A Companhia Nacional de Navegação Aérea foi fundada em 1935 com a finalidade de projetar, construir e vender aviões, treinar pilotos e executar serviços de transporte aéreo. O escritório de projetos da Companhia funcionou na Ponta do Caju e as oficinas na Ilha do Vianna, no Rio de Janeiro. Em 1940, a empresa iniciou o projeto de uma aeronave leve para treinamento de pilotos. Inicialmente o modelo recebeu a denominação de HL, posteriormente de HL-65, até chegar ao nome definitivo de HL-1, sendo, assim, o primeiro da série com as iniciais de Henrique Lage e idealizados pelos profissionais da Companhia, tendo como responsável pelo projeto industrial o uruguaio Luiz Felipe Marques Gonçalves e a supervisão técnica a cargo de René Vandaele.
Um exemplar deste pequeno avião HL fez história em Patos de Minas. Em 1942, a empresa Companhia Brasileira Carbureto de Calcio, sediada em Santos Dumont-MG, doou um aparelho da marca ao Aero Clube de Patos de Minas. Numa cerimônia realizada na cidade do Rio de Janeiro, o aparelho foi batizado de Olegário Maciel. A presença de inúmeras “celebridades” evidenciou o prestígio político nacional do estadista Olegário. E foi uma mulher, Nelyett Siqueira Walker, quem pilotou o avião do Rio à Patos de Minas. O jornal Folha de Patos noticiou o evento:
A cerimonia realizada, no Rio de Janeiro, de batismo do avião “Olegário Maciel”, revestiu-se de imponencia invulgar, e as homenagens tributadas à memória do grande brasileiro tocaram profundamente os corações patenses. Para que todos os nossos leitores tenham conhecimento da memorável festa cívica, tomamos a iniciativa de transcrever alguns trechos do vasto noticiário inserido no “O Jornal”, o grande matutino carioca, em seu número de 25 do mês passado. Por eles poderão aquilatar a grandiosidade das festas e a repercussão que as mesmas tiveram na sociedade da capital da República. Assim, escreve o orgão da imprensa carioca:
A evocação da figura de Olegario Maciel, na festa do avião que recebeu o seu nome, encheu de incomparavel beleza a cerimonia que fica assinalada como das mais imponentes e significativas da empolgante cruzada aviatoria.
O ministro Salgado Filho, acolhendo a sugestão dos doadores, sr. Mario e Aldo Pareto, que ofertaram a nova unidade em nome da Companhia Brasileira Carbureto de Calcio, estabelecimento que tem sua sede em Minas Gerais, na cidade de Santos Dumont, associou-se como brasileiro e como dos cooperadores do movimento renovador de outubro de 30 à justissima homenagem, que encontrou ontem, nos oradores da reunião civica do Calabouço, tão alta ressonancia.
Figuras da mais acentuada expressão intelectual participaram da solenidade, recordando todas a grande vida e a patriotica atuação do patrono da nova celula de instrução aeronautica, a quem os acontecimentos desenrolados ao país, para reintegrar a nacionalidade na posse de si mesmo, conferiram uma projeção que ele soube dilatar com a sua aguda inteligencia servida por um largo conhecimento dos homens e das coisas e com seu carater impoluto, estribado numa bravura pessoal indomavel.
Como decorreu a cerimonia
A festa aviatoria da manhã de ontem foi encerrada, precisamente, com a solenidade de batismo do “Olegario Maciel”.
Acercando-se do pequeno H. L., que tem na sua carlinga o nome do saudoso estadista mineiro, os presentes à celebração promovida pela Campanha Nacional de Aviação, usou da palavra, em primeiro logar, o sr. Assis Chateaubriand, que começou relembrando episodios da ação de Olegario Maciel em defesa do espirito de renovação nacional que foi a bandeira erguida pelos organizadores do movimento de outubro de 30.
