SEBASTIÃO ALVES DO NASCIMENTO (BINGA) − FALECIMENTO: HOMENAGEM DE UM ADVERSÁRIO POLÍTICO

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“Tune dixit eis occulte: Benedicte Deum cceli, at coram omnibus viventibus confite mini ei, quia fecit vobiscum misericordiam suam.
Elenium sacramentum regis abscondere bonum est; opera autem Dei revelare et confiteri honorilificum est”.

“Então lhes falou o anjo assim em segredo: Bendizei a Deus do céu e dai-lhe glória diante de todos os viventes, por ter usado convosco de sua misericórdia.
Porque é bom conservar escondido o segredo do rei, mas é coisa de honra manifestar e publicarar obras de Deus”.
(Tobias XII, 6 e 7

Estas palavras que encontramos no livro de Elizabeth Leseur a “VIDA ESPIRITUAL”, dão-nos o intróito para escrever e publicar uma mensagem sobre o homem que foi o deputado Sebastião Alves do Nascimento (Binga) falecido no dia 11 de dezembro de 1977.

Lembro-me de uma tarde do ano de 1959, quando carregado pelo povo, Binga subia os degraus da escadaria do antigo prédio da prefeitura municipal de Patos de Minas. Naquela tarde iniciava-se a vida de um líder político que, mais pela sua simpatia pessoal, conquistou a maioria de votos que o guindou ao posto maior da administração municipal de nossa terra, prefeito. Desde então, pelo seu dom de amenizar as coisas, foi conquistando mais simpatias e, se não realizou uma grandiosa administração, foi cordato, não ferindo aos amigos e nem tampouco a seus adversários. Recordo-me que, em muitas edições do nosso jornal criticávamos sua administração e seus correligionários ficavam mais feridos do que ele ao ponto de dizer-lhe: “Binga, nós vamos empastelar o ‘pasquim’ do Zé Maria ou dar-lhe uma surra…”. O Binga sorridente lhes respondia: “Bobagem gente, o Zé Maria agora mesmo estará aqui no Bar Central para tomar uma cervejinha com a gente. O Zé Maria é assim mesmo, escreve contra a gente mas não fica com raiva de ninguém…”.

Era assim o Binga. Sempre alegre e sem a maldade no coração. Se fazia algumas restrições a alguém eram motivadas por insuflação de seus correligionários que, muitas vezes não sabiam compreendê-lo na sua bondade pessoal. Queriam fazê-lo duro, vingativo, mas a esse papel ele se recusava. Nas lutas políticas o Binga não se exasperava, ia caminhando sempre para frente e foi por isso mesmo que ele, em 1964, elegeu-se deputado estadual, cargo que exerceu até sua morte.

Fui seu adversário político, porém seu amigo. Lutamos sempre de lados opostos. Eu do lado do partido do Juscelino Kubitschek e ele do lado do Brigadeiro Eduardo Gomes. Nunca tivemos uma discussão pessoal, eu o respeitava como gente, como homem e ele me respeitava também como ser humano e como adversário. Nas escaramuças que os partidos tiveram pelos idos tempos, o Binga não participava, aconselhava sempre moderação. Realmente, sua vida foi um corolário de amenidades políticas e de uma personalidade humana que sempre o dignificou perante seus amigos e perante o Legislativo mineiro, ao qual pertenceu durante mais de vinte anos.

Morreu o Binga. Patos de Minas ficou sem o seu representante na Assembléia Legislativa. É uma grande lacuna para todos nós que também amamos esta terra tão querida. Quem irá, agora, defender nossas reivindicações lá em Belo Horizonte? Quem irá abrir as portas do Palácio da Liberdade para uma entrevista com o Governador do Estado? É um vazio que, nem os seus eternos adversários queriam sentir ou ver. Mas é a realidade de que não podemos fugir. E agora, mais do que nunca temos que ser realistas nas lições que o Binga nos deixou e, de modo algum, nem seus correligionários e nem seus adversários políticos devem explorar seu nome, como meio de macular o que ele de tão bom coração fez pela sua terra adotiva. Já se explodem os primeiros rojões partidos de pretensos líderes que desejam, ainda sobre o seu corpo inerte na terra fria, manipular a sua herança de liderança política. Parem gente! Ainda é cedo para jogar suas cinzas ao rio da amargura ou da desesperança de uma comunidade inteira. Se queres preencher o seu lugar que o façam por merecimentos e não por arreganhos de reuniões regadas a wisque ou ao sabor de um churrasco fresquinho…

Foi o líder. Ficou o vazio de uma liderança política que, mesmo nós que fomos seu adversário em campanhas políticas, podemos deixar de respeitar e aplaudir. A morte do líder deixou mais pobre a nossa região, já tão pobre de lideranças políticas. E nós, Binga, que sempre fomos seu adversário, na política, sabemos o que isso significa para nossa terra: um desastre!

Oxalá, que, sobrepassando todas as mesquinharias do personalismo humano saibamos ser dignos dos exemplos de concordância que era peculiar ao deputado Sebastião Alves do Nascimento (Binga) − O BOM ADVERSÁRIO!

* Fonte: Texto de José Maria Vaz Borges publicado com o título “A morte de um bom adversário” na edição de 04 de janeiro de 1978 do Jornal dos Municípios, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.

* Foto: Arquivo do Sindicato Rural de Patos de Minas.

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