O jornal O Trabalho fez a cobertura das primeiras sessões de cinema em Patos de Minas no ano de 1907, por meio do Biógrapho dos empresários José Rodrigues Zica e José Pecci. As projeções repetiram-se com geral agrado “tendo contudo causado estranheza à plateia o proceder de alguns moços que, com seus gritos, perturbavam os expectadores, a ponto de merecerem por parte do proprietário ligeira admoestação”. Certo é que a novidade que era o invento dos irmãos Lumiére, bem depressa ganhou o Brasil, trazida pelos proprietários ambulantes.
Em 1910, temos notícias de projeções cinematográficas em Patos, feitas por Domingos Gomes. Mas, o primeiro prédio próprio para cinema foi construído por Arthur Thomaz de Magalhães, que inaugurou o Cinema Magalhães em 10 de maio de 1913. Dispunha de 105 assentos avulsos, além dos destinados a assinantes.
Sobre as primeiras sessões, a edição de 16 de julho de 1907 do jornal publicou o seguinte comentário:
Agradaveis as duas horas passadas na noite de quinta feira, no barracão onde funciona o biographo de propriedade dos Snrs. José Rodrigues Zica e José Pecci.
Com regular concurrencia apesar do intenso frio, e no meio de geral alegria, deu-se a 1.ª exibição de quadros, constantes do programma adrede distribuido com profusão, e a bôa impressão causada fez esperar maior successo nos espectaculos subsequentes. Não podemos afirmar serem os trabalhos perfeitos; seria faltar ao dever que nos impuzemos, de critico severo e justo; alguns ha por exemplo que deixam algum tanto a desejar como o quadro “Banho de mar” e alguns outros, cuja reproducção na tela, ou por vicio nas peças ou por impericia foi algum tanto defeituosa; em compensação os outros quadros, maxime “Dansa de um esqueleto”, “Cavallaria no mar”, “Gata gulosa”, “Chegada de um trem em Lisbôa”, “Efeito de um purgante” e, outros foram reproduzidos com bastante perfeição, merecendo por vezes os appausos do publico.
Deixamos de consignar nestas linhas a impressão que nos causou o quadro “Manobras da Cavallaria Riograndense”; receiamos que a nossa apreciação seja levada em conta do bairrismo excessivo; diremos apenas que a reproducção foi irreprehemsivel.
Como previzamos, o espectaculo realisado no dia 13, mereceu as honras de uma enchente à cunha, sendo necessario sustar a venda de bilhetes, medida tomada pelo Snr. Daniel Belluco, delegado em exercicio.
Apesar de serem um pouco defeituosas algumas peças, provocou verdadeiro enthusiasmo a reprodução da vida de Christo, executada com perfeita verosimilhança e admirável nitidez.
Devendo ser repetida hoje, a pedido, esta parte do programma, fazemos um apelo a uma diminuta parte do publico, para que esses actos, que representa tudo o que de mais sacrosanto ha para um coração de christão, sejam acolhidos com silencioso respeito, sem as intespestivas gargalhadas que no dia 13, ouvimos, e que muito depõe contra o nosso cultivo religioso, para não dizermos mais.
As demais peças foram bem executadas, sobresahindo ainda entre ellas a Cavalaria Rio grandense, sempre bella e querida do publico.
Lembramos aos dignos proprietarios do Biographo a necessidade de augmentar o recinto, ou na impossibilidade, dar maior ordem aos bancos da platéa, de modo a acommodar maior numero de espectadores.
Hontem devia ter se realisado outro espectaculo no qual seriam exibidos episodiosdiosecente guerra grandiosa entre o Japão e a Russia.
Hoje esperamos outra extraordinaria enchente; previnam-se as Exmas. familias a tempo, afim de não se verem no risco de ficarem sem logares.
* Fontes: Jornal O Trabalho, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam; Domínios de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.
* Foto: Cinematógrafos Pathé e Gaumont, em Ronaldofotografia.blogspot.com.