ANTÔNIO DIAS MACIEL – BARÃO DE ARAGUARI

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ANTÔNIO E FLAVIANA - 1900Antônio Dias Maciel nasceu em 01 de janeiro de 1826, em Bom Despacho, então pertencente ao Município de Pitangui (MG). A data de nascimento aqui relatada, como quase todas as datas de fatos históricos da época, é divergente. Aos 28 anos casou-se com a adolescente Flaviana Rosa Corrêa da Silva, então com 14 anos, em 25 de novembro de 1854, filha de Antônio Corrêa da Silva e de Dona Balbina Jesuína Vieira.

Em razão de desentendimentos de natureza política entre os irmãos Antônio e Jerônimo com Alexandre e Miguel, resolveram os dois primeiros, transferirem-se para a nossa região. No final de 1858 saiu de Bom Despacho, chefiada por Antônio Dias uma comitiva constituída de diversas pessoas, com destino a Santo Antônio dos Patos, nome da vila que seria, futuramente, Patos de Minas. O séquito mencionado era formado pela família do condutor, esposa e seus dois filhos menores Etelvina e Olegário, os sogros, o padre Antônio Esteves da Silva Capanema e diversos amigos e correligionários, entre eles o Major Manoel José da Motta além de seus irmãos José Luiz da Motta, José Antônio da Motta e o primo José Júlio da Motta, provenientes da Fazenda do Engenho, freguesia de Nossa Senhora do Bom Despacho do Picão, Pedro Thomaz de Magalhães e outros mais.

Após nove dias de viagem a cavalo chegou o cortejo ao destino preestabelecido. A família Maciel e outros permaneceram em Patos. Manoel José da Motta, seus irmãos e primo se dirigiram para Santa Rita da Boa Sorte, hoje município de Presidente Olegário. Segundo chegou ao meu conhecimento os recém-chegados ficaram provisoriamente na hoje Praça Dom Eduardo, arranchados em barracas improvisadas enquanto procuravam adquirir terras para começar uma nova vida.

Posteriormente, Antônio Dias Maciel construiu sua residência no Largo da Matriz. Adquiriu 1500 alqueires de terra de cultura na fazenda “Cascata” a duas e meia léguas do arraial, hoje Patos de Minas. Aos desatualizados adianto que um alqueire mineiro é equivalente a 3,84 ha (três hectares e trinta e quatro ares). Um hectare é composto de 10.000 m², ou seja, o equivalente a um campo de futebol. Quanto à distância da fazenda de Antônio Dias ao arraial, duas e meia léguas, salientando que uma légua significa seis quilômetros. Suas atividades principais, como usual, foram pecuárias e lavoura, cultivando, ainda, várias frutas, inclusive uvas que permitiram a fabricação do “vinho da Cascata”. Quando menino, lá pelos idos de 1940, ajudava meu tio-avô, Amadeu Dias Maciel, filho de Antônio Dias, a trocar de garrafas o vinho fabricado na mencionada fazenda. A data de fabricação era 1881, vejam só! Todos os cuidados eram tomados para não estragar o vinho fabricado há tantos anos. A renovação da embalagem do vinho tão antigo era necessária porque se desconhecia, entre nós, a técnica de conservação desta bebida. Anos depois aprendi que o vinho deveria ser guardado com as garrafas em posição horizontal e não vertical. Hoje, ainda mantenho uma destas garrafas, como a conservar o rótulo simples, porém histórico, pois a bebida, infelizmente, já se deteriorou totalmente.

A propósito das uvas cultivadas por Antônio Dias Maciel na sua fazenda, o pesquisador Geraldo Fonseca, ao se referir ao engenheiro Antônio de Castilho, que em Patos estivera para estudar a possibilidade de construção de uma via férrea, reproduz esta revelação, escrita em 1891 pelo observador profissional: “Em poucos lugares a cultura da vinha adapta-se tão bem e a uva é tão saborosa. De todos os vinhos fabricados no Estado de Minas, os de Patos são incontestavelmente os melhores. Podem sofrer confronto com os melhores vinhos franceses e portugueses. O Barão de Araguari (Antônio Dias Maciel) já fabrica anualmente pipas de vinho de diversas variedades. Segundo informa este inteligente fazendeiro, as encomendas excedem, ainda de muito, a produção anual. O pipote dos vinhos por ele fabricados custa ali o elevado preço de cinquenta mil réis”  (FONSECA, Geraldo, em Domínios de Pecuários e Enxadachins – História de Patos de Minas, 1974, Ingabras, Belo Horizonte, p. 192.).

Por sua influência e trabalho, em 1866, Antônio Dias Maciel obteve do governo provincial (Minas Gerais) a criação da Vila de Patos, através da Lei provincial n. 1.291 de 30 de outubro de 1866, só efetivada em 29 de fevereiro de 1868, devido a diversas exigências legais. Em 24 de maio de 1892 foi a mencionada vila elevada à categoria de cidade pela Lei Estadual n. 23. Antônio Maciel também influenciou na criação da comarca em 1881.

