TEXTO: BRITO FREIRE (1944)
E’ possível que a madrugada de 1944 tenha trazido novo nome à nossa terra¹.
E’ provavel que o dealbar do novo ano seja o sepulcro de uma denominação que empolgou os nossos antepassados e lhes custou somas sem conta de lutas e sacrificios.
E’ natural que essas reminiscencias ajuntadas ao habito e costume às nossas tradições maiores, ferroem dentro de nós o apego ao passado sem rendição incondicional ao presente.
A realidade, entretanto, dispensa carpideiras e lamentações e deve ser encarada de frente com o mesmo animo de luta e encorajamento com que sempre porfiamos.
Grande ou pequeno, redondo ou comprido, malsoante ou eufonico, luso ou tupi-guarani, qualquer que seja o novo nome por que foi rebatizado nosso recanto sertanejo, devemos recebe-lo com entusiasmo e alviçaras, estreitá-lo no nosso afeto e no nosso carinho com a mesma viveza e com a mesma alma com que fizemos sempre ressoar o nome triunfante de Patos.
A questão de nomenclatura não impedirá os nossos inadiaveis surtos de progresso.
O novo ano marcará certamente o inicio dos inumeros beneficios, expontaneamente prometidos pelo Governo, que sabe honrar a palavra dada, à luzida comitiva de Cascas-Grossas², constituida de gente ilustrada com verniz do progresso e do florescimento.
Esse trabalho de folego que contou em sua dianteira com a dedicação sem par de Olegario Tiburcio, de Chichico Campos, do Cel. Osorio Maciel, de Arlindo Porto, de Afonso Queiroz, de Vicente Mandú e de outros elementos de destacado relevo no municipio, receberá os primeiros sorrisos no decorrer deste 1944 promissor.
A mudança de nome jamais impossibilitará, este ano, a prestes inauguração da magnifica praça de esportes³, otimamente localizada na cidade, que vai adestrar a nossa mocidade, desenvolvendo-a fisicamente no escopo de “mens sana in corpore sano”.
Não impossibilitará. tambem, que o espirito forte do Prefeito Fonseca Sobrinho, ao lado de outros progressos, distenda a rede de esgotos que já projetou, saneando a cidade da praga sibilante das insaciaveis muriçocas.
Outrossim, não criará empecilho, nem com os horrores atordoantes da guerra que tudo dificulta, à inauguração auspiciosa da nova energia elétrica4 que vai realçar os encantos da cidade à noite, e permitir o maior desenvolvimento com a instalação de grandes industrias, fontes de riqueza e de esplendor que farão o municipio de outro nome relembrar, em 1944, a têmpera e vigor do velho e inesquecivel municipio de Patos dos anos anteriores.
Seja benvindo, pois, o ano novo que, beneficiando o municipio a mancheias, cornucopia de felicidades nos trará.
* 1: Leia “Patos Mudará de Nome?”, “O Dia em que Patos Deixou de Ser Patos I e II”, “O Patense Agradece o Retorno ao Nome Original da Cidade”.
* 2: Leia “Movimento dos Cascas Grossas”, “Preparativos Para a Viagem dos Cascas Grossas Com o Sonho da Estrada de Ferro”, “A Partida dos Cascas Grossas”, “Cascas Grossas − Um Exemplo a Seguir”, “No Embalo dos Cascas Grossas”.
* 3: Leia “Iniciada a Construção da Praça de Esportes, o Futuro PTC”, “Piscina e Sede/Vestuários do PTC em Construção em 1946”, “A Chapada na Década de 1940”, “A Chapada em 1945”.
* 4: Leia “Anunciada a Construção da Usina das Lages”, “Usina das Lages − Decreto-Lei n.º 49”, “Iniciada a Construção da Usina das Lages”, “Rodovia da Usina das Lages − 1942”, “Eletricidade: Da Lamparina à CEMIG − Histórico da Força e Luz”.
* Fonte: Texto publicado com o título “Ano Novo” na edição de 02 de janeiro de 1944 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.
* Foto: Três parágrafos iniciais do texto original.