TEXTO: JORNAL O PATENSE (1950)
Compreendemos perfeitamente o esforço do govêrno estadual assegurando-nos um lugar de destaque entre as demais comunas privilegiadas com as sucessivas dotações de verbas – no que vem sempre imitado por gestos identicos pelo governo federal, e às vezes, até com superioridade de condições e supremacia de valor. O que, entretanto, não nos é dado compreender é o descaso mantido pelo proprio govêrno estadual para com os seus interesses, quando vem relegando persistentemente a planos secundarios a conserva de suas propriedades, ou quando vive a menosprezar pequenas fontes de renda, suceptiveis de aumento para cobrir suficientemente pequeninas falhas acarretadoras de grandes prejuizos.
Exemplificando o nosso asserto basta, para tanto, um balanço rapido sobre a decadencia e ruina de nosso imponente edificio do forum. Raras, rarissimas são as cidades do interior do Brasil – e isto para não nos referirmos somente ao nosso Estado – possuem um predio tão arquitetonico em suas linhas gerais, tão bem construido quão amplo e confortavel, podendo ainda dele acrescentarmos tão bem adredemente instalado para servir, na sua finalidade, ao povo. No entretanto, está o mesmo a exigir serios reparos, urgentes retoques e prementes reformas.
Inumeras goteiras têm concorrido não só para emprestar-lhe aquele estado de doloroso abandono, imprimindo-lhe aspecto de propriedade de viuva sem arrimo – como forçosamente hão concorrido para o apodrecimento dos forros e do assoalho. Nem se torna necessario lembrar os vidros quebrados e faltosos nas janelas e nem na sua umidade constante, tanto nas paredes internas como externas, proveniente das calhas perfuradas. Podemos acentuar porém – por se tornar necessario – o pessimo estado das instalações sanitarias e a perene escassez de agua potavel, por assim dizer, em todo o predio.
Tudo isso, a nosso ver, poderia ter sido remediado – e ainda poderá sê-lo – se desde o tempo em que o mesmo foi entregue aos serventuarios, houvesse o governo atinado com a idéia de locar aos cartorios os respectivos salões, ainda que a preços modicos e muito razoavelmente sem achegos às leis de inquilinato.
A idéia para muitos despertaria celeuma, de vez que o Estado adotou como praxe, mesmo na Capital, não exigir dos seus inquilinos o minimo aluguel. Sustentamos porem o nosso alvitre, pois nisso não haveria nada de mal, nenhuma exigencia inaceitavel ou contraproducente, mesmo porque o povo não ignora as rendas invejosas que são produzidas pelos cartorios.
De cinco em cinco anos, ou talvez em menor espaço de tempo, os alugueis recebidos dariam para cobrir as despesas de reforma, conserva e limpeza dos proprios estaduais, sem onus para os cofres publicos. E mais amiudadamente se procederia á capina do pateo e até mesmo da grama dos canteiros dos passeios que, às vezes, costumam invadir toda a frente da parte ladrilhada.
Não há, pois, nenhum inconveniente em nossa sugestão, e com ela o Estado lucraria, alem do que a medida poderia conter os comentarios vexatorios e que expõem clara e abertamente as condições precarias de suas finanças e o desdoiro capcioso com que são apontados os nossos dirigentes.
Não resta a menor duvida de que construir é bom, mas conservar o construido é melhor, e saber conservar é uma apologia esposada somente por aqueles que primam pela economia lucrativa e que não desconhecem o valor que esta encerra. E o Estado vem demonstrando que constroe, porem a esmo; que não sabe ser previdente para conservar o seu patrimonio, porque não usufruta de um direito tacito que lhe assiste evidenciando antes completa ignorancia de visão administrativa e rudimentares principios de economia pública.
* Fonte: Texto publicado com o título “A Conserva dos Predios Publicos” e subtítulo “Medidas que se Deveriam Tomar” na edição de 02 de abril de 1950 do jornal O Patense, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.
Foto: Da edição n.º 31 de 17 de maio de 1997 do jornal O Tablóide, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann, publicada em 15/08/2014 com o título “Fórum Olympio Borges em 1945”.