No meu último encontro com o Binga, uma semana antes de sua morte¹, fiz-lhe uma promessa: lutar para dar seu nome à nova rodovia Patos-Presidente, cujo início ele apressou. Um encontro que só se deu graças à diligência de d. Coracy, a exemplar companheira de toda uma vida. Explico: quando cheguei o Binga estava dormindo e já ia saindo sem vê-lo quando d. Coracy, da janela, chamou-me de volta, avisando que o Binga acordara e queria ver-me.
Durante nossa conversa, em que ele revelou um dolorida vontade de voltar a Patos, elogiei sua ação junto ao Governador², à frente de uma caravana patense, pelo início da abertura da nova rodovia Patos-Presidente.
Já contei a história antes. Aos que a conhecem, peço paciência. Afinal, estou cumprindo uma promessa. E uma promessa é algo sagrado.
Tudo aconteceu naquele encontro a que me referi há pouco. Uma caravana patense fora ao Governador pedir-lhe a construção da nova estrada para Presidente Olegário. Lá estavam o prefeito Dácio Pereira da Fonseca, o presidente da Arena Patense, Pedro Pereira dos Santos, o engenheiro Antônio Cyrino Sobrinho, outro grande batalhador pela construção dessa rodovia, e muita gente mais. E lá estava o Binga, já minado pela doença que apressou seu fim, fazendo um admirável esforço para participar daquele encontro. Mais ainda – para comandar aquele encontro.
Feita a reivindicação, veio a decepção – quando o Governador, em vez de atende-la, começou a alegar falta de recursos para tocar a obra. Foi aí que se deu a sublime explosão do Binga que, de repente, não mais que de repente, como no verso de Vinicius, transformou-se num bravo e ardoroso advogado de nossa causa, capaz de usar até mesmo argumentos arrazadores, como o de lembrar que o Estado teve dinheiro para construir outras rodovias muito mais caras e, ao mesmo tempo, muito menos importantes do que a nossa.
Não deve ter sido pequeno o assombro do Governador, ao observar aquela súbita transformação de um homem invariavelmente sereno e afável. Mas, por certo, não eram também pequenos os motivos capazes de provocá-la. Na verdade, a reação do Binga, melhor dizer, a revolta do Binga, foi a soma e todas as decepções pela série de fracassados esforços visando à construção daquela rodovia, há vários anos e Governos.
Como bem disse o pensador Carlos Bernardo Gonzales Pecotche, não é a última gota que faz entornar o copo, mas as muitas que já estavam lá dentro.
Aquela explosão, portanto, foi a explosão de muitas frustrações acumuladas, por ver uma obra tão importante para uma região inteira ser continuamente postergada e até mesmo preterida por outras de menor peso sócio-econômico.
Creio que essa explosão do Binga levou o Governador, homem inteligente e perspicaz, a repensar o problema. Assim foi que, ali e na hora, ele decidiu autorizar a construção da rodovia, após consultar, por telefone, o engenheiro Eli Pinheiro, hoje o segundo homem do D.E.P.
Foi um momento de alegria para toda a caravana patense e de intenso desafogo para o nosso querido Binga, que saiu do encontro com a alma lavada e confortadora sensação do dever cumprido.
Este foi o esforço decisivo que o Binga fez pela construção da Patos-Presidente. O último de uma longa e sofrida série e que representou a coroação de todos os esforços anteriores, de que o Binga sempre participou.
Por tudo isso, nada mais justo que se dar à nova estrada Patos-Presidente, a ser devidamente asfaltada, o nome de “Rodovia do Binga”.
NOTA: O Decreto nº 19.094, de 6 de março de 1978, dá a denominação de Deputado Sebastião Alves do Nascimento a ligação rodoviária Patos de Minas-Presidente Olegário.
* 1: Binga faleceu em 11 de dezembro de 1977.
* 2: Aureliano Chaves.
* Fonte: Texto publicado na edição de 12 de janeiro de 1978 do jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Chegando a Presidente Olegário, por Skyscrapercity.com.