RITINHA, A SINCERA

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Foi muita alegria para os pais e dois irmãos quando a caçula Ritinha passou no Vestibular para Medicina. A família, moradora numa pequena propriedade rural a poucos quilômetros do Distrito de Pilar, penou para mantê-la numa faculdade em Patos de Minas e arcar com as despesas inerentes. Uma vez por mês ela ia visitá-los e assim os quatro e mais muitos amigos, parentes e moradores do Distrito puderam perceber que, com o passar do tempo, ela melhorava de vida. Encantados ficaram quando, no quarto ano de estudos, ela surgiu por lá num novíssimo carro importado.

Faltando seis meses para se formar, e já estagiando numa das clínicas mais tradicionais da Cidade, Ritinha comprou um apartamento num dos edifícios chiques da Avenida Getúlio Vargas. Foi então que, pela primeira vez, os pais e os dois irmãos resolveram visitá-la. Óbvio que ficaram encantados com a moradia da filha e do seu progresso individual antes mesmo da formatura. A mãe, com lágrimas nos olhos, por extrema felicidade e orgulho, comentou:

– Você foi batizada na Igreja Nossa Senhora do Pilar e protegida também por São João Batista. Desde novinha queria ser médica. Com muita luta, eu, seu pai e seus dois irmãos conseguimos arcar com os custos para vê-la formada. Graças, só faltam seis meses. Quando eu lembro que você veio para Patos de Minas com uma mão na frente e outra atrás e agora me deparo com esta sua excelente condição de vida não posso deixar de lhe perguntar como conseguiu tudo isso com o mirrado dinheiro que recebia mensalmente da gente.

A Ritinha deu um longo suspiro e abriu um largo sorriso:

– Ora, mãe, no primeiro ano foi realmente muito difícil, não sobrava dinheiro nem para um lanche noturno. Foi então que tive uma brilhante ideia e minha vida começou a melhorar mês a mês. Assim foi indo, me relacionei com as pessoas certas e eis aqui o resultado de meus esforços.

O pai, também muito emocionado com o sucesso da filha, mas sem deixar de coçar as costeletas velhas de guerra e sabedor do quanto é difícil ganhar dinheiro na roça, perguntou o que realmente ela fez para chegar à situação presente. A Ritinha deu outro longo suspiro, abriu outro largo sorriso e foi deveras sincera:

– Meu pai, minha mãe e meus dois irmãos, como eu disse, tive uma brilhante ideia e minha vida começou a melhorar mês a mês. O segredo desse meu sucesso é que tirei a mão da frente e igualmente a mão de trás.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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