Traçou o orador um perfil do excelso patrono, destacando a seguir a espontaneidade do gesto da Companhia Brasileira Carbureto de Calcio que se inscreveu, numa hora tão significativa, entre os que estão ajudando o Brasil a preparar elementos capazes de assumir sua defesa no mais importante dos setores das lutas modernas.
O oferecimento do avião pelo Sr. Jorge Fontenelle
Usou da palavra, a seguir, o brilhante advogado do nosso foro, sr. Jorge Dyott Fontenelle, incumbido de fazer a entrega do aparelho em nome da Cia. Brasileira Carbureto de Calcio, proferindo significativo discurso.
A oração do paraninfo, Sr. José Vieira Marques
Ouviu-se, depois, a palavra do paraninfo, advogado de tradição na cidade de Santos Dumont, onde tem sede a companhia doadora, o antigo parlamentar e secretario de Estado do governo de Minas, pronunciando belissima alocução.
Fala o Sr. Alcides Carneiro
O vibrante tribuno e antigo parlamentar paraibano, sr. Alcides Carneiro foi o orador a seguir. Falando de improviso, com a riqueza de imagens que o caracteriza, agradeceu a oferta do avião ao Aero Clube de Patos, em palavras vibrantes e cheias de fé.
Agradece o Dr. Antonio Dias Maciel
Para agradecer a homenagem pela família do patrono, falou depois, o dr. Antonio Dias Maciel, ilustre advogado nesta capital, proferindo, de improviso, formoso discurso que encantou os presentes.
Com a palavra do Sr. Gabriel Passos
Nominalmente citado no brilhante discurso do dr. Antonio Dias Maciel, sobrinho do patrono, e atendendo ao pedido insistente de amigos e admiradores presentes, falou por fim o emerito jurista sr. Gabriel de Rezende Passos, que foi um dos mais intimos colaboradores do inesquecivel Olegario Maciel, recordando lances da vida publica do estadista insigne cuja memoria estava sendo reverenciada, em palavras arrabatadouras e majistraes.
O ato Simbolico
Procedeu-se, então, ao cerimonial do batismo, tendo o capitão Ewerton Fritsch feito entrega da garrafa de “champagne” ao padrinho do “Olegario Maciel”, sr. José Vieira Marques, que assim batizou o aparelho. Seguindo, no ato simbolico, derramando “champagne” sobre a helice do avião, o sr. Mario Pareto, diretor da Cia. Brasileira Carbureto de Calcio, e sua esposa, senhora Tina Pareto, sr. Jorge Dyott Fontenelle, a senhorita Sonia Vieira Marques, filha do paraninfo; os srs. Amadeu Dias Maciel, irmão e sobrinho do patrono; o consul Castelo Branco, representante do ministro Oswaldo Aranha; a senhorita Luciana Crocchi, sr. Alcides Carneiro, pelo A. C. de Patos; srs. Gabriel de Rezende Passos, Carlos Luz e Noraldino Lima, antigos auxiliares do governo do presidente Olegario Maciel; Hamlet Gili, procurador da Companhia doadora nesta capital; aviadora senhorita Nelyett Siqueira Walker, que vai pilotar o aparelho até a cidade de Patos; o sr. A. L. de Souza Melo e o capitão Ewerton Fritsch.
Foi servida depois, uma taça de “champagne” a todos os presentes, oferecida pela Companhia Nacional de Aviação e pela Cia. Brasileira Carbureto de Calcio, sendo trocados cordiais brindes.
N. R. – Por falta de espaço, deixamos de publicar os discursos mencionados acima.
NOTA: Um mês antes, em Carolina-MA, um avião também foi batizado de Olegário Maciel. Leia “Avião Olegário Maciel – 1942”.
* Texto: Eitel teixeira Dannemann.
* Fonte: Edição de 04 de outubro de 1942 do jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto 1: Exemplar de um HL, meramente ilustrativo, de Museutec.org.br.
* Foto 2: Olegário Dias Maciel, do livro Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.