JOGATINA EM 1916

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JOGATINATEXTO: JORNAL CIDADE DE PATOS (1916)

Em um dos últimos domingos li um puxado artigo, de redacção, na “Cidade de Patos”, em tom causticante em que o articulista, pintando a nossa urbs com as cores mais negras, por estar, – diz elle – invadida pelo jogo, pede, roga, implora a intervenção das autoridades contra esse cancro social – jogo.

Agora vejo o Snr. F. Pinto secundando aquelle, no mesmo diapasão, pelas collumnas da “Cidade de Patrocinio”, em correspondencia d’esta cidade, proclamando aos quatro cantos que Patos é o Monte Carmelo – de Minas, terminando na mesma afinação – a intervenção da policia – do contrario, os filhos estão perdidos, as senhoras casadas estão sem os maridos, as noivas sem os seus escolhidos, os negociantes sem caixeiros, os clientes sem os medicos, nem advogados, e os proprios consumidores sem os negociantes para lhes venderem.

Perfeita hecatambe social.

Não creia-se que apoiamos a jogatina, mas não podemos tomar a serio esse puritanismo fingido e manqué.

É vicio o jogo da rolêta, a campista, o baccarat, como é o trinta e um, o pooker, o dominus vobiscum e o agacha.

Se n’aquelles perdem maiores quantias, os que as teem para perder, n’estes, perdem menos os que menos possuem e quando n’estes não perdem o dinheiro perdem o tempo.

Se os que jogam aquelles, dão maus exemplos, – de perdularios – os parceiros d’estes dão os exemplos de ociosos. Tanto uns como outros devem ser contra a moral.

Sorrimos d’esses puritanos e moralistas, pelos seguintes motivos:

Ar armarmos urupucas nas portas das casas onde se joga, ou rolête ou o agacha, no dia seguinte estarão presos, os puritanos da “Cidade de Patos” e o moralista da “Cidade de Patrocínio”.

Eu agora imagino a cara que elles ficarião para mim, se eu também caisse n’ella, o que não duviso…!

O outro motivo é de esses pândegos, não terem a força de vontade precisa para se cohibirem a se mesmos, das tentações do vicio que os domina e virem proclamar alto e bom som as suas fraquesas, pedindo as autoridades que os tutelem – prohiba o jogo para elles não jogarem!!

Isto não é só irrisório é mesmo deponente.

Se atemorizam com o futuro dos filhos, e em vez de se imporem com as suas autoridades paternas, pedem a intervenção da autoridade publica.

Sempre pensei e para mim se recommenda mal o pai que invoca a autoridade publica, para as faltas do filho; é confissão clara da sua falta de prestigio moral na familia.

E agora para corroborar me vem a mente lembrar: – desgraçado delegado que pegar um d’esses menores na rua e leval-o, já não digo, a cadeia, – ao pai; porque d’alli em diante terá por inimigos não só o pequeno malandro, mas toda a familia.

E se querem ver se minto e se este puritanismo é ou não de fancaria, se ofereça ao articulista da “Cidade de Patos”, ou correspondente da “Cidade de Patrocinio”, a delegacia de policia e com carta branca para applicar a sua moral, contra o jogo, que se elles acceitarem eu perco um pé de muleque e deposito ou dou fiador do premio.

Patos, – 28-5-916

Indiscreto

* Fonte: Texto publicado na coluna “Chronica da Semana” da edição de 28 de maio de 1916 do jornal Cidade de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Plus.google.com.

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