NOITE JUNINA NA RECREATIVA EM 1955

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3TEXTO: DÉLIO BORGES DA FONSECA (1955)

Aqueles a quem fiz referencia, perdoem-me a confiança; aqueles que não foram citados, compareçam no ano que vem. Então, eu falo.

Foi um acontecimento inolvidavel e que superou a todas as expectativas, mesmo aquelas mais otimistas, a brilhante noite junina da Sociedade Recreativa Patense; nossos parabens mais efusivos e entusiasticos ao presidente José Ilídio, aos seus colaboradores, pelo sucesso integral e incontestavel. Aquilo estava muito pra lá de formidavel, com aquela gente toda, muito fina e muito seleta, dançando com um entusiasmo que dava gosto ver.

Importaram da Africa um sanfoneiro colosso, cantadôr de fama, que não deu folga a muita gente, com suas brincadeiras, orientado eficientemente, por detraz dos bastidores, pelo Olegarinho Tibúrcio, este sujeito tão amigo e tão bom, tão prestigioso e tão festeiro, que a cidade se orgulha de ter como seu filho de coração; não importa que a Baía o tenha visto nascer. Ele é nosso e acabou-se a história.

Havia brotos de todas as idades e todos os matizes, dos 15 aos 70. Jovens de ontem, que brilharam por volta de 1920, lado a lado com os jovens que brilham intensamente nos dias de hoje. Estes no auge da sua pujança e da sua bela magestade, vivendo uma época que lhes pertence de fato e de direito; aqueles outros, lutando obstinadamente contra a ação irresistível do tempo implacavel, prolongando enquanto lhes permite a vontade férrea, as fibras corcomidas e frageis, desgastadas pela vida em fora.

Jovens por volta dos 20, como eu, ombro a ombro com aqueles outros tambem jovens , pois para eles a vida começa aos 40; João Pacheco Sobrinho, Joseph Borges de Queiroz, Pai Vaca e tantos outros, numa demonstração eloquente desta verdade inescondivel.

Ao lado destes, que apenas agora começam a sofrer os primeiros embates do reumatismo inexoravel, seja-nos permitido colocar em evidencia, as presenças simpaticas de dois jovens de outros tempos, que ainda agora se divertem com entusiasmo, num apego aferrado a estas coisas boas que a vida tem, numa sofreguidão admiravel. Citaremos de inicio, aquele de cabelos prateados, com aquela sua pôse e aquele seu aprumo, como muito bem convem a alguem que faria bela figura como ministro do supremo; se o “Camisolão” ainda existe, não obstante as cãs e não obstante a idade, devemos interpreta-lo como mais um titulo de prestígio, que se soma aos imensos titulos de nobreza e de fidalguia que aureólam esta figura inconfundivel, deste inconfundivel José Olimpio Borges. O outro jovem, por mera coincidencia, apenas não é Borges, por que é de Melo. Aproveitaram da inexperiencia do meu querido amigo José Olimpio de Melo, em materia de Uisque, fazendo com que tomasse algumas doses inocentemente, pensando que fosse puro guaraná; fazemos votos para que não mais procedam assim estes amigos da onça.

O Geraldo Teba, por volta das 11, chegou embalado, num “fogo” bruto, divertidissimo, vermelho como lacre, com aquela sua careca reluzente, inconfundivel, a desafiar todas as tricomicinas do mundo.

O Pai Vaca tambem não estava muito legal, por pensar que quentão e agua eram a mesma coisa. Tal era a altura do termômetro, que a certa altura, ele e o Teba, resolveram fazer uma troca de parceiras, que eram, nada mais, nada menos, do que suas respeitabilissimas e dignissimas esposas. O Pai Vaca, saiu pesadão, dançando com D. Estevina e o Careca simpatico do expresso Santa Marta, saiu bem leve, comboiando a D. Êtinha. Afinal, cada qual retomou o seu primitivo lugar, cada qual com a “cruz de sua vida”.

O Dr. Benedito Alves, com aquela cara de anjo fugido do céu, num sorriso eterno de felicidade, dançava que dançava, com a senhorita Dilza Queiroz, sob os olhares concordados do compadre Zé Augusto. Faço votos para que os dôces não demorem, pois eu estou com medo de ficar diabético. O ilustre diretor do “Correio de Patos”¹, estava todo enlevado a dançar com um broto e tanto, emprestando àquele momento de felicidade fugaz, todo o entusiasmo de sua sensibilidade e todo o enlevo de sua alma jovem e repleta de belos ideais. Reparei bem, como o meu caro amigo parecia transportado aos páramos celestiais; fi-lo ciente de que eu o observava, e sabem o que foi que ele me disse?… Simplesmente que… bom, depois em conto!

E muito mais aconteceu, pessoal. Contar tudo é impossível. Mas que a festa estava mesmo supimpa, estava. Ao lado de tudo tão alegre, dava pena ver aquelas moças ainda bem aparecidas, mas que já perdem terreno para os brotos que vem vindo de roldão, se sujeitarem às pisadas inclementes de algum analfabeto em dança, formado na mesma escola de baile em que eu me formei. Como o destino é ingrato e o jogo que antecede ao matrimonio exige sacrificios tão penosos de nossas pobres moças. Foi este o unico pensamento triste que eu tive naquela noite. Tudo o mais uma verdadeira festa de alegria e de amizade, muito bem organizada e muito seleta, como era de se esperar da tradição e do prestígio incontestavel da notável Sociedade Recreativa Patense.

* 1: Dr. Mário da Fonseca Filho.

* Fonte: Texto publicado com o título “Sociedade-Recreativa” na edição de 03 de julho de 1955 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Edu-candoconstruindosaber.blogspot.com.

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