* Fonte: Texto publicado na edição de 14 de junho de 1979 do jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto (21/07/2013): Eitel Teixeira Dannemann.