TOSSE DOS CANIS

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TOSSE 1A Traqueobronquite Infecciosa Canina ou Tosse dos Canis é uma doença contagiosa caracterizada por provocar nos cães infecção respiratória de início súbito, secreção naso-ocular e ataque agudo de tosse. Os sinais clínicos são dependentes da etiologia. Para cães que se infectaram com um único agente, a doença é geralmente branda e auto-limitante. Mas é alta a ocorrência de infecções causadas por múltiplos agentes, com consequente agravamento dos sinais clínicos. A Bordetella bronchiseptica e o vírus da Parainfluenza Canina são os agentes mais comuns. Entretanto, outros vírus e bactérias podem influenciar no progresso clínico e resultado da infecção. É uma doença sazonal, ocorrendo mais frequentemente nos meses frios. Já foram desenvolvidas vacinas para a maioria dos agentes associados à doença. A vacinação é recomendável, principalmente aos animais que costumam ser hospedados em hotéis ou que vão para canis e pet shops. Entretanto, ocorre também em animais mantidos em domicílios, podendo afetar cães de qualquer faixa etária.

As formas de transmissão mais comuns se dão através do contato direto entre cães, ou contato indireto, pelo ar, através de secreções respiratórias (aerossóis). Os agentes podem ainda se disseminar rapidamente por fômites¹ em ambientes intensamente contaminados. Após o animal ter se infectado, os agentes virais poderão ser transmitidos por cerca de duas semanas. Para a Bordetella bronchiseptica, a transmissão pode ocorrer por mais de 3 meses. Animais a partir de duas semanas de idade já são considerados suscetíveis. A maioria das infecções é de baixa intensidade ou até inaparente, entretanto a morbidade² pode ser alta, variando de 25 a 75%. As mortes são raras, podendo ocasionalmente ocorrer, se houver infecção bacteriana secundária.

Embora a Bordetella bronchiseptica e o vírus da Parainfluenza Canina sejam os principais causadores da doença, é difícil relacionar os sinais clínicos com uma bactéria ou um vírus particular. A tosse, resultado da irritação da traqueia, brônquios e bronquíolos é chamada de “tosse de ganso”. Pode se apresentar em variados graus com ou sem secreção nasal purulenta e piora com o exercício físico. Os sinais podem se agravar caso ocorra infecção secundária. Pode haver ainda engasgo e ânsia de vômito. Há duas formas de apresentações clínicas da doença, sendo a primeira acometendo cães vacinados contra Adenovírus e Cinomose, caracterizada por um ataque de tosse seca como um som “roncador”, que é geralmente acompanhada de expectoração de muco. Este pode ser espumoso ou pode ser despercebido, se o animal o engolir. O exame físico não demonstra nada digno de nota, embora a tosse possa ser facilmente induzida pela manipulação da traqueia. O curso clínico da doença é de 1 a 3 semanas. Em alguns casos, pode ocorrer uma pneumonia intersticial ou uma broncopneumonia.

A segunda forma ocorre normalmente em cães sem vacinação ou exposição natural prévia aos agentes. É provável que cães afetados tenham uma história recente de permanência em pet shop, canil ou hotel. Nesta forma, os sinais clínicos são mais severos. A tosse pode não ser produtiva, com ou sem rinite e com secreção nasal e ocular mucoide a mucopurulenta. A tosse do animal parece causar dor e alguns cães relutam a tossir. Complicações associadas com broncopneumonia podem ameaçar a vida do animal. Podem ser observadas tonsilite, rinite e conjuntivite. No exame físico, o animal usualmente está febril e pode estar letárgico, anoréxico ou dispnéico. A doença pode afetar mais de 50% dos animais, em locais com alta densidade populacional, e pode ocorrer em qualquer época do ano com sinais sistêmicos como debilitação, febre persistente e coriorretinite. Na prática não há uma preocupação em se realizar o diagnóstico definitivo da Tosse dos Canis, mas sim se descobrir se há uma complicação da doença.

Os casos de Tosse dos Canis que não tiverem complicação se resolvem sem tratamento dentro de 4 dias a 3 semanas, dependendo da severidade. Mas o desconforto que a doença causa para os animais e para os proprietários justifica o tratamento. Os cães que possuem sinais persistentes por mais de 2 semanas devem ser avaliados para complicações secundárias ou para a reavaliação do diagnóstico. Terapia sistêmica com antibióticos é indicada caso se desenvolva uma infecção respiratória mais profunda, como uma broncopneumonia bacteriana ou pneumonia intersticial. Geralmente deve ser empregado o nível mais elevado da faixa de doses recomendadas dos antibióticos, administrados sistemicamente por 10 a 14 dias, para se atingir o epitélio brônquico e a traqueia, que é onde a Bordetella bronchiseptica se localiza. Os antitussígenos, sós ou em combinação com broncodilatadores, são indicados apenas se a tosse for improdutiva e persistente, ou se estiver interferindo no sono do animal. No entanto, quando há pneumonia bacteriana a administração de narcóticos antitussígenos não é recomendada.

A nebulização pode ser empregada em pacientes com acúmulo excessivo de secreções nos brônquios e na traqueia, efetuada durante 10 minutos, por máscara facial.

