CIZÂNIA NA FILA DA LOTÉRICA

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Os portugueses Joaquim e Manoel se sentiam felizes em casa dos parentes. Era a primeira vez que os irmãos vinham ao Brasil. Há muito os dois queriam conhecer o país que já fora deles e, principalmente, visitar seus tios e primos que há muito haviam escolhido terras patenses para seus negócios. Num bate-papo, um tio perguntou:

– Vocês já ouviram falar da Megasena?

Como a resposta foi não, foi-lhes explicado o que era a tal modalidade de aposta e que eles deveriam arriscar, pois o prêmio estava acumulado em 84 milhões de reais. E o dois foram acompanhados de um primo, não só para arriscarem a sorte no jogo, mas também para conhecerem o Centro da Cidade. Chegando àquela lotérica da Rua Major Gote com Olegário Maciel, a única que não tem fila única e por isso é uma verdadeira bagunça dentro daquele estabelecimento, resolveram lá arriscarem a sorte.

– Enquanto vocês apostam vou ali num caixa eletrônico − disse o primo.

Assim, Joaquim e Manoel, mais perdidos que cego em tiroteio no meio daquela balbúrdia, ficaram em dúvida sobre onde era o fim de cada fila para se posicionarem adequadamente. O Joaquim lamentou:

– Vamos, Manoel, vamos procurar outro lugar de apostas mais organizado.

O Manoel:

– Não podemos sair daqui, Joaquim, temos que esperar o primo.

E assim, os irmãos se firmaram para descobrir o final de uma das filas. Foi quando o Joaquim percebeu um rapaz daqueles com tatuagens até dentro da uretra, e indeciso entre a multidão. Então, inocente, o Joaquim perguntou:

Gajo, tás com essa bicha aqui ou com aquela?

E a cizânia se estabeleceu. Primeiramente, o rapaz entendeu gajo como um xingamento. Segundamente, os dois últimos de cada fila apontados pelo Joaquim ficaram irados por serem chamados de bichas. Quando o primo chegou a coisa já partia para além dos empurrões mútuos. Tudo foi serenado depois das devidas explicações: lá em Portugal gajo é rapaz e bicha é fila. Vai daí que Joaquim e Manoel ficaram dez dias em Patos de Minas e, em qualquer lugar, sempre com um parente ao lado.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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