TEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1985)
Há certas coisas que são proteladas enquanto se pode e foi isto o que aconteceu com o recapeamento do asfalto das ruas centrais da cidade. Executado há trinta anos ou mais, as sucessivas administrações, vieram ao longo dos anos recuperando-o das escavações feitas para ligação de novas redes de água e esgoto, ou para recuperação das antigas, ou do desgaste natural do atrito. Para isto contava a Prefeitura com uma insignificante taxa de conservação de calçamento, cobrada junto ao imposto predial e territorial urbano.
Não obstante todos os esforços, os remendos sempre deixaram muito a desejar e além disto, o desgaste natural atingiu tal estágio, que já não mais se podia pensar em remendar o asfalto, tornando-se imprescindível o recapeamento de todas as ruas centrais e aí surgia o problema: como poderia a Prefeitura realizá-lo com os parcos recursos da taxa de conservação, à qual muitos proprietários se apegavam, recusando-se a concordar com qualquer despesa a mais?
Diante disto, poucas, muito poucas ruas foram recuperadas nas últimas décadas, até que agora, com a aquiescência da maioria dos proprietários em pagar o melhoramento, foi iniciada uma operação geral de recapeamento, que além de proporcionar excelentes condições de tráfego, vem melhorar sensivelmente o visual de nossas ruas.
Todo mundo sabe dos transtornos que os melhoramentos e o progresso trazem a uma comunidade até que se concretizem, e neste caso não seria diferente. Ruas interditadas para aquele trabalho, provocam a impaciência de muitos, que preferem às vezes, pela sua imprudência, prejudicar o que está sendo realizado, invadindo as áreas interditadas com placas indicativas de trânsito impedido, causando sérios danos à camada asfáltica recém-compactada.
O trabalho é realmente difícil de ser concluído com êxito total, pois segundo informações técnicas que obtive, torna-se necessário um período de seis meses para a “cura” do asfalto, ou seja, para que ele atinja o seu ponto máximo de resistência, tempo este pelo qual logicamente, é impossível manter-se uma rua interditada. Mas, segundo a mesma fonte de informação, o tráfego de veículo em sentido horizontal, sem retornos ou freadas buscas, até contribui para a melhor compactação.
O que não pode continuar acontecendo, é o que tem ocorrido. Em dias da semana passada, vi em um trecho da Rua Olegário Maciel, dois sulcos profundos ocasionados por pneus de algum veículo que fez um balão − talvez em grande velocidade − sobre a camada de asfalto ainda aquecida. Inúmeros buracos de dez ou mais centímetros de diâmetro, junto ao meio-fio na mesma rua, estavam sendo feitos pelos triplés das motocicletas que ali estacionam e junto a eles também, podiam-se notar profundas depressões causadas pelos pneus de veículos estacionados, principalmente os pesados.
A ação depredadora tem sido tão abusiva, que o Prefeito chegou a encaminhar uma nota à imprensa, apelando pelos cuidados que se fazem necessários para não prejudicar ou destruir o que está sendo feito a tanto custo.
Cabe pois a todas as pessoas, atender o gentil apelo e se o beneficio que a comunidade recebe agora, foi retardado durante tantos anos, pela resistência de muitos proprietários em participar com sua cota, que só agora está sendo paga, aliás a preços elevados, nada mais lógico que eles principalmente, procurem zelar pela conservação do que está sendo feito.
* Fonte: Texto publicado com o título “O Apelo do Prefeito” na edição n.º 110 de 28 de fevereiro de 1985 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
* Foto: pt.vecteezy.com, meramente ilustrativa.