NOSSO HINO POR STÊNIO CAIXETA

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Diretor do Conservatório Municipal Galdina Corrêa da Costa Rodrigues, o músico Stênio Caixeta sempre teve olhar especial sobre o hino do município. E que bom ter sido assim, pois desse interesse pelos versos que homenageiam a antiga Vila de Santo Antônio nasceu um trabalho detalhado e muito importante para Patos de Minas. Em entrevista à Diretora de Comunicação da prefeitura, ele explica melhor essa história.

Stênio, o que motivou essa “recuperação” da versão original do hino de Patos de Minas?

Sempre senti falta de ver mais crianças e a população patense em geral cantar ou ao menos conhecer melhor o hino a Patos. Como professor do conservatório, sempre o incluí no repertório dos grupos em que trabalho nessa tentativa de divulgá-lo mais.

Buscando esse objetivo, há algum tempo pensei em fazer a transcrição da música, mas uma partitura organizada, clara e acima de tudo confiável do nosso hino, porque o que vi até agora foram algumas transcrições feitas a mão na internet e de qualidade duvidosa. A intenção era disponibilizá-la de forma gratuita, é claro, para a população por meio do site da prefeitura e das escolas, servindo como referência para a consultas dos patenses.

Somado a essa vontade de mostrar o hino a mais pessoas, recebi convite da Dimep para apresentar um pequeno seminário sobre algum tema relacionado à cultura, tema esse em que a escolha ficaria por minha conta. Quis então falar sobre o hino a Patos, sua história, sobre os autores da música e da letra etc.

Você fez uma pesquisa maior sobre música, certo? Conte-nos mais a respeito.

Para se fazer o registro de uma música na Biblioteca Nacional (órgão responsável pelos direitos autorais de obras intelectuais no Brasil), é necessária uma partitura da música. De forma semelhante, instituições e/ou órgãos que têm músicas oficiais sempre registram a partitura oficial da música juntamente à lei na qual ela está inserida. E, pensando nisso, fui à procura da partitura oficial do hino a Patos. Fui então ao setor jurídico da prefeitura e encontrei a partitura oficial do hino anexa à Lei Municipal 966, de 9 de abril de 1968, e o que me chamou muito a atenção em breve leitura da partitura é que o que cantamos hoje não corresponde em sua totalidade à música e letra compostas por Dom José André Coimbra (compositor da música) e professor Zama Maciel (autor da letra).

E quais seriam essas diferenças ou erros encontrados, se assim podemos dizer, e o que muda no cantar e tocar do hino?

Existem alguns detalhes de grafia musical nas transcrições encontradas na internet que não batem com o original, mas se referem a pontos que ficam mais para a apreciação e trabalho dos músicos. Além desses, existem sim alguns trechos que cantamos de forma errada se confrontados com o original. São detalhes pequenos na verdade, mas, em se tratando de um hino oficial, entendo que não podem ser desconsiderados. Por exemplo, o maior deles eu considero o início do refrão, no qual cantamos “Teu céu é azul-turquesa”, sendo que no original, inequivocamente, está escrito “Teu céu azul-turquesa”, sem o  “é”. Quando cantamos a letra errada, com o “é” incluso, cantamos acentuando a letra “a” da palavra “azul”. Isso na verdade é um erro de prosódia musical, pois assim não coincide a acentuação musical e gramatical. Vejam só: ao se pronunciar a palavra “azul” não acentuamos a letra/sílaba “a”, mas sim a sílaba “zul”. Já, cantando “Teu céu azul-turquesa” sem o “é”, o acento musical/gramatical coincide de forma correta sobre a sílaba “zul” na palavra “azul”.

Outro erro na letra acontece na frase: “Ao gorjear da alegre passarada”, sendo que claramente o que consta na partitura original é “Ao gorjear de alegre passarada”, com o trecho “de a” cantado na mesma nota musical.

Há ainda outro erro que interfere no que cantamos, esse agora no âmbito musical. Na frase “Primavera de beleza”, na sílaba “be” da palavra “beleza”, temos o hábito de cantar uma nota um tom abaixo do que se encontra no original (esse erro está presente também nas já mencionadas partituras encontradas na internet). Sendo mais preciso, cantamos uma nota “do” onde na verdade o correto é uma nota “re”, isso pensando no tom de “Fá Maior”, que é o tom em que a música original está escrita. É interessante que, na partitura que se encontra anexa à lei, tem um rabisco escrito à caneta acima dessa nota reforçando que se trata de uma nota “ré”.

Há ainda outra justificativa para realmente considerar a nota “ré” como correta. A explicação aqui é mais técnica e provavelmente será melhor entendida pelos músicos:  o motivo musical cantado sobre a palavra “Primavera” é  formado pelas notas “dó, dó, sib, sol”; esse motivo é repetido logo em seguida sobre o texto “de beleza”, mas agora transposto em um intervalo de 2M, resultando nas notas “ré, ré, dó, lá”; e não “ré, dó, dó, lá” como temos cantado.

Além dos apontamentos anteriores também pesquisei sobre algumas palavras que estão erradas mesmo na partitura/letra originais, acredito que possivelmente por algum erro de digitação, no caso as palavras “azul turquesa”, “messa” e “loiro”. Mesmo conhecendo a grafia correta dessas três palavras, mas para eliminar todas as dúvidas e me dar mais segurança na pesquisa, fui à procura de dicionários da época. É importante salientar que o meu pensamento sempre foi o de manter e respeitar a grafia em vigor na época da composição da letra do hino se assim se confirmasse pela pesquisa que essas eram as grafias das palavras. Para essa verificação encontrei um dicionário enorme de 1967 formado por quatro tomos, elaborado por Antenor Nascentes. Nele pude verificar e confirmar que realmente as três palavras já mencionadas estavam mesmo escritas erradas, sendo a forma correta de escrevê-las, como era também esperado: “azul-turquesa”, “messe” e “louro”.

O objetivo agora é que o maior número de pessoas possível tenha conhecimento da versão original e correta da letra?

Sim, a intenção sempre foi essa. O erro de prosódia musical do início do refrão, por exemplo, confesso que era algo que já incomodava a alguns amigos músicos e a mim. Mas não fui em busca de encontrar e nem muito menos de apontar erros, a intenção sempre foi a de fazer uma transcrição confiável e fiel para disponibilizar para os meus conterrâneos. O hino a Patos é muito rico, tem uma música e letra muito bonitas que retratam bem a nossa linda cidade, precisamos que o nosso povo o cante mais.

* Texto e foto: Arquivo da Prefeitura de Patos de Minas.

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