PAPO MATERNAL

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Como em qualquer pequena povoação, seja em que distrito for, dizem que a vida é mais tranquila, mais segura, mais saudável, maior o contato com a natureza e por aí vai. Dá para acreditar, pois nessas pequenas povoações não existem as zoeiras da Sede, como a barulheira do trânsito, principalmente das desagradáveis motos com seus escapamentos adulterados, de carros com som nas alturas e a cambada de vagabundos que perambulam pelas ruas. Um exemplo é a povoação de Lanhosos, onde mora o João Paulo, que faz questão de enfatizar que há uma característica importantíssima: todos se conhecem pelo nome, estão sempre se cruzando pelos trechos do espaço e vire e mexe se confraternizam por qualquer motivo. Óbvio, pois nada é perfeito, de vez em quando surge uma cizânia entre eles, mas coisa rara, sem maiores gravidades. E mais óbvio ainda, pois nenhuma comunidade está livre de larápios, de vez em quando aparecem alguns por lá ou nas fazendas, mas ainda sem maiores gravidades.

Muito religioso, juntamente com sua esposa Marinete, João Paulo estava chateado com a interdição da Igrejinha em 2017 por risco de desabamento. Mas, Graças, através da mobilização dos moradores, ela foi reformada e reinaugurada em agosto do ano seguinte para alegria de todos os moradores, pois coincidiu com a celebração da Festa em Louvor ao Bom Jesus. Foi uma festança e muita alegria. E foi nessa festança que o João Paulo comunicou aos amigos a gravidez da esposa Marinete. Não demorou muito tempo o assunto gravidez e crianças se espalhou entre eles:

– Que gracinha, tá com quantos meses?

– Já sabe o sexo?

– O meu vai nascer no final de dezembro, tomara que seja no Natal, para ser o nosso maior presente, não é, marido?

– Vai ser parto normal ou cesária?

– Filho é bom demais, sá, você vai ver. O meu está com um ano e meio e já está andando há dois meses.

Nesse momento, estava passando o Seu Zé e entrou na conversa:

– D. Maria, seu menino já está com um ano e meio? Nossa Senhora da Abadia, como o tempo passa ligeiro. E pelo que a senhora acabou de dizer, que ele já está andando há dois meses, cruz credo Ave Maria, se por um acaso ele pegou a estrada do cumpadre Chico, já deve ter cruzado o Córrego do Brejo, o Ribeirão das Contendas e, se bobear já cruzou a rodovia 365 e nessas alturas do campeonato, nesses dois meses, já deve chegado nos Vieiras. Ou quem sabe ele foi em direção ao Aragão e aí, nossa, ele teria que atravessar o Rio Paranaíba e aí tem que saber nadar. Ele já sabe nadar, D. Maria?

Enquanto o Seu Zé falava, a turma escutava embasbacada, sem saber se ria ou chorava. Foi então que a D. Maria calou o Seu Zé:

– Vai zombar da tua mãe, frogoió!

Sorrateiramente, o Gumercindo se mandou e o papo maternal continuou, entrecortado por muitas risadas.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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