Na edição n.º 36 da revista A Debulha, de 15 de novembro de 1981, foi publicada uma entrevista com os Engenheiros Civis Ademir Antônio de Souza e Honório José de Lacerda, o Arquiteto Edilson Domingos Vieira (coautor do projeto e responsável pela assistência técnica na obra) e o Mestre de Obras Elói Ribeiro da Silva, Equipe Técnica responsável pela construção do novo Terminal Rodoviário. As perguntas foram feitas por Dirceu Deocleciano Pacheco e João Marcos Pacheco.
Os senhores poderiam dar alguns dados técnicos da obra?
Dr. Honório – O Terminal está orçado inicialmente em 80 milhões de cruzeiros. Está sendo construído em uma área de 11.000 metros quadrados; a área coberta será de 5.200 metros quadrados. O Terminal terá 10 plataformas de embarque e 4 de desembarque. A cobertura será em alumínio com estrutura especial tubular de alumínio.
Dr. Edilson – Não é uma obra muito suntuosa, mas não deixa de ser uma obra de arte, pois tem características que podem classificá-la como tal. Sua cobertura com treliça espacial em alumínio tubular é uma das partes caras da construção e também o contexto urbano que vai ser inserido, são suficientes para isso. A urbanização da lagoa, que terá verba especial dentro do plano de Cidades-Dique e que já tem estudo aprovado, irá embelezar sobremaneira, o conjunto. Além disto, será também uma obra muito funcional; tiramos todo o luxo, sem nos esquecermos do funcionamento. Simplificamos bastante, eliminando o complexo comercial dentro do terminal. Teremos apenas doze lojas alugadas e uma lanchonete com área prevista para um futuro restaurante. O sistema de funcionamento de embarque e desembarque é muito bem dimensionado, com dez plataformas de embarque e quatro de desembarque, todas cobertas. Existe uma grande área de estacionamento e outra grande área de lazer. O projeto é modulado, podendo futuramente crescer, sem problemas, para o lado da Rua Barão do Rio Branco.
Alguma coisa desta construção que está ao lado da atual, será aproveitada futuramente?
Dr. Edilson – Não. Nada disso será aproveitado. Isso aí é um problema que a Prefeitura tem com a Construtora Roma, que ainda está pendente e a área não faz parte do projeto, que tem no momento 11 mil metros quadrados de terreno para o terminal.
Qual é a área do saguão de entrada do Terminal?
Dr. Edilson – São 1.200 metros quadrados para espera; são 27,5 metros por 30 e poucos metros de profundidade. Com ele estarão ligados o bloco do setor comercial, as bilheterias, a segurança e guarda volumes, tudo ao lado do desembarque. Do outro lado, está o que chamamos de setor de serviços públicos, onde está o DER, o DNER, a lanchonete, os sanitários e a própria administração do Terminal.
O que já está construído no momento?
Dr. Ademir – O que está construído, representa aproximadamente 50% do total da obra. Estão prontas as fundações e todas as tubulações.
Dr. Honório – Já foram aplicados até o momento, 5 milhões e meio do DNER e 7 milhões do DER. A parte da Prefeitura, de acordo com o convênio, é representada por várias coisas que o DER e o DNER não pagam, como a parte de materiais permanentes, combustível e lubrificantes, manutenção de equipamentos e outros que poderemos estimar até o momento, em torno de 1 milhão de cruzeiros. Existe uma boa parte que não aparece, como por exemplo o aterro da área que foi feito mediante um acordo com o Sr. Ivan Olivieri, que nos cedeu a terra em troca do serviço que fizemos para ele de preparo de um terreno que será loteado. Devo ressaltar que pelo convênio, a contrapartida inicial da Prefeitura, seria o terreno e além dele ela deve ter colocado na obra, em torno de 1 milhão de cruzeiros.
Existe muita crítica quanto à localização da rodoviária em relação ao período chuvoso e há até quem costume chamá-la de “fluviária”. O que vocês têm a dizer sobre isto?
