ASSALTO, O

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

O aposentado Mário, oitenta anos de idade muito bem vividos, mora no Bairro Lagoa Grande. Infalível de domingo a domingo, toda manhã, por volta das oito horas, sai com seu cão Dálmata − que pela nova nomenclatura não é mais cão e sim pet e o Mário não é mais o dono ou o proprietário do seu pet Dálmata, e sim o seu tutor − para uma caminhada em volta da orla da lagoa, prestando o máximo de atenção para não pisar nos dejetos intestinais dos caninos cujos donos pouco se importam com quem por lá frequenta − característica nefasta naquele cartão postal da Cidade. Como teve berço, o Mário recolhe o cocô do seu amigo com orgulho de estar sendo útil à comunidade.

Certo dia, depois do tradicional passeio com seu cão Dálmata, e do tradicional recolhimento do cocô do amigo de companhia, o Mário se direcionou até o escritório da CEMIG não muito longe de onde mora no intuito de sanar uma pendenga com a empresa de eletricidade. Não, nada de conta atrasada, pois o Mário não atrasa nem um segundo nem o horário do seu remédio para controlar a pressão. Ele foi na CEMIG para reclamar de um poste com a luz apagada em frente à sua residência, fato que já o irritava há dois meses e que não irrita só ele, pois esse tipo de problema é useiro e vezeiro em toda a Cidade. Então, lá ia o Mário, já chegando na CEMIG, quando, passando em frente a um comércio, ouviu em alto e bom som:

– É um assalto!

Desesperado, o Mário, dentro das possibilidades que suas pernas de oitenta anos lhe permitiam, chegou na CEMIG suando por todos os poros e com a pressão já acima dos 19/15 comunicou o fato aos funcionários num estardalhaço danado dizendo até que ouviu um tiro. Imediatamente um deles ligou para a polícia. Como a bandidagem atualmente é tanta como grãos de areia numa praia, e por causa disso a polícia é mais atarefada que hospital de campanha em guerras, mesmo assim demorou apenas quinze minutos para chegar um carro da polícia − que hoje atende pelo nome de viatura − que imediatamente cercou o comércio. Nas cercanias, já tinha muita gente na expectativa de apreciar cenas de cinema, como tanto o povo aprecia. Entretanto, em questão de poucos minutos, o caso foi resolvido na maior serenidade.

Ora, nada mais foi do que um cliente do dito comércio, assustando-se com o preço de uma mercadoria, soltou o tal de é um assalto. O Mário? Tadinho, enquanto o povo em volta o procurava, entrou num ônibus do transporte público em frente a Rodoviária e foi para a casa de um parente no Bairro Planalto para esperar a poeira baixar. Se ele levou o Dálmata? Fiquei sabendo não!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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