Em 19 de setembro de 2019 a Orquestra USP-Filarmônica se apresentou no Centro de Convenções e Eventos (CCE) do UNIPAM. Aldo e a esposa Maria Antonieta, apaixonados por música clássica, resolveram comparecer ao espetáculo, principalmente pelo custo do ingresso: dois quilos de alimentos não perecíveis que seriam destinados a entidades beneficentes da Cidade. A apresentação estava marcada para as oito e meia da noite. Uma hora antes, Aldo recebe uma ligação de um primo, produtor rural no Distrito de Alagoas:
– Primo, dá preu durmi hoje aí? Chegando aí te explico.
Com a devida concordância, o primo explicou o motivo e o Aldo explicou que iria a um concerto com a esposa e que ele ficasse à vontade até voltarem. No ato, o primo, participante da Folia de Reis da comunidade e que fora isso só ouve música caipira de raiz e que entende bulhufas de orquestras filarmônicas, perguntou o que os dois iriam consertar? Foram dez minutos para o primo entender a diferença entre conserto e concerto. E não é que o primo resolver ir para conhecer? E foram os três.
Já com uns trintas minutos de concerto, Aldo e Maria Antonieta ficaram impressionados com o primo, vidrado na apresentação, prestando atenção em cada movimento de todos os músicos, chegando em alguns momentos a suspirar, o que levou o Aldo a perguntar:
– E aí, primo, está gostando?
O primo apenas respondeu com um balanço de cabeça e continuou vidrado naquilo que via e ouvia. Mas quando uma soprano se apresentou à frente da orquestra e soltou a característica voz aguda, o primo se mexeu na cadeira e começou a ficar inquieto. E quanto mais a voz aguda da soprano se alastrava pelo ambiente, mais o primo se contorcia. E passou a reparar também no maestro. E assim, fitava o maestro e depois a soprano, fitava o maestro e depois a soprano… até que não resistiu e perguntou ao Aldo:
– Primo, não entendo nada do que aquela dona canta e, que coisa mais esquisita, sô, por que aquele sujeito de preto com uma vara na mão está ameaçando ela?
Com muita paciência, Aldo explicou que o sujeito de preto é o maestro e que a vara na mão é a batuta e que ela auxilia o maestro a reger a orquestra e a mulher é chamada de soprano e… Não deu tempo para o Aldo terminar a explicação, porque o primo foi incisivo:
– Se o cara de preto com a vara não mão não tá ameaçando a dona, por que então ela tá gritando?
Ainda bem que, em casa, a noite terminou bem para o Aldo e para a Maria Antonieta com os causos divertidíssimos contados pelo primo, este que nunca mais se atreveu a comparecer a um conserto… êpa, quer dizer, concerto.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.