JOGATINA EM 1955

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JOGATINATEXTO: ARY LACERDA (1955)

“Laranja madura na beira da estrada ou está azeda ou tem marimbondo no pé”.

Não temos nenhuma vaidade ou mesmo pretensões de sabermos colher laranjas em meio aos marimbondos, sem acertar-lhes na respeitável morada, com a ponta da vara ou com a pedra do bodoque. Pelo contrário, sabemos, isso sim, “que, entre as rosas há espinhos e que é mais fácil colher as rosas quando já experimentamos os espinhos”. …E vamos às laranjas maduras.

Antes que nenhum outro, Monsenhor Manoel Fleury Curado, deu início à campanha saneadora, através das colunas deste nosso “CORREIO DE PATOS”, contra o JÔGO que campeia livremente em nossa cidade, num atestado eloquente de nossa decadência moral e que infelizmente encontra paralelos em inúmeras comunas do Estado, como consequência, talvez, do desencarrilhamento da máquina governamental – sem que a palavra autorizada do abalisado opositor ao deplorável vício social, encontrasse ressonância junto ao Poder competente. E o velho Pároco, o incansável amigo de Patos de Minas, não viu o seu apêlo coroado do êxito que se lhe vislumbrava e que nós já contávamos tão certo, como dois e dois são quatro.

Seguiu-lhe após, nessa cruzada sadia, o Rvd.º Saulo Miranda. Não foi menos feliz na argumentação nem no destemor; recebeu, apenas, como já acontecera ao Monsenhor, a mesma nota ZERO da parte das autoridades componentes da Banca Examinadora.

Pouco depois, juntou-se-lhes o nosso prezado amigo e grande amigo do progresso de nossa terra, Snr. Geraldo Fernandes Ferreira.

Também ele teve suas boas intenções frustradas e recebeu a mesma nota improdutiva.

Juntamo-nos à essa ilustre caravana e vamos bater diretamente nas portas das Autoridades competentes para solicitar-lhes uma solução legal e portanto justa, contra a jogatina desenfreada que aí está frente aos olhos de quem quer ver cartas de baralho esparramadas na mesa ou de quem quer ouvir o tilintar de fichas sôbre o pano verde dos jogos bancados, a tôdas as horas do dia ou da noite.

Se o espírito da lei é taxativamente contrário aos chamados jogos de azar e se as Autoridades estribam-se nos ditames das Leis para que se faça justiça, dando combate sem trégua ao jôgo, lògicamente a sua prática, o seu livre exercício, só é facultado ou permitido, quando há o desrespeito dessas mesmas Leis, não pelos contraventores que já pela profissão criminosa que exercem estão à margem do seu sentido, mas das Autoridades em detrimento de suas funções e em completa negação de confiança que o povo lhes dispensou, para que nos governe com justiça, sem acinte à sociedade, sem desrespeito à Família Cristã, sem ultraje à Moral e aos Bons Costumes e, sobretudo, sem perda da dignidade que se revestem os responsáveis pelos destinos de nossa Pátria, ao exercício de suas funções e na observância daquilo que lhes ombreia como mantenedores da Ordem e de acatamento às Leis.

* Fonte: Texto Publicado com o título “Para Jôgo Franco, Cartas na Mesa” na edição de 1.º de maio de 1955 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Plus.google.com, meramente ilustrativa.

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