CEGOS AMIGOS SE ESTRANHAM NO BAR BRASIL

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Na esquina da Rua Dr. Marcolino com Avenida Brasil funcionou um bar que fez muito sucesso nos anos 1960/70, principalmente entre os apreciadores de uma boa pescaria que ali costumavam se encontrar para contarem suas mais absolutas verdades. Bar Brasil era o nome do estabelecimento, que servia um caldo de galinha com açafrão que a turma saboreava aos litros. Entre os frequentadores habituais havia uma dupla de cegos que não era apreciadora da arte de pescar, mas adorava ouvir os causos. Certa, vez, o Vanir Amâncio, ao perceber um dos cegos tateando a mesa à procura do saleiro, resolveu fazer uma brincadeira com os dois. Chegou a eles e disse:

– Ei, por que você jogou sal no copo de caldo de galinha do seu amigo?

Numa questão de segundos os dois começaram a discutir. E o Vanir atacou novamente:

– Uai, cara, você também jogando sal no copo de caldo de galinha do seu amigo?

Dito, o delator voltou à sua mesa e todos danaram a rir presenciando a discussão dos dois cegos. Discussão essa que parecia não ter fim. No início, parecia que não ia sair de simples reclamações. Quando as palavras começaram a se tornar mais ásperas, foi a vez do Hélio Amorim atacar:

– Gente, que é isso, para que esses gestos horríveis que estão fazendo um para o outro, parem com isso, vocês são amigos.

Mas eles não pararam e o troço foi esquentando, esquentando, de repente um se levantou e danou a falar muito alto, o que motivou o outro a se levantar também e falar igualmente alto, a temperatura foi esquentando mais ainda, até que a turma da brincadeira começou a ficar preocupada com o desfecho do imbróglio criado por eles quando percebeu que cada um já segurava firmemente a sua bengala sabe-se lá com que intenções. Foi então que o Fernando Dannemann comentou que ia dar um jeito de acabar imediatamente com aquela desavença porque o trem não ia acabar bem. Em alto e bom som ele gritou:

– Pelamordedeus, cuidado com essa faca, sô, você vai acabar acertando seu amigo!

No ato, um dos cegos sumiu pela porta da Rua Dr. Marcolino e o outro chispou pela porta da Avenida Brasil.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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