CULTURA NEFASTA DO BARULHO

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TEXTO: EITEL TEIXEIRA DANNEMANN (2023)

Lá ia eu tranquilamente mastigando uns amendoins torrados pela Rua Maestro Randolfo quando, chegando na esquina com a Avenida Paracatu, ouvi o inconsequente ronco de uma moto com escapamento adulterado, daquelas costumeiras que dão tiros horrorosos. No semáforo da dita esquina, uma jovem conduzindo uma idosa numa cadeira de rodas estava atravessando a via na faixa de pedestres. Nesse instante, a moto barulhenta parou no sinal vermelho e fez vários vruns-vruns tão horripilantes que a idosa começou a agitar os braços e as pernas intensamente. A jovem, num gesto de desagrado, reclamou com o motoqueiro. Este, um dos autênticos dominados pela baixa autoestima que zanzam pela Cidade com o único propósito de chamar a atenção para si, simplesmente deu uma risada para ela e demonstrando que os pais falharam em não terem produzido um Homem e sim um estrume da sociedade, fez aquele tradicional gesto com o dedo em riste. Quando o sinal abriu, esse exemplo de estrume da sociedade fez questão de sair urrando a sua máquina adulterada o máximo que pôde. E eu fiz questão de ajudar a jovem a acalmar a idosa.

Os últimos dois anos de vida de meu pai não foram nada fáceis. Acamado, com Alzheimer e extremamente irritadiço, só na base do calmante para mantê-lo ameno. Quanto vezes em casa, ele, num soninho gostoso, se viu sobressaltado com o atroz barulho das motos e dos carros com som nas alturas. Na semana final de sua vida, praticamente ausente do mundo, estava num apartamento do Hospital Imaculada Conceição com janela para a Avenida Getúlio Vargas. Foi no momento de uma visita médica ao apartamento que um desses desgraçados de moto parou no sinal na esquina com a Avenida Brasil. Ele urrou tanto a sua máquina adulterada que meu pai, que não pronunciava uma única palavra há dias, arregalou os olhos e, sabe-se lá como, surpreendeu a todos os presentes, principalmente ao médico, quando exclamou numa voz vacilante: − Filho da puta! Dito isso, voltou ao marasmo, e o desqualificado foi procurar outras vítimas.

Tenho um amigo com um filho autista de seis anos que reside no Bairro Sobradinho. E quem conhece esse problema, sabe como é difícil lidar com isso. Contou-me ele que num dia, nove horas da noite, estava no quarto do garotinho preparando-o para uma boa noite de sono. De repente, passou um veículo com o som tão alto que tremeu as vidraças e disparou alarmes de carros estacionados por ali. Instantaneamente, o garoto se agitou, e para complicar, logo a seguir veio uma dessas motos de entregadores com um barulho tão ensurdecedor que provocou em seu filho um estado de agitação intensa no qual o pai demorou mais de duas horas para acalmá-lo.

Eis aí apenas três casos nefastos sobre esse problema gravíssimo de saúde pública. Patos de Minas tem atualmente pouco mais de 27 mil motos registradas. Dessas 27 mil motos, praticamente 98% têm o escapamento fora das normas da Lei, seja por falta de manutenção ou por adulteração. Quanto aos carros com som nas alturas, não há dados estatísticos, mas é fácil ouvi-los a cada poucos minutos. Diante disso, impressionante é que pouco se ouve os barulhos de carros normais, o que se destaca, de segundo a segundo, é o barulho perturbador de motos e carros com som nas alturas e alguns também com escapamentos fora do padrão, além de alguns caminhões. Com isso, de manhã, à tarde, à noite e de madrugada, sofrem os idosos, os acamados, os hospitalizados, os autistas, os que apenas buscam sossego em seus lares e até os animais de companhia.

Esse gravíssimo problema de saúde pública é presente em todos os 5568 municípios do Brasil, sem exceção, mais o Distrito Federal e excluindo o Distrito Estadual de Fernando de Noronha, pois neste não há a presença de tal infortúnio. Combater esse nefasto infortúnio nas metrópoles e grandes cidades é totalmente impossível. Quem mora nelas, que se adapte usando protetores auriculares ou se mude de lá. Mas, numa cidade ainda pequena como Patos de Minas com quase 160 mil habitantes de acordo com o Censo/2023, estando esse nefasto infortúnio presente 24 horas por dia, é a realidade de um poder público incapaz e que não tem respeito algum ao Contribuinte.

Consultando a Internet sobre esse assunto, percebe-se um mundaréu de Municípios com a proporção populacional como a nossa cujo poder público está lutando ferozmente contra esse nefasto infortúnio, com ótimos resultados para a satisfação dos Contribuintes de cada um deles. Enquanto isso, aqui em Patos de Minas, o nosso poder público é totalmente omisso, há décadas. Realiza-se blitz de vez em quando e só, o que é o mesmo que enxugar gelo.

Para tudo há solução, com uma única exceção: a morte! Portanto, para esse nefasto infortúnio patense, há solução, e muito simples, como, por exemplo, o atual ocupante do trono da prefeitura emitir um decreto-lei dando um prazo de 60 dias para todos os proprietários de motos ajustarem os escapamentos como determina a Lei. Após esse prazo, uma ação policial intensa estará espalhada pelas ruas para apreender todas as motos barulhentas, com altíssima multa, isso ininterruptamente. O mesmo para os carros com som alto. Outro exemplo é o poder público em conjunto com a policia militar solicitar, através de todas as mídias, que o incomodado fotografe a placa da moto e do carro barulhento e envie para a polícia, anonimamente como o disque-denúncia. Então, a polícia vai convocar o proprietário da moto e do carro e verificar se faz barulho ou não. Constatado o fato, apreensão do veículo e multa no ato. Imagine você aí as motos e carros barulhentos sabendo que vai ter gente fotografando as placas de seus veículos e que a polícia vai receber e procurá-los para autuação. Só isso vai preocupá-los, muitíssimo. Interessante é que o atual ocupante do trono da prefeitura emitiu decreto-lei proibindo a venda de bebidas alcoólicas na pandemia do Covid-19 e não emiti decreto-lei proibindo motos e carros barulhentos. Contrassenso! Solução há para o Contribuinte patense se ver livre desse nefasto infortúnio de motos e carros barulhentos. O problema é que há dois problemas: um poder público que não tem comprometimento algum com o Contribuinte e uma imensa maioria de Contribuintes que não reclama e se cala diante disso, suportando a zoeira dolorosamente por motivos que só eles, os Contribuintes silenciosos, podem esclarecer.

Se a pequena Patos de Minas com quase 160 mil habitantes tivesse um poder público comprometido com o Contribuinte, poderia ser uma Cidade amena, com pouco barulho, oferecendo uma vida mais saudável a todos os seus habitantes, onde se poderia estar no aconchego do lar sem contratempos nas conversas e num simples assistir televisão. Infelizmente, a zoeira nos domina.

Lembra o tempo da Ditadura, quando o general da vez determinava o que queria só de acordo com a sua vontade, ou não determinava de acordo com a sua vontade o que o Contribuinte queria, pouco se importando com o Contribuinte? Alguma diferença com a Democracia do voto de hoje? Nenhuma, pois se na Ditadura o Contribuinte tinha que se sujeitar às decisões dos generais, hoje, na Democracia do voto, continuamos na mesma situação, sujeitando-nos às decisões de quem está no poder. Se fomos escravos na Ditadura, continuamos escravos na Democracia do voto, dependendo da vontade dos donos do poder! Se o executivo, o legislativo e o ministério público se lixam para esse gravíssimo problema de saúde pública, a foto é esclarecedora. Então, Contribuinte, capriche no protetor auricular e continue inutilmente votando, pois o próximo poder público vai continuar te desrespeitando como sempre! Democracia, onde só o poder público manda, que faz o que é preciso só quando tem vontade? Às favas com essa Democracia!

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann.

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