Dr. Honório – Realmente, o Terminal está sendo construído no local onde antigamente foi uma lagoa que posteriormente foi aterrada. Estou em Patos há pouco tempo, mas conheço fotografias e tenho informações inclusive de que, salvo engano, foi em 1967 que o Prefeito Ataídes mandou aterrar esta parte. O inicio da obra estava previsto para dezembro do ano passado e só pudemos fazê-lo em março, porque toda a área estava alagada. Fizemos um aterro com 18 mil metros cúbicos de cascalho e terra, aos quais já me referi, realmente com o objetivo de expulsar a água. Além disso, temos um outro projeto que está sendo negociado com o programa Cidades-Dique, que visa exatamente o esgotamento do excesso de água da lagoa no período chuvoso e a manutenção do seu nível, na época da seca. Será construída uma galeria, que levará o excesso de água até o Ribeirão da Fábrica.
Esta galeria será executada concomitantemente com a construção do Terminal?
Dr. Honório – Os recursos estão sendo negociados para que quando o Terminal estiver pronto, a parte de urbanização da lagoa também esteja. Sou também o Coordenador do Programa Cidades-Dique e posso informar que temos dois convênios: um com o Ministério dos Transportes, para a Vila Garcia e outro com o Ministério do Interior, para o Bairro do Brasil, que tem duas áreas distintas dentro daquele programa, que são a Vila Operária, que depois de receber a infra-estrutura, está sendo calçada e a outra área, é exatamente esta da lagoa. Então os recursos virão do Estado, através da Secretaria do Planejamento e do CNDU que é o órgão do Ministério do Interior (Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano). Nós esperamos que quando o Terminal estiver concluído, a urbanização de toda a área da lagoa esteja também pronta, formando-se um belíssimo conjunto arquitetônico.
Quer dizer que se houver embaraços para a construção da galeria pluvial, o problema realmente será sério na época das águas?
Dr. Honório – A galeria terá que ser realizada. Caso haja embaraços dentro do Programa Cidades-Dique, no que eu não creio, a Prefeitura terá que conseguir recursos de outro órgão, para a sua construção ou fazê-la com recursos próprios, mas ela terá que ser executada. Agora, os problemas da lagoa, surgirão na área em torno dela, sem no entanto afetar o Terminal propriamente, pois ele está um metro e meio acima do nível da água que estava aqui em dezembro do ano passado, em virtude do aterro que fizemos e para a água chegar nele, terá que ser inundado “meio mundo”.
Quanto aproximadamente se vai gastar com a urbanização da área da lagoa?
Dr. Honório – Conforme já disse temos o projeto já negociado com o programa Cidades-Dique, com uma destinação de verba de 68 milhões de cruzeiros para as áreas da Vila Operária e periferia da lagoa, que creio será executada com aproximadamente 40 milhões. Já gastamos uma parte na Vila Operária, onde já fizemos a rede de esgoto, estando faltando apenas uma rua para recebê-la e estamos agora calçando com blokretes. De oito ruas que lá serão pavimentadas, já fizemos quatro e penso que lá serão gastos bem menos que 28 milhões de cruzeiros, devendo sobrar mais para serem aplicados aqui.
Como e quando se pretende fazer o alargamento da Avenida Piauí, que dá acesso ao Terminal?
Dr. Honório – Futuramente a Prefeitura terá que fazer desapropriações. Este problema é afeto ao Departamento de Obras e eu não posso informar quando isto será feito, entretanto, são muito poucas as desapropriações que deverão ser feitas, pois vários problemas já foram solucionados anteriormente.
No número anterior, publicamos uma matéria de responsabilidade da Prefeitura, que fala da assinatura do contrato para execução da cobertura do Terminal. Sobre essa cobertura, vocês querem dar alguns esclarecimentos?
Dr. Edilson – A cobertura, em termos de estética, representa 50% da obra. Em termos técnicos, ela será executada em treliça espacial em alumínio tubular. É uma estrutura leve, é o que se tem de mais moderno em estruturas. Para se ter uma idéia, a firma que vai executar essa cobertura é a ALUSUD-Alumínio do Sul S.A., é uma multinacional, que tem um “know-how” que lhe permite ganhar todas as concorrências do gênero. É a mesma cobertura que está sendo realizada no Terminal de Bauru (SP) e de outras grandes cidades paulistas. Creio que pouca gente de Patos já tenha visto esse tipo de cobertura. Ela foge totalmente ao tipo de cobertura convencional e o seu desenho é totalmente diferente, feito com telhas de alumínio do tipo trapezoidal de grande beleza, com camada interna de lã de vidro, que elimina em grande parte os problemas de ruídos e calor. A cobertura fica 7,5 metros acima do piso pelo projeto inicial e a firma ganhadora modificou esta altura para 8,40 metros, por questões técnicas. Com relação ao negócio de “fluviária”, devo dizer que isto não passa de uma brincadeira até infeliz da oposição, porque quem fala isto, primeiro não tem confiança na técnica e depois, não confia nas pessoas que realizam o serviço. Ora, já pensaram em se fazer aqui uma rodoviária para ser alagada? Onde estariam os nossos diplomas e os nossos nomes profissionais, para sermos “gozados” e criticados nestes termos? Acho que a brincadeira é muito séria e parte de quem não entende nada do assunto. Conforme o Honório já esclareceu muito bem, o problema não é o Terminal e sim o entorno, mas que será resolvido antes do término da obra.
