QUESTÃO DO NOVO ASFALTO EM 1952

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7De 30 a 50 mil metros a nova área a ser asfaltada – Obedecer-se-á à vontade do povo para a seleção das ruas a serem asfaltadas – Caloroso debate entre os vereadores Waldemar da Rocha Filgueira e Alexandre José da Silva – Confirma o Snr. Prefeito o seu espírito de manter com os vereadores a maior cordialidade, em benefício do Município.

Dadas as divergências de opiniões surgidas entre os moradores de algumas ruas que se achavam incluidas no novo plano de asfaltamento da Cidade, dos quais cêrca de 80% manifestava-se a favor do asfaltamento e os outros 20%, sob o pretexto de não estarem em condições de arcar com os impostos oriundos de tal serviço, fazia-lhes ferrenha oposição – resolveu o Snr. Prefeito Municipal ventilar a questão com os representantes do Legislativo Municipal, convocando, para tanto, uma reunião noturna, que teve lugar na Sala de Sessões da Câmara.

Os trabalhos foram presididos pelo Snr. Prefeito Municipal, Jacques Corrêa da Costa que, iniciando-os, fêz uma exposição do assunto, no pé em que se encontrava. Primeiramente mencionou S. Excia. a grande quantidade de requerimentos que lhe têm sido apresentados os quais, subscritos quasi que pela totalidade dos moradores de diversas ruas, constituem veemente apêlo daquelas pessôas para que o asfalto seja estendido até suas respectivas ruas, além de pedidos verbais que lhe têm sido formulados com a mesma insistência. Há entretanto outros moradores que, alegando exiquidade de recursos para pagamento das taxas e impostos originários do asfaltamento, apelam para que suas ruas sejam excluídas do plano, surgindo daí um impasse, cuja solução demanda meditados estudos. Declara o Snr. Prefeito que deseja solucionar o caso de acordo com o próprio povo, através de seus representantes ali presentes, deixando, em seguida, o assunto à consideração dos Snrs. Vereadores.

O primeiro vereador a usar a palavra é o Snr. Dr. João Borges que, desejando apresentar sua parcela de orientação aos serviços, caso venham a ser executados, pondera que para se asfaltar a Avenida Getúlio Vargas, na parte à direita da Rua General Osório, ter-se-á que construir uma rêde de esgotos para defender as ruas mais baixas ao longo da Avenida, das águas pluviais que, em caso contrário, escoariam para alí em grande volume devendo portanto a referida rêde ter uma dimensão aproximada de 2 metros por 2 metros.

O Vereador Zama Maciel adverte que o asfaltamento obrigatoriamente implicaria a execução do serviço de esgotos e que, portanto, nenhuma rua seria pavimentada sem que, em dimensões estudadas, fossem construídas as devidas redes. Ainda com a palavra, afirma o Vereador Zama Maciel que o calçamento da cidade envolve principalmente uma questão de higiene e saúde públicas, pois que se tem constatado aqui copiosas ondas de gripe e outras moléstias, o que se não poderia atribuir a outra coisa senão à poeira. Expõe assim o seu ponto de vista, concluindo por sugerir que as ruas mais movimentadas sejam todas pavimentadas, calçando-se a pedras as de menor trânsito.

Trazida à baila a questão da Rua Silva Guerra, empenham-se em acalorada discussão os Vereadores Waldemar da Rocha Filgueira e Alexandre José da Silva, ambos com a intenção de defender os interesses do povo daquela rua, embora com divergência de pontos de vista. O Snr. Waldemar da Rocha Filgueira pondera a inconveniência do asfaltamento da rua em aprêço, visto que alí residem pessôas de recursos financeiros flagrantemente modestos para arcarem com as pesadas texas e impostos oriundos do serviço. Esclarece que se estivesse falando em defesa de seus exclusivos opinaria incontinente pelo asfaltamento, mas que isso não se dava pois que sua missão, no momento, era oficialmente de vereador e conclui suas palavras ilustrando seu ponto de vista com a citação de alguns moradores da referida rua que, na hipótese do asfaltamento, ver-se-iam obrigados a venderem suas propriedades por não poderem pagar as texas e impostos obrigatórios. Levnta-se em seguida o Vereador Alexandre José da Silva, refutando radicalmente as observações do vereador que o antecedeu na tribuna. Assegura ser a Rua Silva Guerra a artéria mais importante da cidade, depois da Major Gote, já por ligar o bairro do Brasil e a saida de uma de nossas mais movimentadas estradas ao centro da cidade, jé pela notabilidade de seu comércio, ou pelo trânsito de pedestres e veiculos que alí aumenta dia a dia, não obstante a poeira inclemente, terminando por lembrar que o asfalto valoriza consideralvelmente as propriedades alí existentes. Todos os Srs. Vereadores parecem ficar acordes com o Snr. Alexandre José da Silva, uma vez que seu ponto de vista envolvia principios mais sensatos. Concebemos descabida mesmo essa hipótese suscitada pelo Snr. Waldemar Filgueira de se excluir a Rua Silva Guerra do plano de asfaltamento da cidade.

Consultados os Senhores Vereadores sobre a área a ser asfaltada, quasi todos ficam de acordo que ela seja a maior possível, já que a maioria do povo assim o quer, conforme poude depreender da exposição feita pelo Snr. Prefeito. O Vereador Snr. Ary Lacerda sugere que o novo contrato a ser firmado com a firma Menezes & Munis seja feito numa base de 50.000 metros. Há uma troca de idéias entre os Senhores Vereadores, chegando-se à conclusão de que a área a ser asfaltada fique entre 30 e 50 mil metros, a critério do Snr. Prefeito o qual poderá proceder estudos fundados nos pedidos que lhe têm sido feitos com tanta insistência.

Voltando a falar, promete o Dr. Jacques Corrêa que pleiteará junto à firma empleiteira um aumento de prestações no plano de pagamento, visando com isso facilitar a solução do compromisso por parte dos Snrs. proprietários.

Ao declarar encerrada a reunião, agradece a presença dos Snrs. Vereadores e reafirma o seu espírito de manter com os mesmos a maior cordialidade, em beneficio do Municipio.

NOTA: A primeira rua asfaltada foi a Tenente Bino. Leia “Tenente Bino: A 1.ª Rua Asfaltada”.

* Fonte: Texto de Ivo Mello Júnior publicada com o título “Discutida a Questão do Novo Asfalto” e subtítulo “Reuniram-se Prefeitos e Vereadores Para Debaterem o Importante Assunto” na edição de 1.º de setembro de 1952 do jornal O Reporter, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, publicada em 04/02/2013 com o título “Asfaltamento da Avenida Getúlio Vargas”.

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