JOGATINA EM 1911

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A1TEXTO: JORNAL O COMMERCIO (1911)

Essa escandalosa diversão no seio da familia patense, ha muito, é prohibida; porém, o povo não tem se unido para extirpal-a.

Estou convencido que as auctoridades do municipio sem o auxilio do povo, que é o que faz bom governo, não conseguirão reprimir os infractores da lei. A Camara Municipal nos seus estatutos, providenciou para que não houvesse casa de tavolagem em que houvessem jogos de azar, qualquer que fosse sua denominação, sob pena de multa de 50$000 a 100$; para que nas ruas, praças e mais logares publicos, bem como nas lojas, armazens e outros commodos de negocios, barracas, botequins, não houvesse jogo, sob pena de multa de 20$000 e oito dias de prisão; entretanto, por toda a parte existe esse escandalo!… Melhor seria que esses fanaticos pelo jogo, escandalos de nossos moços – amarrassem uma pedra no pescoço e fossem atirar-se ao fundo do Paranahyba.

Mas, não ha necessidade d’isto, basta um pouco de força de vontade da parte d’esses homens illustrados, que felizmente temos como nossos oraculos no direito, na medicina legal, na odontologia, na pharmacia, na instrucção religiosa, na instrucção primaria e secundaria, no commercio e na lavoura, para afastarmos de entre nós esse escandalo prejudicial aos nossos creados, aos nossos caixeiros, aos nossos filhos, aos nossos irmãos e amigos.

Consta-me que foi empossado no cargo de Delegado especial, neste Municipio, o distincto e brioso militar Te. Manoel Vieira; portanto, se esse grupo de homens illustrados de nosso seio social manifestar-lhe o desejo de afastar de nós essa jogatina capeada pela mesa do Bilhar, elle è capaz de empregar a força legal e cessar esse escandalo. Approveitemos, pois, esse brioso militar, não só para syndicar dos factos que lhe imcumbiu o governo, como para reprimir esses jogadores desenfreados e bebedos por habito, de que está cheio o nosso Municipio.

Gravissimos assassinatos têm se repetido, neste Municipio, vindo occupar a attenção do Jury, devido ao alcoolismo, que desgraçadamente tem se alastrado entre nós.

Temos presenciado muitos actos de vandalismo, praticados por esses bebedos, nossos irmãos, que a auctoridade policial tem deixado vagar – por não saber fazer os processos especiaes, segundo a expressão do Dr. Marcolino.

Infelizmente, onde está a jogatina ahi está o alcool, e nella temos visto muitos de nossos patricios habituarem-se á embriaguez. Não preciso enumerar os factos passados, elles estão na memoria dos senhores jurados, que soffrem a maçada do Jury, sem resultado algum. No tempo em que tivemos Tribunal Correccional, um d’esses individuos, vadio e jogador, foi pelo Tribunal afastado do seio social, cumprindo a pena, voltou ao nosso seio, e ahi está cidadão prestavel. Supprimido e Tribunal Correccional, passaram a ser mais faceis os julgamentos d’esses pequemos delictos; porém, as auctoridades processuaes não têm querido levar esses factos ao Dr. Juiz de Direito para julgar!

NOTA: Em 11 de maio de 1911, o jornal O Commercio publicou uma carta do vereador Eduardo Ferreira de Noronha onde critica a problemática da jogatina e ainda culpa o delegado: “Admira-me – o Delegado energico como é, ser copeiro em casa de jogos que não são permittidos por lei”. (Leia “Contravenção de Delegado em 1911”).

* Fonte: Texto assinado por “O Vozeador” publicado na edição de 20 de agosto de 1911 no jornal O Commercio, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Superconectado.org.

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