Alguns veterinários têm sugerido que animais com Tosse dos Canis, ao utilizar apenas uma dose de vacina intranasal, podem ter benefícios terapêuticos. Os animais que podem beneficiar-se são aqueles que apresentam uma tosse persistente, além do tempo esperado de cura, ou aqueles animais que são continuamente expostos a outros animais, em canis ou hotéis. Cães que apresentam sinais agudos da Tosse dos Canis não irão se beneficiar terapeuticamente da vacinação intranasal.

TOSSE 2As vacinas estão disponíveis contra a maioria dos agentes que tem papel na patogenia da Tosse dos Canis e vem sendo utilizadas em programas de vacinação na rotina clínica. Algumas das vacinas disponíveis são para uso parenteral e outras intranasal. As vacinas de uso intranasal parecem ter melhor efeito, pois induzem uma imunidade local, protegem o animal contra uma infecção e contra a doença e, ainda, não estão sujeitas à interferência dos anticorpos maternos. São administradas em filhotes em três doses com um intervalo de 2-4 semanas. A duração da imunidade não está ainda bem estabelecida, mas as indicações dos fabricantes recomendam reforços anuais em adultos. Para uma vacinação efetiva, cães suscetíveis devem ser vacinados pelo menos 10 dias antes que ele entre em contato com cães infectados. A ocorrência de reações adversas depois da administração parenteral da vacina é rara e limitada a uma irritação no local aonde foi feita a injeção. Apesar das vacinas intranasais serem capazes de induzir imunidade local e sistêmica, elas podem ser associadas com o desenvolvimento de tosse e/ou secreção nasal 2 a 5 dias após a inoculação.

Para evitar a disseminação da doença, os cães suspeitos de possuírem uma doença respiratória contagiosa devem ser isolados por mais de duas semanas, quando os primeiros sinais aparecerem. Quando possível, o melhor é o animal ficar na casa do proprietário do que no canil ou no hospital veterinário. Em adição à vacinação, condições adequadas nas instalações, que devem estar devidamente limpas e com ventilação adequada, são fatores essenciais para prevenir o desenvolvimento da doença, sempre que cães sejam hospedados em ambientes com alta densidade populacional. Para desinfecção das instalações pode ser usado hipoclorito sódico, clorexidine ou solução de benzalcônio.

A bordetelose humana é uma das infecções respiratórias mais comuns em crianças e adultos imunossuprimidos e, apesar de incomum, já foram reportados casos de pneumonia por Bordetella bronchiseptica em humanos, como uma zoonose. A imunossupressão humana geralmente está relacionada ao alcoolismo, má-nutrição, alterações hematológicas malignas, terapia com glicocorticóides por longos períodos, infecção por HIV, esplenectomia e gravidez. As pessoas submetidas a traqueostomia ou entubação endotraqueal também apresentam alto risco, assim como pacientes com doença respiratória pré-existente, como bronquite crônica ou pneumonia. Proprietários que sejam imunossuprimidos precisam estar cientes de que há risco de adquirirem infecções zoonóticas oportunistas. Se crianças ou adultos imunossuprimidos tiverem contato apenas com cães domiciliados, o risco de se infectarem por Bordetella bronchiseptica através destes animais será pequeno.

Resumindo, a Tosse dos Canis não é apenas uma doença auto-limitante pois, se o animal for infectado por associações de agentes etiológicos, os sinais serão mais graves e a taxa de mortalidade aumentará. O tratamento é muito importante, pois além de proporcionar conforto ao animal, facilitando sua respiração, evitará que infecções secundárias agravarem o curso clínico da doença. Como é transmitida principalmente por aerossóis, a doença apresenta uma morbidade altíssima. A prevenção é primordial, principalmente em ambientes com alta densidade populacional. Há controvérsia sobre qual vacina é mais eficiente, a intranasal ou a parenteral. A vacinação intranasal induz imunidade local e sistêmica e não se verifica interferência com os anticorpos maternos, mas há ocorrência de reações adversas. A vacinação parenteral, apesar de só induzir imunidade sistêmica, não causa reações adversas. Então, irá depender da idade do animal e da própria preferência do veterinário para escolher qual a melhor opção. Se o animal for mais novo, é eficaz a vacinação intranasal devido a interferência dos anticorpos maternos. Já se o animal tiver mais idade, a vacinação parenteral será mais eficaz. Caso o animal necessite de uma resposta rápida à vacinação, o uso da vacinação intranasal é preferível, pois induz imunidade local.

* 1: Qualquer objeto inanimado ou substância capaz de absorver, reter ou transportar organismos contagiantes e infecções.

* 2: Termo usado para designar o conjunto de casos de uma dada doença ou a soma de agravos a saúde que atingem um grupo de indivíduos, em um dado intervalo de tempo e lugar específico.

* Fonte: Traqueobronquite Infecciosa Canina – Revisão, de Simone Crestoni Fernandes (Médica Veterinária autônoma graduada pela Universidade Paulista (UNIP), Selene Dall’ Acqua Coutinho (Professora Doutora das Disciplinas de Microbiologia, Doenças Infecciosas e Zoonoses do Curso de Medicina Veterinária da UNIP) e Fernandes SC, Coutinho DAS.

* Foto 1: Drviniciusvellone.blog.terra.com.

* Foto 2: Bordetella bronchiseptica, de Pt.wikipedia.org.

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