JOSÉ OLYMPIO BORGES

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Foi no aeroporto de Patos de Minas que conheci o Dr. José Olímpio Borges. Recordo-me como se fôsse hoje.

Tinha ido à estação aeroviária receber a minha mãe que chegara da Capital Mineira. Vi-o descer as escadas do avião, ao lado de sua distinta esposa que se fizera conhecida de minha progenitora durante a viagem.

Sim, estou a revê-lo com a alégria, o entusiasmo, o ímpeto, o ar de sonho vitorioso que sempre lhe iluminava a fisionomia. Antes, em Belo Horizonte já ouvira falar muito nele, mas, não sei porque, confundia-o com o seu não menos ilustre homônimo Dr. José Olímpio, médico. Depois é que dei pelo engano.

Em casa, minha mãe disse me: “tive a grata satisfação de ficar conhecendo o Dr. José Olímpio, de trato suave e de fidalgo temperamento”.

As linhas que escrevo foram provocadas pela leitura de um livro que me dera em Araxá, o ilustre amigo. Intitula-se “O Peregrino da América”.

Principesco presente, verdadeira raridade bibliográfica. Leio-o e releio-o muitas vezes. Foi comprado a um alfarrabista de São Paulo. Verdadeira peça de Museu. Antiquíssima. Mandei encaderna-lo e figura em lugar de honra em minha biblioteca. Como eu ia dizendo, conheci e me fiz amigo de tão ilustre advogado e homem de letras no aeroporto de Patos de Minas. Daí para cá procurava sempre um meio de encontrá-lo e de poder desfrutar-lhe a amérrissima palestra. No forum, após a sessão do júri ouvi-o dissertando, certa vez, com um seu ilustre companheiro de defesa sobre questões de História Pátria. O assunto era a escravatura no Brasil. O Dr. José Olímpio referindo-se a Dom Francisco Manoel de Melo, frisou: “O Brasil-Imperio era inferno dos negros, purgatório dos brancos e paraíso dos mulatos”. Não sei como e a conversa virou para a vida forense. Acham os todos curiosíssima a definição que êle deu de advogado: “Sujeito que fala bem para embrulhar o adversário”. Pari passou com a influência literária, êle se mostrava sempre um ausídico de vastos recursos e de uma eloquência surpreendente. Era um prazer ouvi-lo falar em público ou na tribuna. Nossas relações se estreitaram, ainda mais, no convívio forense e, sobretudo, nos fortuitos encontros de festas sociais, religiosas e assiduidade às livrarias.

Na convivência o Dr. José Olímpio sempre me proporcionava algumas agradáveis horas de bom humor e de distração espiritual.

Sem perdeu o que de fidalguia, era chistoso, gostava de contar deliciosas anedotas sertanejas de fazerem rir até não se poder mais. Vi-o, pela última vez, em Araxá, no Colombo Hotel, das Termas − Almoçamos juntos. Tomada uma fumegante sôpa de legumes e tendo almoçado lentamente conversamos por algum tempo sôbre coisas diversas. Nesses nossos cavacos literários, fortuitos, o dr. José Olímpio usava e, por vezes, abusava até do diálogo que êle fazia brilhar com o chiste de suas observações e respostas, De certa feita, ouvi do ilustre e saudoso morto o seguinte: “A incoerência é um dos desfeitos mais graves dos homens. Salomão costumava pedir a Deus que o fizesse sempre coerente”. Nas finas linhas de seu pensamento vislumbra-se por vezes, o grande letrado em coisas gregas e latinas.

Não é fácil esboçar em uma simples crônica jornalística o perfil de José Olímpio Borges, excelente coração, possuidor que era de grande cultura. Inteligência curiosa, fazia gôsto ve-lo como sabia ser homem de salão, sustentar fidalgamente uma palestra com uma elegante dama ou deputado, tratar-se com senhoritas, com doutores ou com gente letrada. Impecávelmente vestido, fino homem de letras, de uma nobreza ateniense, era para todos um amigo leal e um seguro conselheiro profissional para as duras horas da vida. Em sua luminosa carreira funcional era rude, franco e sincero diante da verdade.

Não tinha dobras nem sombras na alma. O nome e a lembrança de nosso homenageado, descendente de tradicional estirpe patense, prende-se à história de nossa Pátria, de nosso Estado e de toda essa região vasta do Alto Paranaíba. Amigo e admirador que fui, por longo tempo, do Dr. José Olímpio, seria orgulho, se não fosse gratidão, vaidade, se não fosse dever, dar aqui, pela imprensa, testemunho de sua vida. Bendito o nome e a memória, de José Olímpio Borges, a cuja recordação rendemos com muita sinceridade, êste modesto preito de saudades.

* Fonte: Texto de Padre Inácio Campos publicado com o título “Dr. José Olímpio Borges” na edição de 07 de abril de 1967 do jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Do texto publicado em 02/01/2014 com o título “Dr. José Olympio Borges − 1925”.

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