TEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1985)
Há poucos dias foi entregue à comunidade, com manifestações festivas, aliás muito justas, a nova sinalização e o novo sistema de trânsito de Patos de Minas, que conforme se divulgou, custou aos cofres públicos a significativa cifre de duzentos milhões de cruzeiros (centro e quarenta e três da Secretaria de Estado de Transportes e noventa e sete da Prefeitura Municipal).
O sistema constituído de mais de mil placas de advertência, dezoito conjuntos de semáforos e seiscentos e sessenta metros quadrados de sinalização horizontal (pintura no asfalto), segundo várias manifestações que já ouvi, é quase que perfeito, tendo condições de proporcionar a todos a maior segurança.
Muita coisa foi dita e escrita como orientação e advertência antes de sua implantação e sabe-se até que um dos clubes de serviço da cidade está fazendo uma campanha educativa nas escolas da cidade, porém, como já afirmei daqui em outras ocasiões, este tipo de trabalho poderá dar excelentes resultados a longo prazo, pois lamentavelmente, o nosso povo de um modo geral, no momento, não está preparado nem educado para respeitar as mínimas coisas mediante simples advertências ou orientações como as ministradas nos primeiros dias seguintes à implantação oficial da sinalização, por um pequeno número de policiais e inconstantes turnos.
Chegada a Festa do Milho entretanto, o pequeno contingente disponível foi deslocado para o policiamento do Parque de Exposições e adjacências, ficando toda a cidade praticamente sem nenhuma fiscalização de trânsito e foi ai então, que fiz questão de observar e anotar alguns dos inúmeros casos de total desrespeito à sinalização, sempre com o conhecimento do erro por parte dos infratores, pois deduz-se que todo motorista tem o dever de conhecê-la. Sou testemunha de inúmeros casos de:
– mão de direção desrespeitada;
– faixas de pedestres invadidas acintosamente;
– estacionamento em locais proibidos, fora da faixa própria e muitas vezes dentro da faixa contínua, e até debaixo de placas indicativas de estacionamento proibido, numa clara manifestação de total desrespeito;
– caminhões trafegando pela Avenida Getúlio Vargas, que foi premiada de uma extremidade a outra, com placas de proibição ao referido tráfego;
– os bicicleteiros (bicicleteiros sim, porque ciclista é o termo que deve ser reservado aos raríssimos usuários da bicicleta, que o fazem com consciência e respeito) têm aprontado uma verdadeira anarquia e isto deve constituir um capítulo à parte.
Agora mesmo (17:34 horas do dia 27 de maio), acabo de presenciar o estacionamento de um caminhão carregado de balas de oxigênio, que nem poderia ter entrado na Getúlio Vargas, quase debaixo de uma daquelas placas que apresentam “um camiãozinho cortado por uma faixa vertical vermelha”, no lado do jardim, oposto à faixa própria de estacionamento. Piada ou pirraça ???
Como a Festa do Milho terminou ontem, espero que o policiamento volte a ser feito, mas tenho comigo que ele só será eficiente, se o contingente for amentado, para fazê-lo em todos os turnos do dia e também nos finais de semana e não para advertir e orientar apenas, mas para multar com rigor, porque somente assim, poder-se-á impedir que aqueles duzentos e quarenta milhões sejam jogados fóra e que nossa moderna sinalização seja totalmente prostituída.
E não duvido até, que inadvertidamente eu também acabe entrando no rol dos multados…
* Fonte: Texto publicado com o título “Para que não se Prostitua” no Editorial do n.º 116 de 31 de maio de 1985 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
* Foto: facebook.com (transideal), meramente ilustrativa.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.