CAIXA DE CORREIO INGRATA

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Animado, por volta das nove horas da manhã de um sábado de sol radiante, o Edinho resolveu descer até a garagem do edifício onde mora, na Praça Abner Afonso, para dar uma pequena limpeza na lataria e no interior do seu possante Ford Focus cinza-claro ano 2002, saboreando uma lata de 473 ml de cerveja geladíssima devidamente aconchegada num recipiente de isopor.

Estava lá o Edinho na sua nobre atividade quando chegou na garagem uma sua vizinha – uma das que pretende visitar o Astro Rei à noite para evitar queimaduras. Os dois se cumprimentam, ela se dirige à caixa de Correio, verifica o conteúdo, nada lá dentro, volta com cara de poucos amigos e se manda. O Edinho nem ligou e continuou caprichando na limpeza de seu possante Ford Focus cinza-claro ano 2002.

Não deu nem dez minutos e eis que a vizinha voltou à garagem, os dois se cumprimentaram novamente, ela se dirige à caixa de Correio, verifica o conteúdo, nada lá dentro, dessa vez fechando a portinhola da caixa de Correio com violência, volta com cara de pouquíssimos amigos e se manda. O Edinho nem ligou, mas que começou a considerar estranha a atitude da vizinha, isso sim. E continuou caprichando na limpeza de seu possante Ford Focus cinza-claro ano 2002.

Pouco mais de dez minutos, lá veio outra vez a vizinha na garagem e desta vez nem se preocupou em cumprimentar o Edinho. Muito nervosa na caixa de Correio, chegou a gritar de raiva por não ter uma única correspondência na dita caixa do Correio. Voltou enfezada, o Edinho disse um “oi” e ela passou direto. E o Edinho, mais sereno que Tatu em sua toca durante ventania e peixe em enchente, continuou caprichando na limpeza de seu possante Ford Focus cinza-claro ano 2002.

Mais uns dez minutos, eis que a mulher voltou para a caixa de Correio. Mais uma vez verificando a caixa vazia, entrou numa espécie de desespero, de raiva, de revolta, e começou a xingar a coitada caixa de Correio, batendo a tampa com avidez a ponto de rompê-la. Não teve jeito e o Edinho foi obrigado a deixar momentaneamente seu agradável afazer para amainar a nervosia da mulher:

– Minha vizinha, qual o motivo desse nervosismo?

– De ontem pra hoje meu computador deu pra informar que a minha caixa de correio está cheia. Aí eu chego aqui embaixo e na caixa de correio não tem nada pra mim. Ô ódio, tão me fazendo de tola, só pode.

Na sua manha característica, o Edinho administrou muito bem a sua vizinha em vários sentidos, e ela, finalmente, percebeu a diferença entre caixas.

Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.

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