Coube a ele, ainda, a organização da Guarda Nacional de Santo Antônio dos Patos, ocupando o posto de “Comandante Superior” da mesma entidade. A respeito da nomeação de Antônio Dias Maciel para ocupar o posto de “Coronel Comandante Superior da Guarda Nacional”, o estudioso autor Geraldo Fonseca, ob. cit., parte XI, Iconografia sem numeração de página, fez publicar o fac-simile da mencionada patente, a qual reproduzo abaixo, com a grafia da ocasião para delinear o linguajar usado na época histórica: “Dom Pedro por Graça de Deus e Unânime Aclamação dos Povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brazil, faço saber aos que esta Minha Carta Patente virem, que hei por bem nomear Antônio Dias  Maciel para o posto de Coronel Comandante Superior da Guarda Nacional da Comarca de Santo Antônio de Patos, na província de Minas Gerais e como tal gosará de todas as honras, privilégios, liberdades e franquezas que diretamente lhe pertencerem, pelo que Manda À Authoridade competente que lhe dê posse depois de prestar o devido juramento, e o deixe  servir e exercer o dito posto; aos officiais superiores que o tenhão e reconheção por tal, honrem e estimem, e a todos os seus subalternos que lhe obedeção e guardem suas ordens, no que tocar ao serviço Nacional e Imperial, tão fielmente como devem e são obrigados. Em firmeza do que lhe Mandei passar a presente Carta, por mim asignado, que se cumprirá como n’ella se contem depois de sellada com o sello Grande das Armas do Império. Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 8 de maio de mil oitocentos e oitenta, quinquasesimo nono da Independência do Império”. Em seguida verifica-se a assinatura do Imperador.

Antônio de Oliveira Mello e outros autores do livro publicado pela Câmara Municipal de Patos de Minas, denominado “Uma história de exercício da democracia – 140 anos do legislativo patense”, Editora Ipê, 2006, p. 112, fizeram constar: “Em 7 de setembro de 1872 realizaram-se eleições (Câmara Municipal). Os eleitos foram empossados em 7 de janeiro de 1873”. Foram eleitos, conforme disposto na referida página, diversos vereadores à Câmara em 1873. Em primeiro lugar, destacando o mais votado, está relacionado o nome de Antônio Dias Maciel, com 428 votos. Era costume, na época, o mais votado dos candidatos ser, automaticamente, eleito Presidente da Câmara.

Por ato de sua Majestade o Imperador Dom Pedro II, foi Antônio Dias Maciel agraciado com o título de “Barão de Araguari”, por decreto de primeiro de agosto de 1889. Todavia, não exerceu o nosso homenageado o baronato porque em 15 de novembro do mesmo ano foi proclamada a República e, logicamente, foram extintos todos os títulos de nobreza distribuídos pelo imperador Dom Pedro II e seus antecessores. Historicamente saliento que existiram quatro familiares com o nome de Antônio Dias Maciel: o pai do biografado, seu filho Antônio Dias Maciel Júnior e seu neto, filho do Coronel Farnese, que recebeu homenagem póstuma com a denominação da Escola Normal de Patos, hoje Escola Estadual Professor Antônio Dias Maciel, da qual fora diretor.

Antônio Dias Maciel foi uma figura de grande importância histórica para Patos de Minas. Além de fazendeiro, pecuarista, vitivinicultor, vereador e presidente da Câmara Municipal, primeiro juiz da Comarca recém-criada, propugnador do desenvolvimento da região, Coronel Comandante Superior da Guarda Nacional de Patos, Barão, homem conceituado e de palavra, exerceu as suas atividades até o seu falecimento em 1º. de julho de 1910, sendo sepultado no dia posterior no cemitério de Patos. Considerando-se a data de sua morte podemos notar que tal fato se deu há 103 anos. Sua viúva, Flaviana, faleceu em 17 de agosto de 1927, deixando o casal 15 filhos, enumerados a seguir, além de grande descendência. Reconhecendo os seus méritos os poderes legislativo e executivo de nosso município, bem como o governo do estado de Minas Gerais denominaram de Antônio Dias uma praça no centro da cidade, bem como o Hospital Regional do nosso município.

FILHOS DE ANTÔNIO DIAS MACIEL E FLAVIANA

Ordem descendente:

1. Olegário Dias Maciel, nascido em 08 de outubro de 1855 e falecido em 03 de setembro de 1933, quando era Presidente do Estado de Minas Gerais.

2. Etelvina Maciel (Dona Nhá), que se casou com o seu tio Jerônimo Dias Maciel, irmão de Antônio Dias. O casal teve 13 filhos.

3. Zenóbia Maciel Tormim;

4. Edmundo, falecido com a idade de 17 anos;

5. Farnese Dias Maciel;

6. Sesostres Dias Maciel (Major Gotte);

7. Olinta Maciel Magalhães;

8. Antônio Dias Maciel Júnior (Tonho);

9. Flaviano Dias Maciel;

10. Osório Dias Maciel;

11. Amadeu Dias Maciel;

12. Albertina Dias Maciel;

13. Edmundo Dias Maciel (Major);

14. Julieta Maciel de Barros;

15. Ataliba, falecido aos 15 anos.

* Texto: Newton Ferreira da Silva Maciel.

* Foto: Flaviana e o Barão de Araguari, do arquivo de Newton Ferreira da Silva Maciel.

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