Como serão a entrada e a saída de ônibus do Terminal?
Dr. Edilson – Pela frente, temos a Rua Piauí, pelo fundo a Ceará, pela direita a Barão do Rio Branco e pela esquerda a Sergipe. Os ônibus entrarão pela Rua Ceará e sairão pela Piauí. A frente principal da obra esta na Rua Piauí.
Quantos operários estão trabalhando na obra?
Eloi – Estamos no momento com vinte e dois elementos, incluindo-se o Engenheiro Dr. Ademir, o Mestre de Obras, o Sr. Randolfo no escritório, dois apontadores, pedreiros, serventes e carpinteiros.
Qual foi o maior número de pessoas trabalhando aqui em qualquer período?
Eloi – Trinta e cinco pessoas.
Nunca houve número maior de pessoas em serviço foi porque não houve necessidade de contratar ou por falta de recursos?
Dr. Honório – O problema do pessoal na obra, está diretamente ligado aos recursos que são repassados na Prefeitura, que tem que fazer a prestação de contas ao fim de cada parcela repassada, para que seja liberada a parcela seguinte. Então o número de pessoal tem sido suficiente para uma sequência dos trabalhos, sem qualquer interrupção. Aliás, devo aqui salientar a excelente cobertura do comércio local e principalmente, sem querer fazer qualquer propaganda, da VIMACO, que tem “segurado a nossas barra”; tendo dinheiro ou não, eles continuam o fornecimento, de tal maneira, que posso dizer que além desses órgãos públicos, eles é que estão garantindo a continuação da obra, sem interrupções.
Na entrevista a nós concedida pelo Dr. Wando Pereira Borges, ele disse haver conseguido 30 milhões de cruzeiros para a rodoviária, que seriam liberados ainda neste ano. O que vocês têm a dizer sobre isto?
Dr. Honório – Esses recursos estão vinculados à parte da cobertura; são conforme o Dr. Wando disse, 15 milhões do DER e 15 milhões do DNER, que serão liberados agora. De acordo com o contrato, se nós conseguirmos antecipar o pagamento, a ALUSUD nos dá um desconto. Se o pagamento fosse todo feito antecipadamente, nós ganharíamos o telhado, pois o desconto é de 6% para cada parcela antecipada. Se conseguíssemos de imediato os recursos, eu seria a favor de que se pagasse, pois teríamos um desconto total de 24% e como o Edilson já disse a firma é idônea e merece toda a confiança, com um capital de quase 1 bilhão de cruzeiros, é ela mesma que extrai o minério, a fundição é dela, o dimensionamento é dela, então, é uma firma super conceituada.
Para quando se prevê a conclusão da cobertura?
Dr. Honório – A firma tem condições de concluir o trabalho 120 dias após a assinatura do contrato.
Então os recursos concedidos no momento, serão totalmente consumidos na cobertura. E a continuação da obra?
Dr. Honório – O que teremos de fazer no momento, para receber a estrutura e a cobertura, serão apenas os 24 pilares que deverão estar prontos dentro de sessenta dias. Não poderemos fazer nada mais, porque a firma responsável pela cobertura necessitará da área livre, para movimentar seus equipamentos. Isto inclusive, pode até dar a falsa impressão de paralização da obra, o que realmente não ocorre. Os recursos virão depois para as demais etapas.
Dr. Ademir – Inclusive, não podemos ainda começar o levantamento dos pilares, porque dependemos do projeto da estrutura, que deverá chegar a qualquer momento.
Para quando se espera a conclusão da obra?
