PAPILOMATOSE ORAL EM CÃES

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A papilomatose oral, frequentemente encontrada na espécie canina, é uma afecção infectocontagiosa causada por um agente etiológico viral, do gênero Papilomavírus e família Papovaviridae, sendo caracterizada pelo desenvolvimento de massas proliferativas neoplásicas benignas (denominadas de papilomas).

A ocorrência é comum em todos os estados do território brasileiro e demais países, não havendo descrições na literatura sobre a influência climática na incidência desta afecção. As formas de transmissão são o contato direto ou indireto com secreções e sangue procedente dos papilomas ou de instalações e equipamentos previamente contaminados. A morbidade (conjunto de causas capazes de produzir uma doença) é consideravelmente alta em hospitais e clínicas veterinárias, canis e ambientes fechados com grande quantidade e rotatividade de animais. O período de incubação da doença varia em torno de seis meses. Pode acometer cães de qualquer idade, porém os jovens (com menos de um ano) e os imunodeprimidos são os mais comumente acometidos.

Os papilomas caracterizam-se por presença de massas salientes, únicas ou múltiplas, de tamanhos variados, que inicialmente apresentam-se com aspecto liso e aderidos em regiões cutâneas e mucocutâneas, mas com a evolução rápida da doença tornam-se com aparência rugosa (semelhante a “couve-flor” ou “verruga”) e pedunculadas. Não há relatos atuais na literatura sobre a predisposição racial, sexual e de sazonalidade da doença na espécie canina. As massas pedunculadas podem se desprenderem facilmente, o que ocasiona sangramentos locais com consequente aparecimento de miíases no local, odor desagradável e agravamento do quadro com contaminação bacteriana. A coloração dos papilomas normalmente é branca acinzentada a negra e áreas de ulcerações podem ou não estar presentes. Os papilomas podem ser encontrados também na região genital, ocular e cutânea, porém os locais mais comumente afetados são os lábios, mucosa labial, língua, palato, esôfago, faringe e epiglote.

Dentre os sinais clínicos destacam-se disfagia (dificuldade de deglutição), sangramento oral, salivação excessiva, halitose, má-oclusão dentária em casos mais graves e infecções bacterianas secundárias. O diagnóstico deve ser baseado na idade e no histórico do animal, no aspecto macroscópico das massas orais, no exame histopatológico das nodulações seguido de microscopia eletrônica, análise da sequência de nucleotídeos (estudo citogenético) além de avaliação por reação em cadeia de polimerase. Exames hematológicos complementares também podem ser úteis para revelar doenças concomitantes à papilomatose. O diagnóstico diferencial inclui todas as neoplasias que podem comprometer a cavidade oral como os epúlides (aumentos de volume, sem ulceração, da gengiva), tumor venéreo transmissível e carcinoma de células escamosas. Papilomas generalizados em outras regiões do corpo devem ser diferenciados de dermatofitoses, lesões cutâneas secundárias a fotossensibilização e alergias decorrentes da picada de ectoparasitas.

Por ser autolimitante, na maioria das vezes os papilomas possuem regressão espontânea em quatro a oito semanas após o aparecimento das massas, porém alguns casos tornam-se crônicos, principalmente quando o sistema imunológico do paciente não está reagindo corretamente.

Nos casos que necessitam de tratamento, indica-se a identificação e correção da causa primária de imunossupressão associada a exérese (retirada) cirúrgica dos papilomas, assim como eletrocirurgia, crioterapia com nitrogênio líquido, administração de fármacos antivirais e homeopáticos (Thuya), realização de auto-hemoterapia, aplicação de vacina autógena, medicamentos imunomoduladores e sessões de quimioterapia sistêmica ou intralesional. A remoção cirúrgica e a eletrocirurgia são indicadas em cães com papilomas orais isolados ou persistentes após os demais tratamentos não invasivos. O prognóstico é favorável desde que removida a causa primária de imunossupressão do paciente e institua os tratamentos preconizados, o que também evita recidivas.

O vírus da papilomatose já foi encontrado em mais de 20 espécies diferentes de mamíferos, bem como em aves e répteis. Os cães acometidos com infecções imunossupressoras ou debilitantes como a erliquiose, cinomose e parvovirose são mais suscetíveis à papilomatose, pois as doenças concomitantes favorecem a replicação e manifestação clínica do vírus envolvido, já que o sistema imunológico desses animais não está totalmente maduro.

A patogenia da papilomatose na espécie canina não é tão severa quando comparada aos bovinos de leite. Nesta última espécie, a enfermidade também é conhecida como “figueira dos bovinos ou verruga do gado”, gerando perdas econômicas significativas pelo acometimento no ganho de peso, produção de leite e depreciação do couro. Em humanos, já foram identificados mais de 100 tipos diferentes de vírus do papiloma, porém as massas proliferativas decorrentes dessa doença são semelhantes às encontradas em cães e também contribuem para a progressão tumoral, principalmente no cólon uterino que é um grande causador de milhões de mortes em mulheres em todo o mundo e neoplasias orais como o carcinoma de células escamosas e outras potencialmente malignas.

A papilomatose é uma doença infectocontagiosa oportunista, frequentemente encontrada na cavidade oral de animais da espécie canina, principalmente nos acometidos por afecções imunossupressoras concomitantes e como o desenvolvimento dessa afecção é progressivo, o diagnóstico associado a medidas terapêuticas e profiláticas precoces podem proporcionar melhora na qualidade de vida dos pacientes.

* Fonte: Papilomatose Oral em Cães, de Fernanda Gosuen Gonçalves Dias, Lucas de Freitas Pereira, Cristiane Alves Cintra, Cristiane dos Santos Honsho e Luis Gustavo Gosuen Gonçalves Dias, em conhecer.org.br (01/12/2013).

* Foto: Peritoanimal.com.br.

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