MATADOURO REFORMADO X ABATES CLANDESTINOS

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TEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1985)

Existem certos problemas de uma comunidade, que apesar de sua acentuada seriedade, se arrastam sem solução, durante anos e anos, sem que ninguém possa entender a razão, já que deveriam estar no rol das prioridades.

Na escala das prioridades os assuntos que coloquem em risco a saúde ou a vida do povo devem ser aqueles que recebam a maior atenção de todos e muito especialmente dos poderes públicos, o que lamentavelmente nem sempre acontece e foi exatamente isto, o que ocorreu com a carne consumida pela nossa gente, durante anos a fio.

Construído no início deste século, o Matadouro Municipal¹ passou por várias reformas para cumprir seu objetivo de abastecer o mercado de carne de bovinos e suínos ali abatidos, mas apesar de tantos esforços no passado, nos últimos anos, a precariedade de suas instalações gerava tanta falta de segurança e higiene, que a maioria dos açougueiros, associando a tendência natural do brasileiro de fugir aos impostos, sob a alegação de se obter melhores condições de higiene, preferia abater seus animais “no mato”, como se convencionara dizer, para designar o abate clandestino feito em fazendas ou até mesmo em lotes vagos e fundos de quintais.

Com isto, sem a inspeção de um veterinário, chegavam aos ganchos dos açougues e em seguida ao prato do patense, tanto a carne de animais próprios para o consumo como a daqueles portadores de doenças contagiosas muitas vezes. O povo reclamava e nada se conseguia. Comissões e mais comissões foram criadas para tentar resolver o grave problema e até ameaças sérias chegaram a ser feitas àqueles que buscavam o cumprimento da lei. Várias formas foram tentadas até que finalmente, a atual Administração Municipal, que tem se mostrado decidida a solucionar novos e velhos problemas, resolveu encarar com a coragem e seriedade exigidas.

Lançando mão de 30 milhões de cruzeiros do Ministério da Agricultura, a Prefeitura retirou de seus cofres outros 210, perfazendo o total de 240 milhões e remodelou totalmente aquele prédio, dando-lhe plenas condições de cumprir a contento o seu objetivo, dentro dos princípios da mais rigorosa higiene e pela contratação de um Médico Veterinário, entregando-o à população no último 21 de abril².

E como quem cumpre seu dever, tem o direito de exigir, o Prefeito anunciou amplamente que daí em diante, não se perderia tempo em vigiar passos de açougueiros, mas tão somente seria feita a fiscalização estribada em lei.

Decorridos pouco mais de sessenta dias desde a entrega oficial do Matadouro reformado, no transcorrer desta última quinzena, dois estabelecimentos foram autuados pela comercialização de carne de animais abatidos clandestinamente.

É de se lamentar que tais fatos ainda ocorram, quando já não mais existem as desculpas de outrora. É profundamente lamentável que a falta de escrúpulos faça com que os infratores não tenham a mínima preocupação com a saúde do povo. Mas por outro lado, foi bom que isto tenha acontecido para servir de exemplo a todos os açougueiros e para que nós possamos estar confiantes naqueles que têm o dever de zelar pelos nossos
interesses.

* 1: Leia “Histórico do 1.º Matadouro Municipal”.

* 2: Leia “Reforma no Matadouro Municipal é Concluída”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Moral Para Exigir” no Editorial do n.º 120 de 31 de julho de 1985 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Publicada em 10/11/2023 com o título “Reforma no Matadouro Municipal é Concluída”.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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