Para quem conhece um pouco as lides jornalisticas, o que é um jornalzinho no interior, n’uma cidade ainda remota, como a nossa, onde a grandeza do ideal se mede pelos paramos a vencer, pelos escolhos e tropeços a transpor, mil dificuldades a superar contra o carrancismo, a reluctancia ainda de muitos na assimilação deste grande e poderoso agente de progresso, hoje tão necessario á vida dos povos − a imprensa, não é pequena gloria o despertar hoje “O Commercio”, surprehendido por uma chuva de flôres odorantes, no almo aconchego de seus amigos, que correm a saudar, na pessoa do Alfredo¹, o seu primeiro anniversario.
Um anno de luctas, mas, luctas titanicas, de provações e acrimonias extenuantes, á prova do fel e vinagre (a bôa imprensa tem tambem sua cruz), para quem conhece a vida do pobre jornalista, para os que pensam e perlustram grandezas occultas, obscuros martyrios, que felicitam a sociedade, beneficiando o meio que não as percebe, não é uma simples trivialidade, mas convidamos á admiração, e á emissão de justissimos applausos ao trabalhador indefesso, que sabe agir e soffrer pela causa publica, pela prosperidade e pela grandeza do seu Municipio, esposando todas as causas bôas, servindo de broquel ás liberdades publicas, aute-mural da ordem pela paz e pela garantia dos cidadãos.
E’ por isso que, depois d’um apertado amplexo ao Alfredo, apertamos effusivamente a mão, um a um, aos operarios cá da casa, desejando a todos, saúde e perseverança, para as conquistas da civilisação.
Não é cousa de pouca monta, ao jovem itinerante que vem d’abordar os itens do seu programma e jà conta bonita fé d’officio, o sahir illeso dos insidiosos laços que soem assoalhar-se ante emprezas d’esta ordem.
“O Commercio”, encetando hoje sua nova e luminosa translação atravez d’aureas constellações apparece, rosado e primaveril, trazendo ainda o orvalho da jornada d’hontem, prazeiroso e loução, saudando, entre alas, ás pleiades sublimes do pensamento, ás phalanges triumphadoras do jornalismo.
Que a Cidade de Patos, aos hymnos de radiante aurora, festiva eleve hosanas ao donairoso paladino e, com o signatario destas linhas, augure-lhe, por centenas, novos anniversarios. A’ republica, em Patos, viva!
Antonio de Jesus².
* 1: Alfredo Borges, redator proprietário do jornal. Pesquise “Alfredo Borges”, há muitos textos sobre ele.
* 2: Antonio de Jesus Maria José. Leia “Antonio de Jesus Maria José”, “Prof. Antonio de Jesus Contra o Protestantismo em 1925”, “Prof. Antonio de Jesus Contra o Protestantismo em 1926”.
* Fonte: Texto publicado com o título “O nosso 15 de Novembro” na edição de 15 de novembro de 1911 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.