Dr. Honório – Se tudo correr bem, se não faltarem as verbas, no segundo semestre do próximo ano. Devo ressaltar que para isto, dependeremos fundamentalmente, como temos dependido até aqui, do Dr. Wando Borges e do Dr. Eli Pinheiro, porque sem eles, não teríamos conseguido nada até agora; poderíamos batalhar à vontade que de nada adiantaria.
Dr. Honório, você que coordena o Programa Cidades-Dique em nossa cidade, tem alguma informação interessante a mais do setor?
Dr. Honório – Temos mais cinco projetos que estão sendo negociados agora com o Banco Interamericano, através do Governo do Estado, os quais fecharam em torno de 5 milhões de dólares, porque felizmente, o governo está negociando agora para as Prefeituras, através de dólares. Os projetos que estão sendo executados em cruzeiros e com a desvalorização do cruzeiro, havia sempre muita dificuldade na sua execução. Os projetos que já estão prontos, em fase de negociações finais pelo SEPLAN, deverão ser executados no próximo triênio (82/83/84), na área de saneamento e urbanização. Temos mais 14 (quatorze) projetos já aprovados pelo Banco para o mesmo triênio. Então, nos próximos três anos, serão aplicados em Patos, dentro do Programa, 12 (doze) milhões de dólares, ou seja, aproximadamente 2 bilhões de cruzeiros.
Esses recursos serão todos aplicados na periferia da cidade?
Dr. Honório – A maior parte sim, porque o Programa visa o benefício principalmente, da população de baixa renda, mas como a Prefeitura tem um convênio com o GEIPOT, do Ministério dos Transportes através da Secretaria, que é a parte de planejamento de transportes urbanos, uma parte desses recursos será aplicada no centro da cidade, com sinalização e outros benefícios de transporte urbano. Entretanto, deve ficar bem claro que o Programa visa a periferia da cidade e não o centro. Para vocês terem uma idéia, eles não aceitaram o projeto da conclusão do Canal do Mamoré, abaixo da Cadeia, o que sem dúvida deve ser uma obra prioritária, em Patos de Minas.
Quantos são os pilares da construção do Terminal?
Dr. Ademir – São ao todo 235, todos eles, com uma profundidade de 4 metros, pois o terreno aqui é rochoso, onde há uma rocha de aproximadamente um metro de espessura. Inclusive na construção da caixa d’água, tivemos que ultrapassar essa rocha até uma profundidade de 7 metros abaixo desta camada. Em termos de segurança, a construção não deixa nada a desejar. A grande estrutura é composta de 24 pilares de 70 x 70 centímetros, com uma profundidade de 4 metros e 8,40 metros acima do nível. A infra-estrutura é formada de 235 pilares de 12 x 30 cm, com 4 metros de profundidade e 3 metros acima do nível. É por isso que podemos dizer sem medo de errar, que o que está construído representa metade da obra.
Quanto já de gastou de cimento, ferro, areia e cascalho?
Dr. Ademir – Gastamos em torno de 550 metros cúbicos de concreto que seriam representados por 3.500 sacos de cimento, 300 metros cúbicos de areia, 270 m³ de brita, 210 m³ de cascalho lavado, 9.200 kg de ferro e 1.600 m² de formas de madeira.
Vocês querem deixar alguma mensagem?
Dr. Honório – Apesar de eu estar há pouco tempo aqui em Patos de Minas, acho que tem havido muita desunião entre as pessoas que dirigem e comandam a cidade. Volto a afirmar que se não fosse o Dr. Wando Borges, como Secretário Geral do Ministério dos Transportes e o Dr. Eli Pinheiro, como Vice-Diretor Geral do DER, com toda certeza, não teríamos este Terminal Rodoviário e nem estaria a cidade de Patos, incluída no Programa Cidades-Dique, porque isto, como bem afirmou o Secretário de Planejamento, Paulo Hadad, dia 12 de julho aqui, foi feito exclusivamente em atendimento a uma solicitação pessoal do Dr. Wando. O orçamento de Patos é muito pequeno e se não for com ajuda dos Governos Estadual e Federal, não só Patos, como nenhuma outra cidade tem condições de progredir e se não houver união e uma força “puxando para um lado só” nada será possível.
* Fonte: Entrevista publicada na revista A Debulha, do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca.
* Foto 1: Do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca, publicada em 22/11/2013 com o título “Nova Rodoviária em Construção”.
* Foto 2: Projeto da nova Rodoviária, do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca.