ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNOMEDIADA PRIMÁRIA EM CÃES

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A Anemia Hemolítica Imunomediada Primária (AHIM) é o distúrbio imunológico de maior prevalência em cães. Caracteriza-se como uma hipersensibilidade do tipo II, que leva a destruição prematura de hemácias. Dentre as principais complicações, o estado de hipercoagulabilidade predispondo a coagulação intravascular disseminada e tromboembolismo pulmonar é a mais importante, sendo a causa de óbito em mais de 80% dos casos. O diagnóstico é realizado a partir da exclusão de outras causas para anemia e por meio da constatação de um ou mais desses sinais: anemia moderada a grave, evidências de hemólise (hemoglobinemia, hemoglobinúria ou hiperbilirrubinemia) e presença de anticorpos na hemácia (caracterizado a partir da auto-aglutinação, esferocitose, teste de Coombs positivo ou citometria de fluxo). O tratamento é direcionado à supressão da resposta imune, sendo os corticosteroides e os imunossupressores, os fármacos de predileção.

O mecanismo pelo qual a AHIM leva à hipercoagulação e predispõe ao tromboembolismo ainda não foi esclarecido. Acredita-se que a liberação de tromboplastina a partir de hemácias lisadas, ativação plaquetária, hipóxia, liberação de mediadores inflamatórios, lesão endotelial e alteração da viscosidade sanguínea contribuam para o processo. O uso de corticosteroides e terapia imunossupressora também são fatores potenciais para a hipercoagulabilidade, sendo que as complicações tromboembólicas foram associadas como importante causa de morte em animais tratados para AHIM.

A AHIM primária não pode ser associada à causa predisponente obvia, além de predisposição racial, portanto é diagnóstico de exclusão. As raças mais acometidas são os Cockers Spaniel, Bichon Frise, Pincher e Collies, sendo as fêmeas mais predispostas que os machos, podendo haver ainda influência hormonal. A média de idade dos animais acometidos é de seis anos, mas pode ocorrer no primeiro ano de vida ou até os 13 anos de idade.

As manifestações clínicas dependem do tempo de aparecimento (agudo ou crônico) e da intensidade da anemia. Animais com desenvolvimento crônico apresentam mecanismos compensatórios melhores estabelecidos, manifestando com menor intensidade taquicardia e taquipnéia. Cães com manifestação aguda apresentam mais frequentemente síncopes e intolerância a exercícios, além de taquicardia e taquipnéia. Sintomas inespecíficos como apatia, anorexia, vômito e diarreia são comuns a ambas manifestações. Além disso, pode ser observado ao exame físico organomegalia esplênica e hepática, icterícia e/ou palidez de mucosas, linfoadenomegalia e hipertermia.

O tratamento é direcionado a supressão da resposta imune. Glicocorticoides, azatioprina, ciclosporina, leflunomida e micofenolato de mofetila são os imunossupressores mais utilizados. Imunoglobulina intravenosa é utilizada em casos mais graves. A terapia requer longos períodos de tratamento, sendo necessários em alguns casos transfusões sanguíneas, fluidoterapia e antibioticoterapia como tratamento suporte. O tratamento é de alto custo, pois além dos agentes imunossupressores também pode incluir despesas com internação, transfusões sanguíneas e exames frequentes para acompanhamento. Há ainda, o desgaste emocional e frustrações do proprietário, uma vez que a doença é passível de apresentar recidivas, o tratamento pode se prolongar por várias semanas, a vida toda e, a despeito de todos os esforços, a taxa de mortalidade varia entre 26 a 70 %. Por isso é aconselhável que o Médico Veterinário trabalhe na conscientização do proprietário quanto ao tratamento e prognóstico. Novos estudos são necessários para o melhor estabelecimento de protocolos de tratamento, pois muito do que se utiliza em medicina veterinária é uma extrapolação de estudos e de medicamentos usados em doenças imunomediadas em humanos. A alta taxa de mortalidade se deve, em parte, pela falta de indícios clínicos que permitam identificar quando o paciente está em risco tromboembólico.

O prognóstico é reservado, a resposta completa ao tratamento pode levar semanas a meses, e alguns pacientes podem necessitar de tratamento contínuo ao longo da vida. O índice de mortalidade varia de acordo com a literatura entre 26 a 70 %. Apesar desta variabilidade, há consenso de que a doença tromboembólica é a maior causa de morte. Anormalidades de coagulação, principalmente coagulação intravascular disseminada (CID) e estado de hipercoagulabilidade, particularmente o tromboembolismo pulmonar, estão relacionados a causa de óbito. Clinicamente é muito difícil reconhecer essas anormalidades, sendo o teste viscoelástico (tromboelastometria e tromboelastografia) a forma mais completa de avaliar a hemostasia do plasma e componentes celulares, predizendo sobre quando o paciente entra em risco trombótico.

* Fonte: Anemia Hemolítica Imunomediada Primária em Cães − Revisão de Literatura, de Bruna dos Santos, Regina Kiomi Takahira, Roberta Martíns Basso e Tatiana Geraissate Gorenstein, em docplayer.com.br.

* Foto: Adoropets.com.br.

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