TEXTO: ALBERTO TEOTÔNIO DE CASTRO (1955)
Há em Patos de Minas, na Cidade, um único Cemitério¹. E êste, tem o nome sem significação, sem encanto, de Cemitério Municipal. Simplesmente. É um nome sem graça, sem sentido mesmo.
Porque “Municipal?”
Seria interessante que tivesse um nome mais condizente, mais objetivo, que traduza, à simples dicção, grandeza, sentimentalismo, nobreza do amor, do belo ao coração. SAUDADE é uma palavra simples, mas, que é, ao mesmo tempo, de uma complexidade tôda nossa, brasileiríssima.
Basta dizer-se que é a única palavra falada e escrita que não encontra paralelo em beleza, carinho, encanto e tanto enlevo, senão em português.
No “campo santo”, onde jazem para sempre, os nossos parentes, os nossos amigos, os nossos semelhantes, aquêles enfim, que merecem as nossas lágrimas, os nossos mais profundos enternecimentos, as nossas imorredouras e inconsoláveis lembranças, pode esta necrópole ter tôdas as denominações e adjetivos de carinho, mas, nenhum se iguala a esta palavra tão béla e tão cheia de consôlo: SAUDADE!
Há por êste Brasil imenso e por êste mundo além, incontáveis Cemitérios da Saudade; porque, pois, nós, em Patos de Minas, não podemos ter o nome do atual “Cemitério Municipal” modificado para “CEMITÉRIO DA SAUDADE?” Tôdas as Ruas, Praças, e etc., têm os seus nomes, as suas denominações timbradas por Decretos governamentais. Portanto, os cemitérios também terão, no caso, que receber nomes, após apresentação de Projetos de Lei, discussão, votação e aprovação ou não dos senhores Edis, e consequente referendum do Chefe do Executivo Municipal. Portanto, aí fica a minha sugestão. Passo-a ao ilustre Vereador Joseph Borges de Queiroz, para seu aceite e encaminhamento do Projeto a seus Pares.
E que o ilustre Senhor Prefeito, Genésio Garcia Rosa, com um gesto de nobreza toda sua, se digne prestar esta grande homenagem aos vivos e aos mortos de Patos de Minas, sancionando como a sua primeira Lei Municipal, como seu primeiro ato governamental, o Decreto-lei que dê ao Cemitério Municipal local a denominação de “CEMITÉRIO DA SAUDADE”. Aí fica a minha sugestão.
Patos – Fevereiro de 1955.
* 1: Segundo os registros históricos da cidade o atual Cemitério Municipal é o terceiro a ser usado pelos patenses. O primeiro ficava na confluência das Ruas Olegário Maciel e Tiradentes e o segundo no local onde hoje está o edifício do Fórum, na Avenida Getúlio Vargas. O terceiro teve o primeiro sepultamento registrado em 28 de julho de 1911. Em 14 de agosto de 1973 a Lei 1.284 o denominou Cemitério Municipal Santa Cruz.
* Fonte: Texto publicado com o título “Cemitério da Saudade” na edição de 13 de fevereiro de 1955 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Cemitério Municipal Santa Cruz via satélite, por Showmystreet.