BRAZÕES DE PATOS

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TEXTO: DAMIÃO JESÍCOLA (1943)

O Dr. Antonio Maciel me sugeriu escrever para a “Folha de Patos”. Estou procurando ir ao encontro da sugestão daquele ilustre filho da terra que se elevou a berço de Olegario Maciel. Mas quero ir traduzindo o pensamento tal qual me vá ele aflorando, frente ao passado que alicerçou o presente faustoso dessa progressista cidade triangulina.

Estou a contemplar aquela vetusta vivenda do antigo Largo da Matriz, que abrigou, por muitos anos, um casal de velhos cuja encantadora simplicidade fazia segredar a nobreza conferida pela Monarquia! Quem, dos mais antigos, não se lembra daqueles dois vultos que engrandecem uma geração e legaram perpetuo resplendor de probidade, de dignidades e de bençãos aos que lhes vão sucedendo na linguagem e consanguinidade? A fidalguia forçada do casal Antonio Dias não foi mais que uma afinidade democrática entre o agraciado de Patos e o monarca democrata e “republicano”. E não passou d’aí. Não houve blazonas de brazões. E os estranhos que ignoravam ser o velho Antonio Dias portador de uma “noblesse lettre”, lhe recompensavam as qualidades naturais de fidalguia com o “coronelato” burguês que a republica instituira, sem verem o menor vislumbre de menosprezo no aceite espontaneo e cortêz.

Um casal que viveu assim, sem ostentação, que proliferou tendo unicamente por divisa a probidade em consorcio com a doçura, haveria certamente de legar à sociedade uma descendencia que, a despeito das colisões produzidas por fenômenos sociologicos transeuntes, se elevaria como criadora e patrocinadora de uma massa civilizada que já se impõe.

Aquele tronco produziu uma fronde espêssa e ramalhuda, majestosa e benefica. Um dos galhos, porem, se destacou dos demais, projetando os seus multiplos contornos sobre a larga estrada que se defrontava: Olegario Maciel. Vemo-lo moço ainda e já todo serenidade, ocupando um logar na bancada liberal da Antiga Assemblea Provincial, ao lado do fulgurante deputado Ludovice e do trovejante M. Kerdole. Mais tarde, na Camara Federal, fazendo parte de comissões de relevante importancia, exigindo da parte de seus componentes estudos acurados e profundos conhecimentos tecnicos. Por ultimo, na mais alta magistratura estadual, onde a morte o colheu, confirmando a sua rigidêz de carater, o seu equilibrio, a sua segurança nas decisões, e − mais admiravel para quem o conheceu de perto − revelando, aos 77 anos, a mesma lucidês de espirito de jovem politico, a mesma erudição e generalizados conhecimentos das ciencias, próprias de um estudioso moço!

Um dia, quando se escrever a historia politica de Minas Gerais, a figura de Olegario Maciel fornecerá motivos para os mais belos e mais extensos capítulos que um perfil de politico possa determinar!

Não pode haver progresso sem escola. Não pode haver civilização sem progresso. Por isso mesmo é que Patos progride e civiliza: porque teve a escola de um Antonio Dias, continuada e desenvolvida por um Olegario Maciel!

E feliz do povo que pode bemdizer as figuras proeminentes de seus antepassados. Uma sociedade sem tradições, sem símbolos, sem historia, é uma sociedade sujeita a ameaças de decomposição, sinão mesmo condenada à desagregação, á corrupção, pela ausencia de amor e respeito ao patriotismo único que o tempo não destroe!

Felizmente, Patos tem os seus brazões.

Rio, abril, 43.

(N.R. − Estampamos, hoje, a primeira e preciosa colaboração que, do Rio, nos manda um patense ilustre que se oculta sob o pseudônimo de Damião Jesícola. Espírito cintilante, inteligencia da maior projeção, principalmente nos meios educandários que forçosamente honra os nossos “brazões”. Dando inicio à sua colaboração “Folha de Patos” dela se envaidece e lhe manda as suas melhores expressões de agradecimento).

* Fonte: Texto publicado na edição de 09 de maio de 1943 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Foto: Trechos do texto original.

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